Dos espetáculos de que gosto - Gust9723
Para mim a dança é das artes mais livres à tua imaginação e aos teus sentidos, sobretudo num espetáculo de dança contemporânea não tens de entender tudo, se conseguires usufruir de coisas como o movimento, a energia, o som, o espaço, se isso te trouxer prazer sem teres de estar a querer interpretar e descodificar tudo a todo o momento, então está perfeito.
Em Gust9723, do coreógrafo Francisco Camacho, vemos corpos à deriva de rajadas de vento (gust, em inglês), vemos a catástrofe e o caos a ditar o movimento dos sobreviventes, vemos a morte a pairar e a vontade de se lhe escapar, não vemos erotismo, vemos sobrevivência.
Há um outro aspeto muito bonito nesta obra, que foi dançada pela primeira vez em 1997, que é vermos o envelhecer dos nossos corpos e não nos esquecermos que estes vão se adaptando mas não temos de desistir das coisas de que gostamos: no cast de hoje encontramos seis dançarinos que estiveram em palco na peça original (Begoña Méndez, Carlota Lagido, Filipa Francisco, Marta Coutinho, Miguel Pereira e Rolando San Martín), com nove novos e jovens intérpretes, formando um corpo de baile uníssono e muito coeso, não resistindo a destacar uma bailarina de quem não consegui desviar o olhar, Sofia Kafol.
Gostei muito, no CCB.