Dos campeões - Benfica
25 jogadores, oito de raça negra e de onze nacionalidades diferentes, ontem fizeram a festa – viva a multiculturalidade e parabéns ao Benfica e aos benfiquistas!
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25 jogadores, oito de raça negra e de onze nacionalidades diferentes, ontem fizeram a festa – viva a multiculturalidade e parabéns ao Benfica e aos benfiquistas!
Marvão tem mil e um encantos, é terra encantada, e o restaurante Fago é mais um de muitos motivos que nos faz querer sempre voltar, é um restaurante de excelência.
Os outros restaurantes que encontramos dentro das muralhas têm vistas esplêndidas, o Fago tem uma única janela que dá para um muro, quem vai ao Fago vai unicamente pela experiência de saborear a comida e os vinhos que lhe são servidos, com a maior simpatia e atenção.
O menu é simples e o chef Diogo varia-o todos os dias em função dos produtos da época e do que se encontra no mercado, a aposta é em tudo o que é local e evitar o que vem de longe, o azeite, o pão, a manteiga aromatizada com a esteva da serra, a compota de figo, o borrego, a carne de porco preto de Arronches, as ervilhas, os ovos, o queijo, as cerejas de São Julião, o gelado caseiro de abóbora, e a ginjinha do Crato, minha Nossa Senhora, e eu que detestava ginjinha mas esta é de repetir várias vezes, pena ainda não se pescar bacalhau no rio Sever, mas quase só com produtos da Serra de São Mamede e do Alto Alentejo é uma festa estar ali à mesa – a carta de vinhos, também exclusiva dali com vinhos do Reguinga, do Vitor Claro, da Susana Esteban e o Dominó, tão elogiado no filme Viver Mal, é outro festival.
E onde tudo é simples e nada rococó, nada é sem requinte, o copo Costa Nova, o talher pesado e elegante, o guardanapo rosa velho num tecido de qualidade, o artesanato minimalista na parede conjugado com o candeeiro de design, tudo assente num chão artesanal, também do Alto Alentejo, que custou aos proprietários uns valentes pares de dias ali de rabo para o ar para deixar tudo num brilho.
Dizem os donos que não é um espaço a pensar nos turistas, é um espaço a pensar nos amantes da região, a pensar também nos outrora turistas mas que se apaixonaram e quiseram deixar de o ser, como o casal da mesa ao lado, a Karen e o Dick, ela Nova Iorquina, ele de Amsterdão mas há 45 anos nos States, há seis anos e meio quiseram vir para a Europa, Inglaterra não era opção por causa do Brexit, a Holanda também não, escolheram Lisboa, venderam o apartamento de Manhattan (mantêm uma casa a 100 milhas de Nova Iorque) e vieram para o Chiado, passam quatro meses por ano em Portugal, mas descobriram Marvão e apanharam o comboio até ao Entroncamento, depois até Portalegre e vieram, a viagem é linda, dizem, uma introdução de três horas ao que lhes espera, vieram e ficaram, não na quinta que queriam em Galegos, uns franceses ficaram com o negócio, mas descobriram outra ainda melhor em Alegrete, e agora vão de três em três semanas a Lisboa ver arte e conhecer restaurantes, mas o restaurante que mais gostam é o Fago, mas o que mais gostam mesmo é dos portugueses, é sem dúvida o povo mais simpático do mundo, ‘for sure, by far’, difícil é aprender português, a Karen já se desenrasca muito bem para se entender com os pedreiros das obras, para o Dick mais difícil, aprender línguas estrangeiras nos sessentas não é pera doce, a memória já falha, e a Karen até estava a ter uma noite má, na verdade até estava muito irritada, estava a dois dias de vender a empresa dela nos States e os compradores durante o jantar mandaram um email a fazer alguns pedidos adicionais, apetecia-lhe mandar parar tudo, beba mais duas ginjinhas do Crato e amanhã responde, sugerimos nós, that’s ok, disse-lhe o Dick, mas as ginjinhas beberam-se na mesma, really nice to meet you, vemo-nos em Julho, no Festival, já todos temos bilhetes comprados, não seja o Daniel parte da organização.
Como não desejar voltar e voltar?
Canijo fez dois filmes baseados numa ideia que tem lá no seu íntimo, que as mães atrofiam os filhos, sobretudo as filhas, e por sua vez estas atrofiam as suas filhas, netas das primeiras, mães eucalipto, que secam tudo à sua volta e deixam as filhas áridas, inseguras, ansiosas, filhas que não recebem amor e que depois nada têm para dar como mães, até podem tentar mas não sabem como.
Este retrato desencantado e agreste da maternidade não é fofo, é agressivo, trágico até, mas são quatro horas de grande mestria (para quem, como eu, os viu de seguida), de diálogos, vidas, conversas sempre cruzadas, onde no meio de tanta dureza ainda conseguimos nos rir com o absurdo da vida.
O filme é rodado na íntegra num hotel em Ofir, e só o hotel é só por si uma personagem, aquele ambiente tão anos 70, os quartos, a piscina, os balneários, o restaurante, a sala de tv, personagem muito valorizada pela luz do filme, sombria e negra no ‘Mal Viver’, solarenga no ‘Viver Mal’ (excelente trabalho da Leonor Teles), mas as personagens de pele e osso são insuperáveis, qualquer coisa, e se a Anabela Moreira é das minhas atrizes rainha, tal como Rita Blanco, apetecia-me destacar a Cleia Almeida de quem gosto imenso e acho muito subvalorizada, mas depois como não bater palmas à Leonor Silveira, ou à talvez melhor de todas Beatriz Batarda, todas umas megeras, todas chanfradas dos cornos, todas maravilhosas (tal como a Vera Barreto, Madalena Almeida, Filipa Areosa, Lia Carvalho, Carolina Amaral e Nuno Lopes).
Talvez o meu Canijo preferido continue a ser ‘Sangue do meu Sangue’, mas ‘Viver Mal’ e ‘Mal Viver’, premiado no Festival de Cinema de Berlim deste ano, são um prodigioso jogo de espelhos saltitando entre os dois filmes, absolutamente fantásticos.
E para quem anda distraído, ouçam com atenção o que a Piedade (Anabela Moreira) diz às hóspedes sobre os vinhos de Portalegre, mais concretamente da Serra de São Mamede, vinhos alentejanos de altitude, de um Alentejo diferente, depois não digam que não vos avisei.
Ainda digeria o documentário sobre Tina Turner que tinha acabado de ver (na HBO), e enquanto alinhavava um post sobre a grande rainha do rock&roll soube da sua morte, ainda estou incrédulo, que tamanha coincidência e que triste coincidência.
Para mim havia duas lendas vivas no mundo da música, agora Diana Ross fica sozinha.
Sempre gostei imenso da Tina como cantora, tenho várias das suas músicas nas minhas listas do Spotify, e da sua energia desenfreada, e estava mais ou menos a par da sua vida difícil, dos maus tratos do ex-marido Ike Turner, do amor tardio, do suicídio do filho, da hemodiálise, mas ao ver este documentário, realizado em 2019, a admiração que sentia por Tina Turner, que já era muita, atinge um nível ainda mais elevado, uma mulher verdadeiramente inspiradora para as outras mulheres, uma mulher negra (e tão bonita que era), que num determinado dia decidiu que não se ia deixar subjugar mais e foi embora, que nos idos e preconceituosos anos 70 conseguiu soltar-se dos abusos físicos, sexuais e psicológicos que sofria e foi à procura do seu sonho, encher estádios de futebol como os Rolling Stones, conhecendo o sucesso planetário aos 50 anos.
Descansa em Paz Miss Hot Legs. Simply the best!
Há poucos dias num jogo de futebol, o estádio do Mestalla, em Valência, entoou em coro durante vezes sem conta a ofensa ‘Mono’, que é como quem diz ‘macaco’, dirigindo-se ao futebolista brasileiro do Real Madrid Vinicius Júnior.
Se tudo isto nos deve causar revolta, não pode causar surpresa, sabemos bem que isto está sempre a acontecer, dentro e fora dos estádios, dentro e fora do futebol, e parece que em sociedade vivemos mais ou menos bem com isso, eu próprio já assisti a jogos no Mestalla e se tivesse assistido a esta vergonha era bem capaz de ter ficado sossegado no meu lugar sem nada fazer, a única diferença desta feita é que Vinicius, muito corajosamente, tem vindo a denunciar estas situações de racismo, o que parece estar a agigantar ainda mais o racismo contra si, ainda hoje enforcaram um macaco num poste em Madrid.
Esta capa do jornal desportivo ‘Marca’ diz tudo: NÃO BASTA NÃO SER RACISTA, É PRECISO SER ANTI-RACISTA.
No início de março deixava aqui nota da minha indignação com a sem vergonhice do ex-selecionador nacional, o sr. Engenheiro Fernando Santos, que arranjou um esquema fraudulento com a sua mulher para não pagar IRS devido pelos vencimentos pagos pela Federação (lesando o Estado em 4,5 milhões de euros, sim, 4,5 milhões de euros), sem vergonhice essa acompanhada pela Federação que além de ter fechado os olhos a esta vigarice (e este é uma forma muito eufemística de descrever o que a Federação fez), recusou ainda facultar à imprensa o respetivo contrato de trabalho, não acatando a instrução recebida pela CADA, autoridade com competência para o fazer.
Repito o que disse na altura, todos conhecemos e respeitamos o princípio da inocência, que diz que até condenação de um tribunal toda a gente tem de ser considerada como inocente, mas não há um único direito universal que seja um direito absoluto, nalguns casos nem o direito à vida o é, e perante os factos inegáveis que vieram a lume e dada a natureza da função que este senhor desempenhava, ser o selecionar duma equipa nacional que deve representar todos os portugueses, o senhor engenheiro devia ter sido destituído de imediato e com a sua reputação manchada na praça pública, alegadamente o engenheiro tinha gamado 4,5 milhões de euros aos portugueses.
Pois bem, o Tribunal Arbitral Administrativo e Fiscal de Sintra veio esta semana obrigar a Federação a divulgar os contratos assinados com o engenheiro (naturalmente que como pessoa de bem que já provou ser a Federação vai recorrer a uma instância superior), e o Tribunal Central chumbou o recurso apresentado pelo engenheiro para não ter de devolver os 4,5 milhões de euros que arrecadou ilegalmente na sua conta bancária (naturalmente também que como pessoa de bem que já provou ser o engenheiro irá provavelmente recorrer a uma instância superior).
Mas tão ou mais gritante que estas patifarias de quem tenta sempre enganar o outro, sendo que neste caso o outro somos nós todos, é a complacência de todos nós com situações como estas, como é possível que quando se soube destes casos nenhum tumulto ou inquietação tenha exigido a saída de cena destas personagens? Por um simples e triste motivo, porque muitos dos portugueses não achou nada disto censurável porque só não foge aos impostos quem não pode, ele teve foi azar em ser apanhado.
Um dos meus filmes favoritos de 2022, ALMA VIVA, da luso-francesa Cristèle Alves Meira, arrecadou esta noite seis prémios Sophia, da Academia Portuguesa de Cinema, nomeadamente o de melhor filme, argumento original, atrizes e fotografia.
Recupero aqui o que na altura escrevi sobre o filme.
Nunca vivi na aldeia mas venho e sou da aldeia, e apesar de longe deste interior transmontano reconheço tudo o que se passa neste Alma Viva, a aspereza dos campos, o linguajar, o asneiredo, as crendices e as mézinhas, as crianças no mundo dos adultos, as casas pobres e descuidadas, as cozinhas, os anexos e os galinheiros, os enterros e o esperar dos mortos que os filhos chegassem de fora, os emigrantes que vinham a falar françoguês nos seus bons carros com alegria na chegada e tristeza na partida, tudo isto que é estranho à cidade e aos da cidade é familiar a quem tem raízes na província, por isso, percebo que haja quem entenda que este filme não tem grande história, para mim respira vida e Portugalidade, com uma Ana Padrão fulgurante (os restantes atores, maioritariamente, amadores super convincentes). De alma cheia.
Lavre à volta das matas e limpe o melhor possível para evitar incêndios. Tratar e regar os batatais. Enxertar damasqueiros, amendoeiras, cidreiras e larangeiras.
Na horta: (no crescente) em local definitivo, semear e plantar abóboras, agrião, alface, beterraba, brócolos, cenoura, couve, espinafres, feijão, melancia, melão, etc. Colher alcachofras, espargos, ervilhas, fava, cebola verde, plantar tomate e tratar o já plantado com caldas cúpricas. Os batatais devem ser regados e tratados com as caldas.
No jardim: semear cravos, mangericos, trepadeiras e plantas anuais. Colher flores para semente.
Animais: no crescente deve castrar-se o gado, tosquiar as ovelhas, procria de cabras e coelhos.
Ganda pinta!
José Condessa está em altas com as luzes da ribalta que está a conhecer em Cannes, onde dizem que se aguenta muito bem na nova curta metragem de Pedro Almodôvar, um western gay de 31 minutos com Ethan Hawke e Pedro Pascal, em que se canta o ‘Estranho forma de vida’ de Amália Rodrigues e se vestem trapinhos Saint Laurent, tendo arrancado uma mega ovação à audiência e entusiasmado a crítica.
Nunca vi nenhum trabalho de Condessa mas confesso que fico curioso, enquanto não nos chega o Almodôvar vou certamente espreitar a série que acaba de estrear na Netflix, Rabo de Peixe.
Parabéns.
Há muitos anos a esta parte desinteressei-me pelo futebol, não por aquele argumento estafado de que são apenas 22 fulanos a correr atrás de uma bola (este argumento bacoco faz ricochete em quase tudo, é como dizer que um Picasso é apenas um monte de tinta), mas pela podridão e clubite aguda de que o país padece (não somos únicos, descansem).
Mas quando apanho pela frente um jogo como o Manchester City vs Real Madrid, para as meias-finais da Champions League, fico preso ao écran, que espetáculo, ainda por cima com o nosso Bernardo Silva a regalar-nos com uma exibição (mais uma) fantástica.
Pelo que joga, pelo que faz jogar ou deixa jogar, pela atitude em campo e, ao que parece, fora dele, pela simplicidade e humildade: Bravo!
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