Das peças de teatro de que eu gosto - Um Homem Inofensivo
‘Um Homem Inofensivo’ é sobre um encontro fortuito e ambiguamente mal explicado entre dois homens que são o seu oposto, um gosta do silêncio e vive com o peso de um trauma, o outro gosta de música, é desencantado, vive bem com as suas falhas, é invejoso e vingativo, e tem sempre um revólver consigo, é uma peça sobre dois homens que se encontram na solidão urbana, a da vida apressada das cidades, e sobre a tensão que entre eles se cria, tensão que por vezes se transforma em atração e logo a seguir em tensão outra vez, sobre dois homens sós que conseguem encontrar empatia nas suas diferenças.
Quando vemos uma peça não temos de perceber tudo, não precisamos que nos expliquem tudo, basta fruir o momento como aquele que no final vemos Renato a dançar sozinho ao som de David Bowie no seu apartamento, sem sabermos o que lhe vai acontecer a seguir, e neste texto somos deixados na dúvida permanentemente, mais do que naquilo que é dito encontramos estranheza naquilo que não nos é dito, no que temos de intuir, no que pode acontecer a qualquer momento quando duas pessoas sozinhas se encontram inesperadamente, quando duas pessoas se conseguem aproximar entre si quando aparentemente tudo as separa.
O texto foi escrito por Luís António Coelho, vencedor do Grande Prémio do Teatro Português, encenado por Álvaro Correia e interpretado por dois excelentes atores que eu nunca tinha visto trabalhar, Filipe Vargas e Renato Godinho.
Em cena no Teatro Aberto.