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BURRO VELHO

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29
Set25

Dos filmes que adoramos - Batalha Atrás de Batalha, de Paul Thomas Anderson

BURRO VELHO

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A brigada do bom gosto da malta que gosta de cinema quase que te obriga a venerar Paul Thomas Anderson, se tiveres a ousadia de lhe torcer ligeiramente o nariz corres o sério risco de ser proscrito para o resto da tua vida de qualquer conversa sobre filmes, tal a unanimidade em redor de PTA, mas a verdade é que PTA não falha, os seus filmes são obras-primas, ou estarei eu toldado por desejar muito pertencer ao clube do bom gosto?

Brincadeiras à parte, PTA não estará no topo absoluto dos meus realizadores preferidos, mas é um génio.

Batalha Atrás de Batalha é prodigioso em tudo, é entretenimento puro pelo simples prazer de desfrutar cinema, é ação, pancadaria, tiros e muito chinfrim, é mestria na forma como faz arte e prende o espetador (a perseguição numa estrada lá mais para o final é de antologia), mas também é profundidade, sátira e retrato sociológico, seja na relação de amor entre um pai e uma filha, seja na tragicidade cómica naquelas personagens bizarras de tão perversas que são, e que las hay las hay, seja ainda na reflexão profunda da perigosidade reinante na américa de hoje, aquela supremacista branca que odeia os negros e maltrata e expulsa os emigrantes.

Leonardo DiCaprio, Sean Penn, Benicio Del Toro, Regina Hall, Chase Infiniti e a Teyana Perfidia Beverly Hills Taylor são superlativos, são para lá de bons, tal como a banda sonora do senhor Jonny Radiohead Greenwood.

São mais de 2h40 de puro deleite, sempre com o músculo do coração a palpitar no sítio certo, seguramente um dos melhores filmes do ano, um grande bem-haja a esta Hollywood que vai resistindo a Trump.

 

PS: o cartaz na foto não é o cartaz oficial português, mas gosto particularmente desta versão.

 

28
Set25

Da atualidade - o mundo e a Comunicação Social

BURRO VELHO

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Eu, otimista convicto até à vitória de Trump, tornei-me, subitamente, um pessimista derrotado, tamanha a desgraça que se vê dentro e fora de portas, as notícias são tão impensáveis e risíveis que uma pessoa só pode duvidar da sua veracidade.

Cá dentro é o dislate do Chega a afirmar que o Presidente da República pode presidir ao Conselho de Ministros, é a Mortágua a desaparecer na flotilha e mandar o seu partido às malvas (e o país também, Portugal? Onde fica mesmo?), a Maria João Avilez indigna-se com o reconhecimento de Portugal do Estado Palestiniano e alguns portugueses insultam Isaac Nader porque acreditam que o tom de pele importa, se calhar é por isso que aí não se fizeram loas ministeriais à raça lusitana, enfim.

Lá fora é tudo o que gira à volta do triunvirato do mal, Netanyahu, Putin e Trump, os drones, o aproveitamento do assassinato de Charlie Kirk e as denúncias a quem falar mal nas redes sociais, o paracetamol e o autismo, o sofrível mármore do edifício da ONU, a Disney a tentar despedir o Kimmel, mas esperem, há mais gente a ensandecer, a França está tão desnorteada que Macron até vai apresentar provas inequívocas que a sua Brigitte é mulher e muito mulher – aguardemos com prudência pelo desfecho de Bolsonaro.

O desvario lunático que aí vai é tal que, neste mundo fake de inteligência artificial, duvidamos de tudo o que lemos, já não podemos acreditar em absolutamente nada exceto o que é noticiado pelos media credíveis, e este é o meu ponto, quando estes caírem de vez, e o escrutínio deixar de ser feito, vai ser a derrocada final.

Cá dentro os canais noticiosos são uma desgraça, dá dó ver jornalistas credíveis como Ricardo Costa a dirigirem um canal sensacionalista como a SIC Notícias, é a cobertura dos fogos, o Mourinho que já chegou a Portugal ou o André Ventura que deu um arroto, mas quantos de nós é que lhes podemos atirar a primeira pedra, quantos de nós é que pagamos pelas notícias que consumimos? Quantos de nós, que há uns anos íamos religiosamente comprar o Expresso ao sábado de manhã, continuamos a fazê-lo?

Nos Estados Unidos ainda há quem resista à política do lápis azul, Trump ameaçou o New York Times com um processo de difamação de 15 mil milhões de dólares, e os checks and balances daquelas bandas hoje em dia são o que são, mas o New York Times para já está a aguentar-se à bronca, mas para isso, além de tribunais independentes, é preciso um acionista sério e dinheiro nos bolsos.

É preciso voltar a pagar pela informação como fazíamos há 15 anos atrás, as democracias estão a desaparecer, sem órgãos de comunicação social independentes vão desaparecer mais rapidamente.

 

21
Set25

Dos meus livros - Nada a Temer, de Julian Barnes

BURRO VELHO

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Tenho um problema sério com os livros, quando não estou a gostar resisto-lhes até à última, empastelo semanas a fio mas não os abandono, uma espécie de pudor ou de má-consciência impedem-me simplesmente de os pôr de lado, escolher outro da estante e seguir alegremente com as minhas leituras, não, nada disso, se comecei a ler devo estoicamente ler até à última página, é a minha obrigação com o autor que dedicou tanto do seu tempo a escrevê-lo.

Isto é um disparate pegado, mas é assim que se passa comigo, creio só ter desistido uma vez de um livro – Memorial do Convento, tenho-o já na calha para tentar regressar-lhe em breve.

Julian Barnes é um dos meus romancistas de eleição, já li sete dos seus livros, dois deles são dos meus favoritos de sempre, daqueles de que na reforma vou querer reler muitas vezes – A Única História e O Sentido de um Fim -, mas Nada a Temer para mim foi um suplício, quais memórias divertidas e espirituosas sobre a morte qual carapuça, para mim foi só uma experiência funesta a pensar sobre a morte, socorro, tirem-me deste livro.

Não desisti propriamente, mas saltei muitas páginas pelo meio.

 

13
Set25

Dos espetáculos de que gosto – Nôt, de Marlene Monteiro Freitas

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Depois de ter dividido a plateia no Festival de Avignon, entre vaias e aplausos, o espetáculo Nôt, da coreógrafa cabo-verdiana Marlene Monteiro Freitas, teve uma reação mais entusiástica na Culturgest em Lisboa, o público gostou muito, e eu também.

Nôt significa noite em crioulo, e not significa não em inglês, a negação, o contrário, a antítese, e sinceramente agarrou-me o lado mais sombrio, violento, sanguíneo, o lado do pesadelo, quando foi mais para o lado do sonho, perdi-me um pouco, tenho alguma dificuldade em me conectar com o que é aleatório, quando parece que é ao calhas, é assim mas podia ser assado, e nalguns movimentos senti isso, mas foram apenas breves momentos onde não evitei um bocejo, logo a seguir voltei a ser agarrado por aquela dança de alta-voltagem.

Antes disso já me tinha aborrecido logo no início, brincar com xixi e cocó durante tanto tempo, para mim, não tem piada, é poucochinho, mas não sei se a ideia era divertir, se não seria antes provocar para de seguida nos surpreender desprevenidos.

Nôt é uma dança radical, livre, uma experiência visual e sonora excessiva, gostei muito.

Lisboa na vanguarda. A peça vai estar também no Teatro Municipal do Porto.

 

12
Set25

Tá tudo doido - os motivos académicos de Sócrates

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"Pensei, pensei não, deliberei que vou interromper as minhas declarações", pasme-se, foi assim que José Sócrates informou a juiza que se ia ausentar do Tribunal durante uns dias, porque já não vai para novo e, também, porque tem de ir ao Brasil tratar de uns assuntos académicos.

Seria isto permitido a outro cidadão? Naturalmente que não, nem isso nem aquele despautério de afrontas que todos os dias as juízas têm de engolir.

Lamento, mas o Estado devia dar-se ao respeito, está tudo doido.

 

11
Set25

Dos filmes que adoramos - Sirāt, de Oliver Laxe

BURRO VELHO

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Logo no início do filme explicam-nos que Sirāt é uma linha que separa o paraíso do inferno, uma linha tão fina quanto um fio de cabelo e tão afiada como uma lâmina, ou, por outras palavras, é aquilo que temos de atravessar para alcançar o céu, e neste Sirāt não sei se as personagens alcançam o paraíso, mas pisam várias vezes no fogo do inferno.

Um pai e um filho vão a uma rave party no deserto de Marrocos à procura da filha/irmã, e começam uma viagem arriscada com um grupo de nómadas que acabaram de conhecer, sempre com a batida psicadélica da trance music como fundo.

Sirāt é um trance road movie, seja lá for o que isto queira dizer, mas é também um filme sobre a aleatoriedade da morte, sobre as fronteiras políticas ou sobre os laços improváveis que as pessoas criam entre si.

Um filme é uma sequência de imagens e de sons projetada numa tela, apenas isso já é mágico, o deleite de vermos essas imagens animadas, mas através dos filmes conquistamos muitas coisas, conhecemos o mundo, outras culturas, outras formas de viver, aprendemos a ser mais tolerantes com a diferença e a aceitar aquilo que nos é estranho, e, no final da sessão, senti-me mais próximo destes nómadas que vivem à margem da sociedade à procura da rave seguinte.

Sirāt, do realizado galego Oliver Laxe, Prémio do Júri em Cannes 2025, em que quase todos os atores são não profissionais, é uma experiência cinematográfica diferente de tudo o que já vi e onde dei alguns valentes saltos da cadeira como há muito não dava, um dos melhores filmes do ano.

 

09
Set25

Das lendas vivas e das fotografias icónicas - Simone de Oliveira e Branislav Simoncik para a Vogue Portugal

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Desde que vi umas fotografias da Sharon Stone para a campanha da Mugler que fiquei com este Branislav Simoncik, nascido na Eslováquia, debaixo de olho, que génio absoluto.

Em boa hora a Vogue Portugal pô-lo a fotagrafar, para a sua capa da edição de setembro, a nossa Simone de Oliveira.

Parabéns à Vogue e muito obrigado Simone.

Vivam as pessoas mais velhas!

 

08
Set25

Da atualidade política - Carlos Moedas e o Elevador da Glória

BURRO VELHO

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Admito em tese que haja situações que exijam responsabilidades políticas, mas na maioria das vezes defendo que o político não deve virar a cara, esse poder-lhe-ia ser o caminho mais fácil, os outros que resolvam, não pertenço, portanto, ao clube dos que enaltecem a nobreza do exemplo, sempre invocado, do malogrado Jorge Coelho.

A tragédia do Elevador da Glória comoveu, certamente, todos os portugueses, a mim talvez um pouco mais pelo sentimento que podia ter sido comigo, sou utilizador frequente do elevador irmão da colina em frente, o do Lavra.

Assisto há muitos anos à ganância da Carris que encontrou ali um filão dourado, a chusma de turistas que resistem a filas gigantes para pagar um preço exorbitante (os viajantes com passe ou título pré-pago pagam a tarifa normal de qualquer autocarro) e poderem andar num ex-libris da cidade, a Carris tem (ou tinha) ali uma mina.

Todos aguardamos pela conclusão de todas as perícias e análises, explicações terão de ser dadas, eu próprio já fui andar no elétrico 28 depois do incidente, mas preciso de saber que a manutenção dos meios de transporte lisboetas é segura.

Não sou eleitor do Carlos Moedas, não contará com o meu voto, mas parece-me só tonto quando ouvimos vozes a exigirem a sua demissão, mesmo que ele a tenha exigido a Fernando Medina no caso dos dados para a Rússia, vamos perpetuar as burrices de alguém no passado?

Não estou certo de que se fosse seu votante lhe negaria o voto por causa das suas decisões na Carris, precisava de saber mais, mas qual demissão qual carapuça, o escrutínio que lhe façam os lisboetas no dia das eleições, que por acaso - azar dos Távoras? - é já daqui a um mês.

 

07
Set25

Dos filmes de que gostamos - O Match Perfeito, de Celine Song

BURRO VELHO

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Demorei a ir ver O Match Perfeito (Materialists), de início não me suscitou qualquer interesse, uma comédia romântica cheia de clichés interpretada por 3 atores estrela mas pouco convincentes, Dakota Johnson, Pedro Pascal e Chris Evans, vaticinei-lhe logo um grande fiasco.

Até que reparei que foi Celine Song quem escreveu e realizou, autora de um dos meus filmes favoritos de 2023 (Past Lives - Vidas Passadas), e em boa hora resolvi dar uma oportunidade a este filme, voltou a acertar na mouche, que excelente comédia romântica este O Match Perfeito – por uma vez o título em português é mais interessante do que em inglês.

Um date é sempre maravilhoso, é sempre um acreditar, um recomeço, mas na maioria das vezes é também um ato cínico de quem anda à procura do amor ao virar da esquina, alguém que vai ao centro comercial à procura do artigo perfeito, alguém alto, apresentável, com educação, sem cadastro, e, sobretudo, com o salário certo, e quem não cumpre o pleno da checkbox vai direto para o caixote do lixo dos dates, por isso um date é quase sempre um festival de emoções e expetativas, na maioria das vezes de frustrações também.

Um date é uma coisa muito complexa e Celine Song escreveu um argumento doce e profundo ao mesmo tempo, o amor é sempre difícil, contudo por vezes tão simples, está logo ali, sem o salário certo nem flutes de champanhe, mas a pessoa com quem queremos ganhar cabelos brancos e rugas na cara está logo ali, basta aceitarmos que não há amores perfeitos, nunca os há.

Não morro de amores por nenhum dos atores, mas estão muito credíveis, o filme funciona muito bem com eles, que filmaço, e fiquei com vontade de ir rever When Harry Met Sally, a romcom por excelência, esta anda lá perto.

 

03
Set25

Das séries de que gosto - This Is Going To Hurt (Isto Vai Doer)

BURRO VELHO

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This Is Going To Hurt é uma série tão, mas tão boa, que até ‘doi’ falar sobre ela.

O tom no início até é leve, com laivos de comédia, romance e sátira social, humor negro no melhor estilo britânico, mas ao longo dos 7 episódios a coisa vai-se adensando, à medida que a exaustão e a culpa vão aumentando, à medida que os sintomas de burnout vão surgindo e destruindo todas as relações pessoais e familiares, estilhaçando por dentro pessoas que por fora tentam vestir a capa de médicos competentes, tornando-se difícil vermos os últimos episódios sem termos o estômago embrulhado, por compaixão com aqueles seres humanos que lutam para se manter à tona.

This Is Going To Hurt, série da BBC de 2022, é baseada num romance com o mesmo título de Adam Kay, antigo médico do serviço de ginecologia e obstetrícia dos hospitais públicos ingleses, sendo um alerta, e uma homenagem também, para as condições difíceis que os profissionais de saúde enfrentam por esse mundo fora.

Ben Wishaw está sem dúvida no meu top 10 de atores favoritos, a profundidade do seu olhar e dos seus silêncios, a par do seu timing de comédia, o sucesso desta série deve-se em grande parte a si, mas se todos os atores são fabulosos deixo também nota para a angústia brilhante da jovem atriz inglesa Ambika Mod.

E não se esqueçam, quando o corpo ou a alma cedem há (quase) sempre lugar à redenção, mesmo nas trevas mais profundas.

Não é fofa, mas é brilhante.

Na RTP Play.

 

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