Dos meus filmes - Légua
Pelo amor da santa, procurem uma sala de cinema (estreou em 12 cidades) e vão rapidamente ver LÉGUA, da dupla de realizadores Filipa Reis e João Miller Guerra.
Nesta história de três gerações de mulheres do norte de Portugal, de mulheres fortes que sabem decidir por si, inspirada em pessoas e lugares reais, precisamente em Légua, a meio do caminho entre o Marco de Canavezes e Amarante, cruzam-se muitas histórias e muitas camadas, histórias de cuidar, de abnegação, da forma muito honrada de ser e sentir das gentes nortenhas, da dignidade do trabalho, sempre histórias de amor.
É um filme de solidariedade e camaradagem, de respeitar o vagar da natureza e o tempo da vida, é um filme de pureza, onde as coisas são simples, são o que são, sem mágoas e revoltas, com alegria até, mas sempre com uma tristeza entranhada, funda, mas daquela tristeza que não nos consome.
Légua também é um finíssimo retrato sociológico, duma naturalidade, dum respeito imenso por aquelas pessoas – os atores são praticamente todos não profissionais, são pessoas dali -, que coisa boa vê-los a assentar cimento, a encher a carrinha de bacalhau e azeite para voltarem a França, ou, naquela que é talvez a minha cena preferida, o almoço de aniversário naquela cave por rebocar ao pé da garrafeira, não descurando uma forte mensagem política, que a sociedade tem de cuidar de quem cuida, do cuidador informal.
Ah, tenho de falar do sotaque e do jeito de falar, que vem de dentro, que encantamento ouvir frases como ‘então Milinha, a Lu beio do Marco prá pôr bonita’.
Sobre a mãe Carla Maciel falarei depois, deixem-me elogiar a jovem estudante de teatro, que faz de filha, Vitória Nogueira da Silva, e sobretudo Fátima Soares, que interpreta a personagem idosa, uma senhora que frequentava umas aulas de teatro na Universidade Sénior do Marco e que depois de passar por uns castings nos entrega esta Milinha, uau, como é possível minha nossa senhora?
No genérico final ouvimos Amor e Água Fresca da nossa saudosa Dina e nem um cabelo se mexe entre a assistência, assim que termina a canção (a meio do genérico) irrompe uma enorme salva de palmas de alegria e comoção pelo filme que todos tínhamos acabado de ver, e da minha parte também de homenagem à Dina. Foi bonito.