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BURRO VELHO

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26
Jul25

Dos concertos que adoro - Maria João e Mário Laginha

BURRO VELHO

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Ouvir Sua Majestade, Maria João,

a voz, o ritmo, o calor, a doçura, a empatia, mas que voz,

e Mário Laginha, o príncipe, com sublime hands,

nas ruínas da cidade romana de Ammaia,

no Festival de Música de Marvão,

numa noite de Verão marvanense, fria, sem vento,

enrolados em mantas,

a acústica, impressionante,

com vista para o Castelo iluminado, lá ao fundo, lá em cima,

a perfeição,

no fim de um dia de trabalho atravessei o país, voei,

aterrei direto neste concerto, absolutamente memorável,

vai perdurar, nas minhas memórias.

Férias!

A perfeição, boas férias.

 

 

25
Jul25

Dos espetáculos de que gosto - À Primeira Vista

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Finalmente consegui ver À Primeira Vista (Prima Facie), estreado há precisamente um ano, não foi fácil conseguir um bilhete para ver este fenómeno de reconhecimento unânime do público, não há quem tenha visto a peça e não recomende entusiasticamente vai ver, é forte, e muito gira.

Estamos a falar de um monólogo encenado por Tiago Guedes, com interpretação de Margarida Vila-Nova, baseado num texto da australiana Suzie Miller no rescaldo dos exageros do Me Too, onde qualquer homem que se mexesse perto de uma mulher era logo considerado um abutre (deem o devido desconto ao exagero da ironia, ok?), e aqui somos confrontados com a toxicidade e violência nas relações, o abuso sexual, o papel das vítimas e dos agressores, e sobre como é que a Justiça (com J maiúsculo) lida com isto tudo.

O texto joga com a ambivalência do que aos nossos olhos é um agressor ou uma vítima, a isso não será indiferente ter sido escrito por uma mulher, encenado por um homem e interpretado por outra mulher, e essa ambivalência é muito interessante para nos confrontarmos a nós próprios - e como seria se este texto tivesse sido escrito por um homem, encenado por uma mulher e interpretado por outro homem, será que no fim veríamos algo parecido? Certamente que não.

A peça diz-nos muitas coisas, consigamos nós ouvi-las todas, sejamos nós livres de preconceito e abertos de espírito para as conseguirmos escutar, uma dessas coisas é que nunca podemos fazer juízos precipitados, nós não sabemos, recorda-nos também que NÃO É NÃO, e que uma em cada três mulheres já foi alvo de abuso sexual.

A emoção da atriz assim que a peça terminou e a instantânea ovação de pé serão um claro sintoma de que a dor das vítimas é algo muito sofrido por grande parte da nossa comunidade, como sociedade temos mesmo que fazer melhor.

Já tinha gostado de a ver em Causa Própria, série da RTP, mas c’os diabos, que atriz portentosa esta Margarida Vila-Nova, todos os aplausos para si.

Que bela maneira de assim acabar a saison teatreira!

 

20
Jul25

Das coisas bonitas - FIMM, Festival Internacional de Música de Marvão

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Abençoada a hora em que o maestro alemão Christoph Poppen, e a sua mulher, a soprano suiça Juliane Banse, vieram até terras de Marvão, se apaixonaram, e tiveram o sonho de fazer um festival de música clássica nos cenários naturais desta vila alentejana, aproveitaram acústicas perfeitas em locais milenares como o pátio do castelo, interiores de igrejas ou cisternas, ou até nas ruínas da cidade romana da Ammaia, e puseram de pé um Festival que é, hoje, uma referência da música clássica a nível internacional, longe estariam eles de pensar que ao fim de 11 edições teriam sido capazes de trazer tanta música, e de tão qualidade, a um público que dificilmente lhe teria acesso, ao mesmo tempo que traz públicos de idades tão distintas e de sítios tão remotos a este canto da Serra de São Mamede.

A 11ª edição dedica-se à música de câmara e ao retrato de 21 compositores, sempre com um gostinho noutras sonoridades, por exemplo o jazz e o fado, este Festival é mesmo uma pérola caída do céu e que temos sempre de aplaudir, e muito.

Aqui num concerto de cordas e piano a ouvir Trio para Piano em lá menor, Op. 50 de Tchaikovsky, que coisa mais boa, que maravilha que é Marvão e a Serra de São Mamede, que luxo que é o Festival Internacional de Música de Marvão (FIMM).

Vielen Dank, Herr Poppen und Frau Banse!

Muito obrigado.

 

18
Jul25

Dos livros e dos filmes que amamos - Um Quarto Com Vista (sobre a cidade)

BURRO VELHO

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Crescer na província nos anos 80 e gostares de cinema eram coisas (quase) incompatíveis, os filmes chegavam à sala de cinema com anos de atraso, a oferta nos dois canais de televisão era muito pouca, não tinhas acesso a revistas nem nada disso, era um mundo quase inacessível, mas os filmes infantis nas matinés dos domingos às 11 da manhã, esses ninguém nos tirava (será que às 11 da manhã se diz matiné, creio que sim).

Por isso, no meu caso, nem foram tanto os filmes que me despertaram o amor pelo cinema, porque poucos filmes via, foi mais todo um aparato à volta do mundo dos filmes que me seduzia.

As minhas primeiras memórias cinematográficas são um bocado tontas, risíveis até, um cartaz gigante na fachada do velhinho cinema Monumental, em Lisboa, do filme ‘Uma Ilha no Teto do Mundo’, a primeira vez que fui ao cinema numa vinda milagrosa à capital, do filme nada me lembro, mas o cartaz ficou para sempre.

Ou então as filas para ir ver o Africa Minha quando o cinema da terra esgotou durante sessões consecutivas, afinal era o grande vencedor dos óscares, e eu não pude entrar porque era pequeno, tive de aguardar pela reação da mãe que foi com a vizinha.

Ou então a música do Joe Cocker que o meu irmão ouvia a toda a hora na cassete, e que também me deixou à porta do Oficial e Cavalheiro, também não tinha idade para ver aquelas coisas que só os adultos podiam ver, mas que coisas seriam essas?

Ou então ver a Meryl Streep a fugir do Jeremy Irons em A Amante do Tenente Francês, filme que passou na RTP e de que não percebi muito mas cujas imagens da Cornualha me fascinaram para sempre.

Ou então ver os álbuns de fotografias que a madrinha recortava de jornais como o Diário Popular ou Correio da Manhã com imagens da Nathalie Wood ou Farrah Fawcett ou de filmes como Cotton Club ou Taxi Driver.

E algures em 1987 a RTP deu algumas imagens da cerimónia dos óscares, e nesse ano em que o vencedor foi Platoon, Um Quarto Com Vista Sobre a Cidade foi bastante nomeado, e arrecadou mesmo algumas estatuetas, e eu achava uma delícia sempre que diziam o nome da argumentista, um impronunciável Ruth Prawer Jhabvala, filme que terei conseguido ver alguns anos mais tarde, e que me marcou muito, me marcou como um dos primeiros filmes que vim com espanto e daquelas memórias de infância (já adolescência) e que te ficam gravadas para sempre.

Há alguns dias precisei de um livro para ler numa viagem, não sabia o que me apetecia ler, não tinha nenhum na pilha, não tinha tempo para ir a uma livraria, pelo que fui à estante e peguei num clássico que esperou pelo seu dia durante uma eternidade, Um Quarto Com Vista, do britânico Edward Morgan Forster, com vários romances também brilhantemente adaptados ao cinema.

A Room With a View é um romance ligeiro sobre costumes e boas maneiras da aristocracia rural inglesa, onde é inconcebível uma jovem querer viver sozinha em Londres e ter de carregar o fardo de andar com as chaves de casa consigo, uma jovem de boas famílias nunca abre a porta de casa, mas mais do que o humor que perpassa todo o livro, o que mais me impressionou no livro foi a forma como E. M. Forster, em 1908!!!, pode fazer tanto pela causa feminista e com tanta elegância, sem qualquer extremismo Forster escrevia que uma mulher podia ser dona da sua vontade e amar quem quisesse, isto há mais de 100 anos parece-me absolutamente extraordinário.

Li o livro de uma penada, e na mesma tarde em que o acabei fui à procura do filme para o rever, apenas recordava duas ou três cenas.

Creio que nunca antes tinha visto um filme tão pouco tempo depois de ter lido o livro, certamente que não, e ao longo do filme, que respeita em absoluto o texto original, por vezes cortaram alguns diálogos que eu tinha gostado especialmente, oh, não filmaram aquela parte, oh aquela cena faria toda a diferença, inevitável sentir isso em relação a uma experiência de leitura tão fresca, mas O Quarto Com Vista Sobre A Cidade – filme é sem dúvida uma excelente adaptação, do melhor que há, de O Quarto Com vista – livro.

O triunvirato James Ivory realizador, Ismail Merchant produtor e a dita Jhabvala argumentista deixou uma obra maravilhosa, mas deixem-me destacar também o elenco fabuloso de O Quarto Com Vista Sobre A Cidade, as rainhas Maggie Smith e Judi Dench, Helenha Bonham Carter, Julian Sands, e lá no meio de um conjunto de secundários incrível estava um jovem, e muito irritante, Daniel Day-Lewis.

 

15
Jul25

Dos meus livros - Levarei o Fogo Comigo, de Leila Slimani

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Ler Leila Slimani é um prazer imenso, é devorar um livro sem darmos pelo tempo a passar e aproveitarmos todos os bocadinhos para ler mais um pouco.

No terceiro capítulo da saga de uma família marroquina, Slimani é despretensiosa, despida de quaisquer malabarismos e sem nos querer convencer de que é uma grande escritora, e ali e acolá, sem estarmos a contar, invade-nos de poesia ou dá-nos um estalo com a dureza das palavras, ou das pessoas, melhor dizendo.

Levarei o Fogo Comigo é tradição, raízes, identidade, é intimidade e desejo, Levarei o Fogo Comigo é um livro extraordinário.

 

11
Jul25

Dos espetáculos que adoro - O Salvado, de Olga Roriz

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Muitos muitos anos antes de ter tido oportunidade de ver um espetáculo dançado ou coreografado pela Olga Roriz, já eu devorava tudo o que eram entrevistas ou reportagens sobre a bailarina, naquele tempo distante em que poder vê-la era algo inalcançável, mas hoje Olga Roriz está a festejar 70 anos de vida e 50 de carreira e eu já tive o privilégio de ver alguns dos seus espetáculos.

O Salvado é um solo intimista onde Roriz dança aquilo que quer dançar e que o seu corpo deixa dançar, onde brinca com as palavras e com a voz, e que voz tão bonita para dizer palavras tão bonitas, onde nos mostra um corpo forte e vulnerável, onde convoca o público para o seu humor, onde não deixa de ser uma bailarina engajada com o seu entorno e nos exorta para os perigos dos nossos dias, “… a caça hoje é para os homens com menos de 45 anos…”, mas desiluda-se quem quer ver um espetáculo coerente onde se percebe tudo direitinho, pelo menos para mim as suas coreografias não funcionam assim, para mim são fragmentos onde vamos sentindo coisas, são fragmentos de beleza, de exaltação, de comoção, de aperto, de qualquer coisa que nos faça sentir.

Gostei de todo o espetáculo, mas aquela última cena em que vemos Olga Roriz a dançar sentada numa cadeira giratória ao som de Spiegel im Spiegel, de Arvo Part, é algo que vai perdurar em mim por muito tempo, que beleza inaudita.

Ainda em cena no Teatro São Luiz (presumo que esgotadíssimo), mas ainda vai andar por várias salas do país.

 

09
Jul25

Das séries de que gosto - Reservado (Secrets We Keep)

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Está para acontecer a primeira vez em que eu não goste de uma série escandinava, é certo que não vejo assim tantas quanto isso, mas ainda não vi uma de que não tenha gostado.

“Reservado” (Secrets We Keep, título em inglês), é uma minissérie de seis episódios sobre um crime, uma história clássica em que alguém morre e há uma verdade a descobrir, em que progressivamente a tensão e o número de suspeitos vão aumentando, até sermos levados a um ponto de rebuçado em que queremos ver o mais rápido possível e descobrir o culpado (não importa em que ponto é que descobriste, no caso acho que se descobre muito perto do final).

Em cima disto temos personagens bem construídas, casas de sonho, vidas invejáveis e uma Dinamarca sempre atraente, lá onde a ética existe e as instituições funcionam, lá onde sob a capa da solidariedade e do ‘somos bonzinhos’ as famílias recebem au-pairs de países como as Filipinas (o meu conhecimento sobre as au-pairs ficou nas aulas de inglês do 2º ciclo), que mais do que meninas de companhia dos filhos privilegiados são verdadeiras escravas de limpeza.

Muito boa esta minissérie, vê-se numa penada.

Na Netflix.

 

07
Jul25

Das minhas despedidas e das de Cristiano Ronaldo

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Este fim-de-semana partiu uma pessoa de quem eu gostava muito, uma amiga dos meus pais muito presente na minha infância, cresci a brincar com as suas filhas, alguém que na adolescência se tornou minha amiga, sem pais nem filhas de permeio, e que, à distância, sempre me acompanhou pela vida de adulto fora, a última pessoa que ainda me tratava carinhosamente pelo diminutivo de criança.

Hesitei em ir às suas cerimónias fúnebres, não era fácil conseguir ir, largas centenas de quilómetros a separar-nos, outros afazeres, mas não era impossível, ela merecia que me fosse despedir, não fui.

Eu não sou um herói da nação, eu não tenho qualquer responsabilidade perante o país, apenas perante a minha consciência.

Cristiano Ronaldo é o exemplo que queremos para os nossos jovens, Cristiano Ronaldo reinvidica ser esse exemplo, devia ter vindo despedir-se de Diogo Jota, ponto, não lhe ficou bem ter faltado.

 

04
Jul25

Da falta de vergonha - Mariana Leitão e liderança da IL

BURRO VELHO

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Mariana Leitão trabalhou 13 anos na Sonangol, alguns dos quais enquanto administradora, e Mariana Leitão ou é desonesta ou pouco inteligente, e só por isso já não serve para liderar um partido da oposição.

Confrontada com o trabalho que o Observador tem feito nessa matéria, diz Mariana Leitão ao Expresso que está a ser alvo de um estigma contra o povo angolano, de quem diz ter estado ao seu serviço, do povo angolano.

Mariana Leitão esteve certamente ao serviço dos seus próprios interesses, até aí nada contra, mas afirmar que a Sonangol estava ao lado do povo angolano, a sério? Durante 13 anos nunca viu ou ouviu nada suspeito, nunca leu as notícias, nada que lhe fizesse soar as campainhas?

Repito, ou desonesta ou pouco inteligente, só por aqui já devia ser chumbada, já para não falar da ética de quem acha que agora pode defender e representar o povo português com os mesmos padrões que defendeu o povo angolano, mas isto da falta de ética é chão que já deu uvas.

Tinha ficado calada que tinha feito muito melhor.

 

03
Jul25

De um país inteiro a chorar - Diogo Jota

BURRO VELHO

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Um país inteiro a chorar por ti, um país inteiro emocionado e a pensar nestes pais e nesta família.

Como forma de homenagem ouço a canção que os adeptos do Liverpool fizeram para si:

Oh he wears the number 20

He will take us to the victory

And when he's running down the left wing

He'll cut inside and score for LFC

He's a lad from Portugal

Better than Figo don't you know

Oh his name is Diogo...

 

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