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As reações a ‘A Complete Unkown’, o filme de James Mangold sobre os primeiros cinco anos artísticos de Bob Dylan, não têm cascado propriamente no filme, mas se muitos lhe dedicam rasgadíssimos elogios, muitos também o tratam com pouco mais do que indiferença, vê-se bem à laia de um concurso de talentos, dizem, uma espécie de Chuva de Estrelas apresentado por Catarina Furtado.
Pois bem, comecei mais alinhado com estes últimos, e progressivamente fui passando para o clube dos entusiastas do filme, A Complete Uknown pode não ser uma grande obra cinematográfica, pode não ser um filmaço, mas é um filme sobre a arte que me galvanizou por completo, quando o filme termina apetece-me seguir a mota de Dylan e ver muito mais do percurso que o prémio Nobel seguiu.
A arte é inspiração e trabalho, é emoção passada a alguém, e a par do talento e da criatividade, o principal motor da arte é a verdade do artista, se soar a fake não presta, e James Mangold mostra-nos um Dylan fiel a si mesmo, um Dylan pouco gostável e a marimbar-se para todos, até um sacanazinho egoísta, um Dylan no início pouco investido na política e no mundo que o rodeia, apenas investido na música que quer fazer, mesmo que pelo caminho vá perdendo alguns. Quando lhe acrescenta poesia e consciência política, então o artista catapulta-se para outra dimensão.
Timothée Chalamet é fulgurante no carisma Dylaniano que carrega, o homem esteve cinco anos a preparar-se para este filme, podem dizer à vontade que é apenas uma imitação, digam o que disserem, Chalamet incarna a personagem na perfeição, passamos mais de metade do filme a pensar, ok, és um gajo fatela mas eu gosto de ti na mesma como artista, este amor-repulsa que Chalamet provoca não é coisa pouca, é coisa muita – Thimothée Chalamet é o mais jovem ator desde James Dean a receber a segunda nomeação ao Óscar, ter vencido nos Screen Actor Guild Awards veio-lhe dar algumas esperanças, mas, sinceramente, por mais fenomenal que seja esta performance, não estarei a torcer por si na cerimónia dos Óscares.
Monica Barbaro, até agora desconhecida para mim, foi também nomeada para melhor atriz secundária no seu papel de Joan Baez, outra artista enorme totalmente comprometida na sua arte, e não fora Isabella Rossellini e estaria intrepidamente a torcer por si, absolutamente magnética e importantíssima no que foi Dylan nos seus primeiros anos, tu tens a tua arte, eu tenho a minha, mas aqueles momentos partilhados são de uma cumplicidade artística muito comovente.
E se Dylan ofereceu a sua música icónica Blowing With The Wind a Baez, na capa desse disco quem aparece é Suze Rotolo, ou melhor, Sylvie, a única personagem que tem o seu nome modificado no filme, talvez por ser a única que já morreu, talvez pelo apreço que Dylan tem por aquela que ficou conhecida como a sua namorada, com um papel breve mas incontornável no filme, e na vida talvez, a doçura e a consciência política, com uma interpretação longe dos prémios mas igualmente fortíssima de Elle Fanning.
Edward Norton, também ele nomeado, um cantor Folk muito respeitado no círculo do Gaslight Café e a quem Dylan no filme vira as costas, esquecendo o Folk e indo atrás das guitarras elétricas, terá sido assim na verdade? Não sei, não sabemos, não interessa.
E nós admiradores do cantor ainda nos consolamos com as 42 músicas que Chalamet e Barbaro cantam durante o filme – estou a brincar, não sei quantas foram, mas são muitas as canções que ouvimos, o tal Chuva de Estrelas para os críticos.
Tudo isto é pouco? Não, é muito.