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BURRO VELHO

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20
Mar25

Dos meus livros - Como Poeira Ao Vento, de Leonardo Padura

BURRO VELHO

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Demorei imenso tempo a ler este romance do cubano Leonardo Padura, Como Poeira Ao Vento, devo dizer que empastelei muito no início, os dramas da jovem Adela nova-iorquina apaixonada por tudo o que tenha a ver com Cuba não me conseguia prender a atenção, mas como não desisto facilmente de um livro insisti, insisti, e em boa hora insisti.

A narrativa acompanha a história de um grupo de amigos, o clã, ao longo de várias décadas, de 1990 aos dias de hoje, havendo ali uma trama ligeira de mistério e suspense que cumpre a sua função, a partir de certa altura cativa-nos na curiosidade de saber, ou confirmar, o (presumível) desenlace, mas este lado novelístico tem um propósito, guiar-nos por estas personagens e conhecermos um pouco melhor a realidade cubana, a miséria, a penúria que médicos e engenheiros têm de enfrentar para sobreviver, a desolação de quem vê os seus partir e as dores de quem vive no exílio, o sentimento de sermos estrangeiros e a necessidade de pertencermos a uma comunidade, os salvíficos laços de amizade, as amizades que nos salvam.

Para considerar um romancista como um dos meus escritores tenho como regra ter-me entusiasmado com três das suas obras, depois de Hereges e deste Como Poeira ao Vento, falta-me apenas um para Leonardo Padura ser também um dos meus escritores, estamos no bom caminho 😊.

 

19
Mar25

Da atualidade política - o fim da CPI das gémeas

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A CPI do caso das gémeas chega agora ao fim e concluiu três coisas, que a Casa Civil da Presidência da República teve uma intervenção especial, que o então secretário de Estado da Saúde pediu a marcação da primeira consulta, e que tudo começou com as diligências do filho doutor Nuno Rebelo de Sousa, cujas motivações não foram apuradas.

Claro que houve cunha e não devia ter havido, mas a meu ver tal nunca foi o problema, um reconhecimento e pedido de desculpa teriam sido suficientes, quem nunca tentou agilizar uma consulta, um tratamento ou uma informação quando a saúde de um familiar ou amigo está em causa, o problema foi a desfaçatez com que quiseram negar o óbvio e empurrar a culpa (para a secretária Carla Silva, no caso).

Marcelo e Sales, já para não falar do filho Doutor, saem muito mal na fotografia e saem por culpa própria, duvido que Sales alguma vez possa aspirar a regressar à política, e tudo isto deve ter provocado um grande abalo ao antes por-nós-todos-adorado Marcelo, até porque zangar-se com um filho, logo hoje que é Dia do Pai, não mata uma pessoa, mas deve andar lá perto.

 

14
Mar25

Dos filmes de que gostamos - O Romance de Jim, de Arnaud e Jean-Marie Larrieu

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O Romance de Jim, realizado pelos irmãos Arnaud e Jean-Marie Larrieu, é um melodrama familiar ao longo de 25 anos, um filme sobre a paternidade, a biológica e a afetiva, mas é também um filme do realismo, aquele que observa as vidas simples e triviais, o lado menos embonecado de quem vai trabalhar todos os dias para uma fábrica ou pastelaria, de quem vive longe das grandes cidades, no caso uma zona rural no Haut Jura, uma zona montanhosa perto da fronteira com a Suíça.

Não é só a história de Aymeric que se vê de repente a cuidar de um bebé que não é seu, o tal Jim que dá nome ao título, é sobretudo um filme sobre a bondade e as relações que as pessoas estabelecem entre si, afetos, e as pessoas não tem de ser más para fazerem mal às outras, às vezes os caminhos da vida é que não são fáceis e pelo meio todos fazemos asneiras.

A bondade e estoicidade do pai emprestado, interpretado pelo grande Karim Leklou (ganhou o César de melhor ator), vão perdurar nas nossas memórias.

Depois do frenesim dos Óscares, ir ao cinema e descobrir uma maravilha tão singela como este O Romance de Jim é uma felicidade, e o cinema francês nunca desilude.

 

10
Mar25

Da atualidade política - Pedro Nuno Santos e a moção de confiança

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Pedro Nuno Santos devia mandar a coerência às malvas e fazer um favor ao país, estou convencido de  que até mesmo a si próprio, não votando contra a moção de confiança e assim permitir que o Governo continue em funções.

É um facto que a queda do Governo vai paralisar o país até ao final do Verão, mas sendo eu a favor de que as legislaturas se cumpram até ao fim, também não acompanho quem demoniza as eleições, se as circunstâncias o justificarem, pois que seja.

Também não alinho no discurso contra as CPI, a sua banalização, a judicialização da política, o enxovalho da vida pessoal, não se investigam empresas privadas, isto e mais umas botas, era o que faltava, se há dúvidas no escrutínio e na transparência em matérias tão importantes, que se avance sem demoras, e há matéria mais importante que a crença absoluta na idoneidade de quem nos governa?

O pior se o país for já para eleições não é o país ficar paralisado, é a por muitos desejada normalização pelos votos do que possa ser incómodo, se o país elegeu é porque está tudo bem, dirão, e continuarmos assim a ter um primeiro-ministro com a sua credibilidade ferida de morte, se assim for nunca será levado a sério até ao dia em que deixe de ser um ativo e os seus pares o deixem cair.

Os bastidores da política por vezes são ínvios, e a prudência de quem se cala por vezes não é em favor dos interesses do país, por isso Pedro Nuno, deixa lá o Governo continuar mas venha lá essa CPI de que Montenegro foge como o diabo da cruz.

 

01
Mar25

Da festa dos Óscares - previsões e preferências

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Este ano a cerimónia de entrega dos Óscares, na próxima madrugada de domingo para segunda, promete, e seguramente as audiências vão aumentar.

Desde logo porque a colheita é excelente e não há claros favoritos, quase todas as categorias estão em aberto, ao contrário dos últimos anos em que tivemos de levar com os desinteressantes vencedores antecipados, Oppenheimer e Everything Everywhere All at Once, este ano vai ser torcer até à abertura do envelope.

Para aguçar o apetite temos o apresentador, Conan O’Brien, e também, porque não, a expetativa de alguns discursos, vão apenas celebrar os filmes ou vão misturar cinema com política? Creio que este ano será inevitável.

Para melhor filme, darei uns valentes saltos se ganhar o Ainda Estou Aqui, não sendo possível estou muito dividido entre Anora e O Brutalista, mas tendo que escolher, talvez Anora, que também é o meu palpite para quem vai ganhar. Além destes, apenas Conclave tem hipóteses credíveis. Dune e Wicked, a sério?

Se o favorito para realizador começa a ser o Sean Baker, para equilibrar torço então por Brady Corbet, é baralhar e escolher entre O Brutalista ou Anora. Quem faltou na corrida? Ramell Ross.

Os atores este ano são fortíssimos, se Fiennes e Chalamet são fenomenais (entre estes escolhia Fiennes pela subtileza e pela merecida consagração), mas, apesar da polémica com a IA quando fala em húngaro, este ano ninguém o Adrian Brody é insuperável. 

Nas atrizes, se a Demi Moore é a favorita, eu acho que vai haver surpresa e quem vai ganhar é a Mikey Madison, a nossa Nanda está a arrasar por Hollywood e tem algumas hipóteses, mas vai morrer na praia. Quem não quero que ganhe? Nenhuma, a não ser Madison ou Nanda. Quem devia estar nomeado e não está? Nicole Kidman e Angelina Jolie, sem qualquer dúvida, isto de serem mega estrelas não são só vantagens.

Nos atores secundários, só dá Kieran Kulkin, não venham dizer que é uma réplica da personagem de Succession, é só um prodígio, é o prémio mais previsível da noite (tão bom o Yuri Borisov).

Nas secundárias, ganha a Zoe Saldana, que está bem, mas vou torcer até ao fim pelos oito minutos de Isabella Rossellini, ou então por uma supresa chamada Monica Barbaro, Hollywood costuma gostar de surpreender nas atrizes secundárias.

Se no argumento adaptado a coisa é fácil, ganha Conclave, e não ganha mal apesar daquele final estapafúrdio - a torcer por Nickel Boys -, já no argumento original a coisa está renhida, deve ganhar Anora mas comigo muito indeciso entre O Ataque de 5 de Setembro e A Verdadeira Dor.

Por fim, melhor filme internacional? O Figo Sagrado é uma maravilha, mas a noite vai ser brasileira, que festa vai ser.

Perdedores da noite? Emilia Perez, que vai arrecadar 2 estatuetas, e o filme de Dylan que pode muito bem vir de mãos a abanar.

Voilá! É só uma festa, não mais do que isso.

 

27
Fev25

Da atualidade política - Senhor Primeiro-ministro, explica ou demite-se?

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A resposta à pergunta que o Burro deixou aqui há tão poucos dias chegou mais rápido do que pude imaginar, o futuro já chegou ao presente e o peito inchado de quem achava que tudo podia impunemente já se estatelou ao comprido, o seu característico sorriso escarninho já deve ter percebido que a sua vida se complicou, e de que maneira.

O simples facto de ter querido vender a empresa à esposa, só por si, indiciou de imediato de que algo de grave se passava, mas se o Ministério Público não começou logo na altura a investigar, espero bem que não deixe de fazer o seu trabalho agora que o jornal Expresso noticiou a avença mensal que Montenegro recebe de uns empresários amigos.

Isto é grave? Isto é gravíssimo, aguardemos todas as explicações, mas há um nome que a todos nos sobressalta de imediato, Manuel Pinho.

Que explicação poderá ter Montenegro? É difícil imaginar alguma que seja satisfatória, todos os cenários parecem fatais, não vejo como é consegue salvar a face mesmo que revele agora os clientes e que cesse efetivamente a atividade da empresa.

É assumido que a minha opinião sobre Montenegro sempre foi muito desfavorável, sempre entendi que não cumpria os requisitos mínimos para a função que ocupa, aquela sua prestação no debate da moção de censura, apesar dos elogios de algumas vozes empenhadas, foi muito triste, aquele número sobre a sua vida privada só demonstrou a sua estatura ética e intelectual, aquela que o faz acreditar que somos um país de tolos, e desejavelmente ainda vai ser capaz de nos surpreender com uma explicação credível, talvez me engane, espero que me engane, mas o Primeiro já deixou de ter condições para governar, e como certamente não se vai demitir, vamos então ter uns meses bem animados pela frente.

Trágico.

 

27
Fev25

Dos filmes que adoramos - Nickel Boys, de Ramell Ross

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Nickel Boys, primeira longa-metragem de Ramell Ross baseada no romance homónimo de Colson Whitehead, vencedor do Pulitzer, é o último dos nomeados a melhor filme a estrear em Portugal (apenas em streaming), bem a tempo da noite da cerimónia.

Na Flórida do início dos anos 60, ver a amizade crescer entre dois adolescentes afro-americanos num reformatório segregacionista, onde o expectável seria ver a raiva e a violência, é comovente, e Ramell Ross vai tecendo aos poucos uma trama em que vamos percebendo a injustiça e os horrores a que estes jovens estavam sujeitos, de mansinho e sem mostrar quase nada vamos desconfiando do mal absoluto que imperava naqueles anos, mas se eram tempos em que se assassinava nas ruas pessoas como Luther King ou Malcolm X, imagine-se as atrocidades escondidas nestes lugares de ninguém.

O rendilhado do argumento e da montagem é um primor, cena a cena vamos descobrindo a história e o filme, sendo o twist final isso mesmo, um final que nos apanha de surpresa, nesse final em que também nos chocamos com imagens reais a preto e branco, num retrato da América cruel e racista que se vangloriava da chegada à lua, uma América não muito distante daquela que hoje tanto nos assusta.

Chegou-se a pensar que Nickel Boys iria estar na linha da frente na temporada dos prémios, foram muitos os editores de publicações como o New York Times ou a New Yorker que o elegeram como o melhor filme do ano, mas Nickel Boys perdeu o momentum e arrecadou apenas duas nomeações, filme e argumento adaptado - não sendo impossível que venha a ganhar nesta última categoria -, mas nomeações para realização, atriz secundária (Aunjanue Ellis-Taylor é cintilante) e montagem também seriam muito bem entregues.

Nickel Boys é amizade, é dor, é poesia, e sim, é mesmo um dos filmes mais bonitos do ano.

Na Prime Video.

 

26
Fev25

Dos filmes de que gostamos - A Complete Unkown, de James Mangold

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As reações a ‘A Complete Unkown’, o filme de James Mangold sobre os primeiros cinco anos artísticos de Bob Dylan, não têm cascado propriamente no filme, mas se muitos lhe dedicam rasgadíssimos elogios, muitos também o tratam com pouco mais do que indiferença, vê-se bem à laia de um concurso de talentos, dizem, uma espécie de Chuva de Estrelas apresentado por Catarina Furtado.

Pois bem, comecei mais alinhado com estes últimos, e progressivamente fui passando para o clube dos entusiastas do filme, A Complete Uknown pode não ser uma grande obra cinematográfica, pode não ser um filmaço, mas é um filme sobre a arte que me galvanizou por completo, quando o filme termina apetece-me seguir a mota de Dylan e ver muito mais do percurso que o prémio Nobel seguiu.

A arte é inspiração e trabalho, é emoção passada a alguém, e a par do talento e da criatividade, o principal motor da arte é a verdade do artista, se soar a fake não presta, e James Mangold mostra-nos um Dylan fiel a si mesmo, um Dylan pouco gostável e a marimbar-se para todos, até um sacanazinho egoísta, um Dylan no início pouco investido na política e no mundo que o rodeia, apenas investido na música que quer fazer, mesmo que pelo caminho vá perdendo alguns. Quando lhe acrescenta poesia e consciência política, então o artista catapulta-se para outra dimensão.

Timothée Chalamet é fulgurante no carisma Dylaniano que carrega, o homem esteve cinco anos a preparar-se para este filme, podem dizer à vontade que é apenas uma imitação, digam o que disserem, Chalamet incarna a personagem na perfeição, passamos mais de metade do filme a pensar, ok, és um gajo fatela mas eu gosto de ti na mesma como artista, este amor-repulsa que Chalamet provoca não é coisa pouca, é coisa muita – Thimothée Chalamet é o mais jovem ator desde James Dean a receber a segunda nomeação ao Óscar, ter vencido nos Screen Actor Guild Awards veio-lhe dar algumas esperanças, mas, sinceramente, por mais fenomenal que seja esta performance, não estarei a torcer por si na cerimónia dos Óscares.

Monica Barbaro, até agora desconhecida para mim, foi também nomeada para melhor atriz secundária no seu papel de Joan Baez, outra artista enorme totalmente comprometida na sua arte, e não fora Isabella Rossellini e estaria intrepidamente a torcer por si, absolutamente magnética e importantíssima no que foi Dylan nos seus primeiros anos, tu tens a tua arte, eu tenho a minha, mas aqueles momentos partilhados são de uma cumplicidade artística muito comovente.

E se Dylan ofereceu a sua música icónica Blowing With The Wind a Baez, na capa desse disco quem aparece é Suze Rotolo, ou melhor, Sylvie, a única personagem que tem o seu nome modificado no filme, talvez por ser a única que já morreu, talvez pelo apreço que Dylan tem por aquela que ficou conhecida como a sua namorada, com um papel breve mas incontornável no filme, e na vida talvez, a doçura e a consciência política, com uma interpretação longe dos prémios mas igualmente fortíssima de Elle Fanning.

Edward Norton, também ele nomeado, um cantor Folk muito respeitado no círculo do Gaslight Café e a quem Dylan no filme vira as costas, esquecendo o Folk e indo atrás das guitarras elétricas, terá sido assim na verdade? Não sei, não sabemos, não interessa.

E nós admiradores do cantor ainda nos consolamos com as 42 músicas que Chalamet e Barbaro cantam durante o filme – estou a brincar, não sei quantas foram, mas são muitas as canções que ouvimos, o tal Chuva de Estrelas para os críticos.

Tudo isto é pouco? Não, é muito.

 

25
Fev25

Dos nossos artistas - António Casalinho

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Se Marcelino Sambé é um nome consagrado do ballet clássico, desde 2019 bailarino principal da Royall Ballet de Londres, uma das mais prestigiadas companhias do mundo, temos outro português a conquistar o panorama mundial, o talentosíssimo António Casalinho, 21 anos, foi recentemente promovido a bailarino principal da Bayerisch StaatsBallet, companhia sediada em Munique, e foi galardoado pela revista International Dance Magazine como bailarino do ano, destacando o seu percurso meteórico.

 

24
Fev25

Dos espetáculos de que gosto - Forsythe/McNicol/Balanchine

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O ballet neoclássico afasta-se do ballet clássico porque não pretende contar uma narrativa mas sim focar-se na dança, no movimento, nas linhas, no virtuosismo e expressividade do bailarino, mas assente na técnica clássica, muitas vezes em pontas, e por isso dançado por bailarinos com formação clássica.

A Companhia Nacional de Bailado apresenta-nos agora três peça, estreadas entre 1992 e 2024, dos coreógrafos William Forsythe (Workwithinwork), Andrew McNicol (Upstream, uma encomenda para a CNB) e George Balanchine (Stravinsky Violin Concert), esta última acompanhada pela Orquestra Sinfónica Portuguesa.

Não gostei muito da primeira, adorei a segunda e gostei da terceira, sempre um deleite ver dança.

 

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