Das pessoas que respeito - Ursula Von der Leyen
Tenho gravado na memória a primeira parada militar de Ursula Von der Leyen enquanto ministra da defesa alemã, ali algures por 2013 – já não era uma novata na cena política mas estar ali a liderar as tropas, com o seu jeito afável e feminino, era sem dúvida um tremendo salto civilizacional que Angela Merkel, ao convidá-la, e a própria Ursula Von der Leyen ao aceitar o cargo, nos estavam a conceder a todos.
Se Merkel é a minha referência política internacional (ainda?) no ativo – bem sei, como esquecer como nos apertou o cinto a todos, como esmifrou a Grécia ou como não soube avaliar a ameaça Putin -, quando impulsionou a sua delfim e protégé Ursula Von Der Leyen para a europa a fasquia das expetativas foi deixada elevada.
Até ao momento não as terá superado e não está isenta de polémicas, a falta da transparência nas negociações com as farmacêuticas no pico do Covid (sem prejuízo do escrutínio e da ética, na altura queríamos um líder que cumprisse todos os protocolos ou que arregaçasse as mangas para nos arranjar vacinas?), a brandura com os arrepios democráticos na Hungria e Polónia (mas teve coragem suficiente para não assinar os cheques do PRR), ou a suposta forma muito centrada em si como gosta de tomar decisões e de as comunicar, são apenas alguns exemplos, não deixa de ser controversa, mas caramba, a senhora Von der Leyen apanhou pela frente a pandemia e a invasão da Ucrânia, e tem inequivocamente sabido ser líder duma europa, a nossa europa, que perdeu irremediavelmente força e centralidade no xadrez político mundial mas que continua unida a defender os valores que (quase) todos acreditamos e muito gostaríamos de preservar.
Acredito que esteja mais preocupada com o seu trabalho do que com a causa feminista, da qual não me parece particularmente ativista, nem me surpreenderá se deixar as feministas em nervos quando faz opções de carreira que esperávamos mais provavelmente serem tomadas por homens, como só ver a família aos fins-de-semana e dormir num quartinho anexo lá no Berlaymont (não será isto também uma reivindicação muito feminista? Julgo que sim), mas teve um pequeno gesto que a mim me deixou bem impressionado: numa visita de Estado à Turquia os presidentes Erdogan e Charles Michel deixaram-na sentada num sofázinho lateral, como institucionalmente a situação não se justificava só pode ter sito por um machismo troglodita que o presidente do Conselho não soube, ou não quis, evitar - Von der Leyen esteve muito bem ao mostrar o seu desagrado e protesto, e é nestes pequenos petits riens que um líder se revela.
Ah, e não resisto à frase da sua biógrafa, que sendo divertida também não deixa de ser elucidativa: “é talvez a única política que tem mais filhos do que blazers”.
Na parte que me toca, obrigado por representar assim a europa.