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BURRO VELHO

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30
Ago24

Dos filmes de que gostamos - A Linha, de Ursula Meier

BURRO VELHO

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Ficamos logo atordoados com o início, não percebemos bem o que estamos a ver com tanta pancadaria encenada de forma tão teatral, começando-se logo a seguir a montar o puzzle, uma família disfuncional onde o ódio e o amor entre uma mãe e filha vacilam e alternam a cada instante, eu odeio-te mas não vivo sem o teu abraço, mas de facto entre pais e filhos não há linhas vermelhas que possam ser ultrapassadas, o amor umbilical permanece sempre lá.

Duas das irmãs são personagens tão complexas quanto estranhas e cativantes, muito convincentes, mas é a alegria desajustada, frágil e disparata da mãe, brilhante Valeria Bruni Tedeschi, que nos prende a cada cena deste insólito filme, A LINHA (La Ligne), da francesa Ursula Meier.

 

29
Ago24

Dos documentários que vejo - Elisabeth Taylor

BURRO VELHO

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Ainda na senda das grandes atrizes de Hollywood, que atingiram a apoteose e depois saíram dos holofotes, Elisabeth Taylor foi das últimas divas saída dos grandes estúdios, dona de uns incontornáveis olhos azuis violeta e uma das estrelas mais glamourosas e extravagantes com os seus 7 casamentos, a eterna Lassie ou Cleópatra para todos nós, para mim a inesquecível Martha naquele vendaval que é Quem Tem Medo de Virgínia Woolf, filme com o qual ganhou o seu segundo Óscar, e a propósito de algumas gravações recentemente descobertas, temos agora este documentário ELISABETH TAYLOR - THE LOST TAPES, diretamente pela voz da própria.

Instável, caprichosa, para muitos galdéria, whore, e estou a citar assim em inglês Elisabeth Taylor para não ser tão agressivo, excessiva, viciada, cheia de predicados pouco simpáticos, e ainda assim transbordante na sua aura de diva da era dourada de Hollywood, e para quem se fascina com este mundo do cinema este folhetim novelístico é imperdível.

Na Max.

 

28
Ago24

Dos documentários que vejo - Faye Dunaway

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Belíssimo documentário sobre Faye Dunaway, a lenda viva dos anos 60 e 70, sobre quem foi no passado e sobre quem é hoje, sim, a seguir ao auge vem quase sempre a sombra, e há muito que Faye perdeu as luzes da ribalta.

Mal-afamada (e mal-amada) por ser volátil, difícil e temperamental – Bette Davis acusou-a sem papas na língua de ser a pior pessoa de Hollywood -, mas absolutamente icónica e dona de um talento desmedido em filmes como Bonnie & Clyde, Chinatown ou Network.

O realizador, Laurent Bouzereau, com o seu consentimento, não procura suavizar a sua personalidade, complicada, irascível, alcoólica, mãe negligente, adúltera no seu romance com Marcello Mastroianni, não a desculpa com o excesso de trabalho, depressões ou com uma bipolaridade descoberta tardiamente para nos despertar alguma empatia, nada disso, mas também não deixa de nos questionar se o seu mau-feitio mereceria tanto alarido se Faye fosse um dos atores consagrados do seu tempo, será que sim?

Mais ainda do que rever os seus filmes, fiquei com imensa vontade de ver as fotos que foi fazendo na sua carreira com os melhores fotógrafos atrás de si, Faye tinha um carisma e um magnetismo com a câmara insuperável.

Na Max.

 

27
Ago24

Das atrocidades no mundo - as mulheres e os talibãs

BURRO VELHO

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O regime talibã no Afeganistão acabou de aprovar uma lei, para combater o vício, que proíbe que se ouça a voz das mulheres em público, além de mostrarem a pele e de dirigirem o olhar para qualquer homem que não seja seu familiar, estão igualmente proibidas de falar, sendo que na sua própria casa não podem nem cantar nem falar alto, isto é uma calamidade, uma tragédia inimaginável – nem sei o que diga, que as nossas melhores energias ou orações, consoante o caso, vão todas para estas mulheres.

 

24
Ago24

Da atualidade política - as boutades de Hugo Soares

BURRO VELHO

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Hugo Soares disse ao jornal Expresso que tem dúvidas se votaria em Donald Trump ou em Kamala Harris, se está com tantas dúvidas se calhar é porque lá no fundo sabe que votaria em Trump….

Perdoai-o Senhor, que não sabe o que diz…

Ai é verdade, este senhor tem responsabilidades políticas no partido que nos governa, livrai-nos do mal Senhor, livrai-nos do mal porque este senhor também manda no país - que o PSD não queira fazer o seu endorsement a nenhum dos candidatos, eu até consigo compreender, agora esta declaração é estarrecedora.

 

23
Ago24

Dos filmes que amamos - All of Us Strangers, de Andrew Haigh

BURRO VELHO

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ALL OF US STRANGERS (Desconhecidos), de Andrew Haigh, é um drama intimista e melancólico com ares de surrealismo, misterioso e místico, com fantasmas e twists surpreendentes no final, é sobre o luto e a solidão, sobre a aceitação e o amor, sempre sobre o amor, sobre quem quer ser abraçado pelos pais que já não tem, sobre as feridas por sarar com os nossos pais e o desejo que nos vejam como adultos, é sobre as angústias e os traumas de quem precisa de ser acarinhado e compreendido por aqueles que mais ama e que não vão voltar, é sobre aquilo que somos sem as pessoas que mais amamos neste mundo, e não, não é um filme LGBTQ, apesar de os dois protagonistas serem homossexuais a procurarem afastar os vampiros da sua porta, mas ALL OF US STRANGERS é um filme universal, é um triste, comovente e lindíssimo filme sobre a reconciliação, sobre a forma como os fantasmas nos afetam e condicionam.

Ouvimos constantemente os versos de The Power of Love dos Frankie Goes to Hollywood, nunca esta música teve tanto impacto em nós, apetece ouvir em repeat, porque o filme recua até 1986, quando Adam tem apenas 12 anos, mais ou menos quando eu próprio também tinha 12 anos, numa altura que os pais não se relacionavam com os filhos como o fazem nos dias de hoje, numa altura que muitas vezes os pais não sabiam lidar com os filhos, quando muitas vezes não era a morte que os separava mas sim a falta de compreensão, quando o bullying ainda não se chamava bullying - talvez por ter vivido esses dias e por já não ter todos que amo comigo, talvez por isso ALL OF US tenha ressoado tão forte dentro de mim.

Claire Foy e Jamie Bell são excelentes enquanto jovens e incapazes pais (são mais jovens que o seu filho) também à procura da sua redenção, Paul Mescal na sua vulnerabilidade suplicante confirma-se cada vez mais como um dos meus atores favoritos da sua geração, e Andrew Scott tem talvez a melhor interpretação dos últimos anos no cinema, tal como ALL OF US STRANGERS é um dos melhores filmes a ser vistos em 2024 (o filme é de 2023 mas estranhamente não foi estreado nas salas de cinema, talvez por ter personagens gay, será?).

No canal Disney+.

 

22
Ago24

Dos meus livros - O Quarto de Giovanni, de James Baldwin

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O QUARTO DE GIOVANNI, um clássico de um dos principais escritores e ativistas norte-americano do século XX, James Baldwin, desenrola-se em Paris dos anos 50, com o expatriado David (tal como o próprio Baldwin) a envolver as outras duas personagens de um triângulo amoroso, Giovanni e Hella, na sua luta interna de descoberta e aceitação da sua identidade sexual, procurando não defraudar as expetativas que o seu pai e a sociedade têm sobre si, e não quebrar as suas próprias regras que algures concebeu como fundamentais para ser feliz e digno.

A escrita de Baldwin é melancólica e delicada, fazendo-nos voltar algumas vezes atrás para apreciar uma ou outra frase, mas arrasta-nos consigo para a vulnerabilidade destas personagens que se destroem pela força do amor, recordando-nos o autor que “não há muitas pessoas que tenham morrido de amor. Mas multidões pereceram, e estão a perecer a cada hora - e nos lugares mais estranhos! - por falta dele”.

Sempre o Amor. O nosso pelos outros. O dos outros por nós. E o por nós próprios.

 

20
Ago24

Da tragédia da Palestina e do milagre do cinema - festival Periferias e Bye Bye Tibériade

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O festival de cinema de Marvão – PERIFERIAS – é um evento com várias dimensões, arte, direitos humanos e ecologia, mas é sobretudo uma montra de filmes independentes que possibilita às gentes da raia ver filmes que normalmente não lhes estão acessíveis, procurando assim trazer públicos novos para o cinema e sendo uma fonte de cultura para quem vive e visita esse paraíso que são as terras da Serra de São Mamede.

Os filmes são projetados normalmente ao ar-livre e sempre em sítios muito especiais, como pátios de castelos, estações de comboios, lagares de azeite, cidades romanas ou praças públicas, localizados ou no concelho de Marvão ou da cidade vizinha do outro lado da fronteira, Valência de Alcântara.

Um dos filmes exibidos foi BYE BYE TIBERÍADE, da jovem realizadora francesa Lina Soualem, que quis oferecer à sua mãe este documentário, Hiam Abbass, atriz franco-palestiniana consagrada e conhecida de todos, por exemplo da série Succession.

O filme acompanha quatro gerações de mulheres e recua até 1948, altura da fundação do estado de Israel e da expulsão dos bisavós da realizadora da sua casa, quando a sua aldeia, junto do lago Tiberíades, foi destruída pelos soldados, sendo que nessa fuga desesperada uma das filhas, tia-avó da realizadora, acaba como refugiada na Síria, impossibilitada para sempre de se juntar ao resto da família devido ao fecho das fronteiras.

Ao testemunharmos a história das quatro gerações desta família, uma família que não se deixa abater mas que tem as suas próprias convulsões internas, quando Hiam Abass se começa a sentir atrofiada num espaço tão fechado e resolve partir acentua ainda mais o drama das separações forçadas e o das fronteiras impostas pelo invasor, sendo comovente não só a reunião da família ao fim de tantos anos (em 2018), como ver os espaços das suas infâncias engolidos pelos colonatos (Deir Hanna) e controlados pelas tropas israelitas.

Não sendo um filme político, a realizadora rejeitou fazer dele um panfleto antiguerra, mas BYE BYE TIBERÍADE tem tanto de amor às quatro gerações de mulheres desta família, como tem de mensagem política, ao vê-lo talvez possamos compreender um pouco melhor o drama que as famílias palestinianas estão a viver, aproximando-nos um pouco mais dos seus corações, tornando-nos um pouco mais compassivos, as crianças de carne-e-osso que vemos inocentemente a brincar podem ser aquelas que agora morreram debaixo dos escombros de uma escola ou hospital, aquelas que para a generalidade de nós ocidentais têm sido apenas números distantes.

Voltando ao PERIFERIAS, este filme foi exibido na aldeia espanhola de La Fontañera, sendo que a tela estava do lado da fronteira, Espanha, e as pessoas que assistiam estavam sentadas em cadeiras postas do lado de cá, Portugal, trazendo uma simbologia fortíssima ao privilégio de que é podermos viver num mundo sem fronteiras, ou melhor, num mundo em que ambos os lados da fronteira são amigos.

Viva o Periferias, viva a raia, e salve-se a Palestina!

 

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