Dos grandes campeões - Seleção de Andebol no Europeu

Boa sorte para logo rapazes, são uns campeões!
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Boa sorte para logo rapazes, são uns campeões!

A última vez que o Burro escreveu aqui sobre política foi no rescaldo da derrota de Kamala Harris, o cenário era tão triste que mais valia falar sobre séries e filmes para sobreviver melhor à angustiante atualidade ,e assim continua, mas entretanto vontade não me faltou de vir aqui comentar algumas coisinhas.
Dentro de portas temos o boçal Arruda e o roubo das malas, o que mais inquieta não é o ridículo da situação, é sermos confrontados com o nível de indigência a que estamos sujeitos na Assembleia da República, a casa que devia ser a mais nobre do país, pois pois. Ah, e neste caso a presunção da inocência foi enviada para as calendas, os pilhas galinhas não têm essa prerrogativa, só os vigaristas mais encartados – qual presunção qual carapuça, invocar a politicamente correta presunção de inocência é tão disparatado como o dito Arruda alegar que as imagens foram feitas com recurso à inteligência artificial, é óbvio que o homem não é sério, mas daí até termos alguns senadores da república virem a terreno defender que o senhor devia ser destituído da Assembleia vai uma grande distância, esta gente nem as pensa.
Ou então as grávidas no Bloco, situação que me parece bastante mais grave, porque a vigarice de Arruda é-lhe sobretudo imputável a si só (em parte também a quem o escolheu, certo), mas no caso da hipocrisia das senhoras do Bloco é tema de regime, as donas da moral que enchem os pulmões para atacar o capitalismo, afinal são elas próprias piores do que os maquiavélicos empresários da nação, a velha história do ouçam o que eu digo, não olhem para o que eu faço, não é que isto nos surpreenda por aí além, mas é trágico, estas senhoras deviam seguir viagem e deixar a vida política, erraram, então que assumam.
Temos uma polémica lei dos solos que foi aprovada de forma apressada e com pouco escrutínio público, em que um secretário de estado de forma precavida cria uma empresa familiar umas semanas antes de a coisa vir à baila, senão foi à socapa assim pareceu, mas dizem que é ingénuo, até pode ser mas ao que consta a Procuradoria Europeia já o conhece de outras vidas.
Pedro Nuno Santos aproximou-se da extrema-direita porque evoluiu na posição do PS sobre imigração, aqui d’el Rey que dizer que quem chega tem de respeitar os nossos costumes, e não a lei, é ser reacionário, poupem-nos, e poupem-nos também com a história de que a Alexandra Leitão é radical, e depois sou eu que vejo muitos filmes, enfim.
Também tivemos o Gandra, se formos por caras, esse nunca me enganou, mas as caras aqui nada contam, e pouco me interessa que o senhor fosse cirurgião no país inteiro, mas o que fazer com estas pessoas que se acham mais espertas do que as outras e abrem empresas em nome de filhos menores para faturarem serviços que lhes são proibidos por lei?
O tema das presidenciais também entusiasma, o Almirante de quem continuamos sem conhecer o que pensa sobre tudo e um país que acha que distribuir vacinas e ser autoritário são tributos meritórios, e suficientes, para se ser chefe de estado, ou um Marques Mendes que ultimamente deve ter rezado a todos os santinhos para não ter de ser o candidato do PSD e escapar a uma derrota quase certa, ou um PS que deseja que Dona Constança venha finalmente à festa e espante Seguro, porque um Presidente sério e cinzentão é coisa que não serve ao país, melhor do que isso só mesmo a classe de Augusto Santos Silva, sempre um senhor – ironia, ok?
E a palavra do ano, a percepção? E aquelas cargas policiais que não lembram ao arco da velha, o policiamento de proximidade ou o Martim Moniz? Percepção uma ova, precisamos da polícia na rua sim, do Martim Moniz posso falar com conhecimento de causa e é inequívoco o aumento da insegurança nos últimos anos, além das pessoas a consumirem à nossa frente já não chegam os dedos das mãos para as cenas de grande violência que já lá assisti, e a horas decentes.
Vale a pena ir para fora de portas? Netanyahu e a Palestina, Putin e a Ucrânia, Trump e o mundo inteiro, Musk e os nazis…
Ah, já vai sendo frequente quem defenda que se fechem as contas do X-Twitter ou deixem de comprar carros da Tesla, a sério? Defendo um consumo consciente e não tenho, nem tenciono ter, nenhum desses produtos, mas se boicotarmos os produtos das empresas daquele bando de bilionários Trumpistas, então somos capazes de ter de voltar à vida simples no campo, e mesmo aí os satélites da Starlink podem ser preciosos.
Aqui o Burro gosta de política, mas o melhor mesmo é continuar a ver filmes e séries e essas coisas que não interessam nada.

O Brutalista foi certamente o filme com maior duração que vá vi em cinema, e é numa sala de cinema que deve ser visto, três horas e quarenta minutos, incluindo quinze minutos de intervalo, mas para o espetador que gosta de cinema o tempo não passará a correr, porque o realizador dá-nos tempo para apreciar a evolução da narrativa e a estética do filme, mas não dará certamente pelo tempo a passar.
Brady Corbet filma a história de um jovem arquiteto húngaro que chega a Nova Iorque, nos anos 50, depois de ter sobrevivido ao holocausto, história essa com várias dimensões, a do resgatar dos fantasmas do passado, a do reencontro da família, a do sentimento de rejeição dos americanos a quem chega de fora, a do mecenas que quer fazer bonito à custa da arte, ou a do artista que não sabe bem até que ponto se tem de sujeitar para fazer valer a sua arte, tudo isto com uma estética muito minimalista, da simplicidade dos materiais em bruto, da beleza do cru, do brutalismo, precisamente, do concreto, do aço, do mármore, com cenas de pura exaltação como aquela em que se negoceia mármore em Carrara ou se explica os efeitos da luz solar no altar, é tudo muito depurado.
A força dramática do filme é subliminar, está implícita sem ser preciso explica-la, está lá, sente-se, a cena em que Felicity Jones interrompe o jantar da família Van Buren é prodigiosa, mas se a dor e a tragédia são presentes, há que não deixar parecer que são vitoriosas, sempre a dignidade de quem se reergue, muito própria de uma personagem que escapou aos nazis e agora procura afirmar-se numa comunidade que não o quer, tolera-o apenas, faltando para alguns espetadores, admito, momentos de maior galvanização, que nos agarre pelas emoções, mas O Brutalista é de uma enorme força dramática, o medo, o horror, a impotência, o abuso, o antissemitismo, a determinação, a sobrevivência, a superação, a proteção de quem gostamos, o amor aos nossos, faltará talvez um momento de catarse, mas a emoção está impregnada desde a primeira cena do filme.
Ainda não estou certo que venha a torcer por este filme na noite dos Óscares, provavelmente, O Brutalista é seguramente um dos melhores filmes dos últimos anos, mas por quem irei torcer certamente – e ainda me falta ver o filme sobre o Bob Dylan – é por Adrian Brody, a sua interpretação tem um espetro infinito, ele vagueia perdido na dor, a seguir é um poço de energia a contagiar quem o ouve, ele é um farrapo humano em degradação e a seguir é um sedutor, ele é alguém que apenas sobrevive, aqueles olhos são tudo, absolutamente gigante Adrian Brody.

Numa noite durante a semana, a sala em que vi AINDA ESTOU AQUI estava repleta, um silêncio sepulcral de comoção, mais de 200 pessoas em comunhão com um recordar coletivo dos perigos que todos vivemos num regime totalitário, AINDA ESTOU AQUI é claramente um filme político que se impõe mais do que nunca.
A alegria funcional da família Paiva no início soa a genuína, aquelas personagens parecem de carne e osso, nós aspiramos a ser como aquelas personagens, invejamos aquelas personagens, e num ápice tudo se desmorona, num ápice a vida troca-nos as voltas, mas há quem consiga contrapor à tragédia a nobreza e a coragem.
A memória histórica de um país é fortíssima neste filme de Walter Salles, mas é a intimidade duma família que nos arrasta consigo, no seu jogo de cumplicidades e de demonstrações sucessivas de amor, nas emoções que vivemos quase em família, e esta experiência em cinema é fortíssima, é grande cinema.
Não há como não destacar Fernanda Torres, um prodígio assombroso de representação, poder vê-la mais logo de fora das nomeações aos Óscares em favor de interpretações como as de Demi Moore, Karla Sofía Gascón ou Cynthia Erivo seria um ultraje. Saravá Nanda, saravá!
Que maravilha.

Há anos e anos que queria ver esta série, Fleabag, uma comédia estreada em 2016 com poucos episódios que se veem num ápice.
Fleabag é uma série profundamente feminista mas nada feminina, nenhuma das personagens é simpática, todas têm um lado muito negro, mas estamos sempre a torcer pela protagonista, cínica, irónica, quase intragável, viciada em sexo mas frustrada sexualmente, sem horizontes profissionais, mal amada pelo pai, com uma relação conturbada com a irmã e a viver um profundo luto, sem nunca nos rirmos à gargalhada das situações mais incómodas consegue sempre um humor finíssimo.
Se a autora e protagonista Phoebe Waller-Bridge é simplesmente genial, no meio de um elenco muito sólido temos como bónus dois dos atores que mais admiro nos dias de hoje, Olivia Colman e Andrew Scott.
Fleabag é humor requintado, negro e subtil, fantástica. Na Prime Video.

Há filmes entendidos como menores que são absolutamente maiores, que delícia esta comédia dramática que junta dois primos improváveis numa viagem de homenagem à avó de quem tanto gostavam, numa descoberta das suas origens e confronto com as consequências do holocausto.
O realizador e ator Jesse Eisenberg é notável, num registo muito Woody Allenniano, ansioso, sem aptidões sociais e carregado de humor sarcástico, mas o primo Kieran Kulkin é gigante e, se dúvidas houvesse com o seu Roman Roy de Succession, o homem já está no olimpo dos atores, que carisma, enorme nesta personagem muito divertida e de grande delicadeza, que vai de um extremo ao outro das emoções com uma subtileza insuperável, podemos estar a fazer rir uma audiência para esconder uma vulnerabilidade ao ponto de só querermos morrer, podemos ser os palhaços de que todos gostam só para fazermos o nosso luto ou suprirmos a falta de atenção de quem gostamos.
A Real Pain pode parecer leve e tonto, mas transborda emoção, gostei mesmo muito. E venha o Oscar para o senhor Kulkin.

Há certas coisas que custam a aceitar aos apreciadores de cinema, Clint Eastwood é um dos grandes mestres, realizador de uma vastíssima filmografia, com títulos como Million Dollar Baby, A Mula, Imperdoável ou As Pontes de Madison County, à beira de completar 95 anos, talvez o realizador mais velho em ação, e aquele que será provavelmente o seu último filme não teve estreia nas salas, saltou diretamente para o streaming, que lástima não lhe podermos prestar essa homenagem.
The Juror #2, é um clássico dos filmes de tribunal, com o tom certo, no ritmo certo, uma excelente direção de atores (Toni Collette sempre brilhante) e uma importante reflexão sobre o sistema jurídico norte-americano, só coisas boas, que bela despedida se for o caso.
Uma longa vida Clint, bravo!
Na Max.

Apesar de ter gostado do Drácula do Coppola, essa foi a exceção que confirma a regra, não gosto de filmes de terror, mais concretamente de terror gótico, e muito raramente vejo, não por me assustar, apenas porque acho sempre tudo muito chato e sem graça nenhuma.
Feita esta ressalva, quis ver este Nosferatu de Robert Eggers, inspirado no mesmíssimo Drácula de Bram Stoker, para poder ter os meus favoritos nesta temporada de prémios, sim, Nosferatu é um fortíssimo candidato a muitas das categorias técnicas, estando também a ganhar vários prémios nalgumas categorias principais, como realização e atriz principal.
Não sendo fã do género, reconheço muitas virtudes no filme, lá está, naquelas coisas mais técnicas como as roupas e os cenários, e a luz, lindíssima aquela luz, escura, sombria, mas é tudo muito chato, um bocejo que nem as cenas para assustar me espevitaram.
Lily-Rose Depp nas listas das melhores atrizes do ano? A moça não é só uma cara bonita filha de pais famosos, não está propriamente mal, mas tem a mesma cara de quem comeu e não gostou do princípio ao fim, não há ali nenhuma nuance, poupem-me.

Não posso dizer que é um grande musical porque as canções são um bocado frouxas, monocórdicas, mas é um filme muito bem feito, tudo o que é técnico é notável, os efeitos visuais, a fotografia, os cenários, a maquilhagem, as coreografias frenéticas, o uso da cor, sempre muita cor, muita cor mesmo, e tem frases muito bonitas sobre o direito à diferença e o dever de proteger os animais, tudo impecável, mas é só um filme infantil, OK?
Sério candidato a melhor filme do ano? Óscares para Cynthia Erivo ou Ariana Grande? Esqueçam lá isso.
Mas levem as vossas crianças que é bem bonito.

Estamos habituados a que os refugiados venham de longe, tenham uma cor de pele mais escura e sentimo-nos pouco ligados a eles social ou afetivamente - e se fossem ocidentais como nós, louros, simpáticos, donos de casas fantásticas e de carros de fazer inveja?
E até que ponto, nós, pessoas de bem, aos nossos olhos pessoas de bem, conseguimos ser empáticos, solidários e éticos uns com os outros quando a nossa sobrevivência é ameaçada?
Em Families Like Ours, série realizada pelo consagrado realizador dinamarquês Thomas Vittenberg, o governo dinamarquês ordenou a evacuação do país porque a subida iminente das águas do mar vão deixar a Dinamarca submersa, a partir daí é um salve-se quem puder, acompanhando ao longo de sete episódios a saga de uma família, numa história comovente e perturbante que nos faz pensar, desconfortável por vezes, a angústia de esperar pelo episódio da semana seguinte para perceber como é que aquelas personagens, que podíamos ser nós, se vão safar.
Vittenberg disse que Families Like Ours “é uma espécie de declaração de amor ao que temos, à nossa cultura e à forma, como seres humanos, …, da Europa Ocidental, reagíamos se fossemos nós os refugiados e não eles”, seria muito bom se Families Like Ours contribuísse, nem um bocadinho que fosse, para todos fazermos a nossa parte, pelo menos para aprendermos em comunidade a não ostracizar quem vem, porque um dia podemos ser nós.
Na TV Cine.