Das opções políticas - Nómadas Digitais
Primeiro foram os turistas, depois os reformados franceses e belgas com as borlas fiscais, e agora os nómadas digitais, noticia o Expresso que os Americanos estão a invadir Portugal à custa do bom tempo e dos preços baixos para o standard norte-americano.
É inegável o salto civilizacional que esta gente vinda de fora nos trouxe quando começaram a chegar há uns vinte anos atrás, mais coisa menos coisa, primeiro a Lisboa, depois paulatinamente a todo o país: abriram-nos mundo, conhecemos outras formas de viver, tornámo-nos mais abertos e progressistas, menos preconceituosos, mais tolerantes, e moeda de troca começámos nós também a querer ir lá fora.
Enche-te o coração saber que na tua freguesia estão inscritas pessoas de 98 nacionalidades diferentes e que todas coabitam em harmonia.
So far so good. E então?
Acontece que a fatura a pagar é elevada, inevitavelmente, e se nos concentrarmos só no problema das casas, com estes californianos e afins a chutarem o preço do metro quadrado para lá da exorbitância, pressionando os velhos inquilinos a irem de frosques para a santa terrinha, onde nunca tinham verdadeiramente vivido, e os portugueses novos moradores a ficarem à porta da cidade, obriga-nos a questionar: o balanço é positivo?
Ah, mas é bom para o prestígio do país coiso e tal, esqueçam. O nosso destino está mais do que implantando, Lisboa é das capitais internacionais mais apetecíveis, o Porto farta-se de ganhar prémios de melhor city break na europa, o Algarve das massas sempre em alta, e o turismo de qualidade das nossas regiões não tem mãos a medir, o nosso orgulho de sermos um destino de excelência já está em alta há muito tempo, e queremos obviamente que assim continue, note-se.
Mas se o que traz estas pessoas a Portugal é a nossa história, o nosso clima, as cidades, as praias e os preços baixos, acredito eu que a alma das pessoas que já andam por cá há mais tempo também tenha algum encanto para quem vem de fora, a nossa famosa simpatia, mas qualquer dia arriscam-se a chegar cá e não encontrarem portugueses - referindo-me agora em relação a Lisboa, experimentem andar na rua com os ouvidos à escuta e escutem quantas vezes alguém se cruza convosco a falar português, uma minoria.
O balanço é difícil, as contas do deve e haver não são fáceis de fazer, queremos continuar de portas abertas e a trazer pessoas de fora, venham, mas faz sentido por exemplo os benefícios fiscais aos nómadas digitais ou isentar de IRS os reformados gauleses? Faz sentido potenciar ainda mais os lucros das imobiliárias e os cofres do estado em detrimento dos direitos dos residentes mais vulneráveis?