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BURRO VELHO

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11
Abr24

Das lições de história - o sono comunitário

BURRO VELHO

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A BBC, com uma longa reportagem chamada ‘The lost ancient practice of communal sleep’, dá-nos uma lição de história sobre hábitos desde tempos muito idos em que as pessoas dormiam de forma comunitária, ou seja, juntas, mesmo quando eram estranhas entre si.

Os historiadores conseguem recuar 77.000 anos, com provas recolhidas em grutas na África do Sul, e relatam múltiplas evidências até ao século XIX, com alguns leitos de famosos partilhados e as virtudes de se partilharem lençóis e cobertores, como a aliança que durou algum tempo entre Inglaterra e França pela amizade estabelecida, em 1187, entre Ricardo Coração de Leão e Filipe II, camas essas que começaram a ser partilhadas enquanto ambos os países estavam em guerra, basicamente durante o dia davam ordem aos seus generais para matarem em barda, e à noite recolhiam à mesma tenda.

Vários historiadores, que leram manuscritos, diários, de gente famosa e desconhecida, viram pinturas, esculturas, fósseis, estão certos que durante milhares de anos as pessoas dormiam, naturalmente, juntas, movidas por princípios nobres e sem sombra de pecado, e sem nada ter a ver com a pobreza e miséria de então – as pessoas não dormiam juntas por as camas e os cobertores serem escassos, mas sim porque dessa forma podiam melhor socializar, ao deitarem-se juntas podiam assim ficar a conversar até altas horas de madrugada, o que se entende melhor à luz duma época onde nem sequer havia eletricidade.

Este hábito ancestral terá atravessado transversalmente todas as classes sociais, desde o pobre caixeiro-viajante que chegava a uma estalagem de aldeia até a chefes de estado como os pais fundadores dos Estados Unidos, Benjamin Franklin e John Adams, e tudo porque a malta queria apenas conversar, qual o mal?

A bem da verdade histórica também nos alertam que nem tudo eram rosas nessas camas, apesar duma etiqueta social que sempre vigorou, como não falar num tom de voz elevado, o communal sleep trazia em si mesmo alguns riscos sanitários, o perigo de propagar doenças, pulgas e percevejos devido à falta de higiene, ou riscos acrescidos de crimes, assassinatos ou abusos sexuais, daí a hierarquia já então respeitada quando se abria a cama a estranhos, na ponta ficava a filha mais velha, e assim sucessivamente até à mais nova, depois a mãe, o pai, o filho mais novo, e assim sucessivamente até ao filho mais velho, e então finalmente vinham os desconhecidos, aqueles a quem se abria a cama para melhor se socializar, não por serem pobres ou promíscuos.

Por mim não vejo mal algum neste hábito ancestral há muito perdido, mesmo que aquelas cabeças fossem comandadas por pensamentos impuros, agora admito que tenho dificuldade em comprar esta ideia tão virtuosa que os historiadores da BBC me quiseram vender, e que os homens dos tempos modernos, que é como quem diz desde meados do século XIX, não souberam preservar – eu cá dou-me por feliz por viver numa altura que podemos dormir sozinhos ou poder escolher a quem levantamos a ponta do lençol, para socializar ou o que nos der na real gana.

 

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