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BURRO VELHO

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31
Out25

Dos filmes que adoramos - Depois da Caçada, de Luca Guadagnino

BURRO VELHO

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Depois da Caçada, do realizador italiano Luca Guadagnino, passa-se na comunidade intelectual da Universidade de Yale, nos EUA, e é um filme profundamente intelectual, daqueles que não nos facilita a vida, que nos dá muito texto e exige que estejamos concentrados no que estamos a ver para não perdermos o fio à meada.

Uma universidade americana está sempre na vanguarda do que se passa no mundo, nesta discussão dos símbolos e dos estereótipos de ser homem ou ser mulher, no poder enraizado, no ativismo que ao contrariar a corrente pode inverter e subverter as cadeias de poder, no cancelamento, na dúvida, eu lanço a acusação para o ar e fica a suspeita, como lidar com a verdade ou com a falta dela, como ser moderado e evitar que se prejudiquem pessoas inocentes.

Em Depois da Caçada não há moralismos nem verdades absolutas, mas há uma procura do bem e da moral.

Se Julia Roberts é incrível, tenho de destacar também o eterno esquecido Michael Stuhlbarg, mais uma vez a brilhar bem alto num filme de Guadagnino, sem dúvida um dos meus realizadores preferidos do momento (e mais prolífero e diversificado).

Se estiver num dia para usufruir da palavra e do pensamento, desfrute deste que é um dos melhores filmes de 2025, se quiser uma coisa mais leve, passe à frente.

 

 

29
Out25

Das séries de que gosto - Task

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Há séries medianas que de tão boas são excelentes, é o caso de Task, série negra policial dos mesmos autores de Mare of Easttown, também ela excelente.

Sempre nos subúrbios sombrios de Filadélfia, o terreno que o autor melhor conhece, Task tem crime, tem gangues do mal, tem polícias bons e polícias maus, tem drama familiar, luto, personagens deprimidas, luta de gerações, dúvida moral, tem suspense, tensão e mistério, tudo isto com atores formidáveis liderados por um senhor chamado Mark Ruffalo.

Gostei muito, sete episódios que passaram a voar.

Na HBO Max.

 

28
Out25

Dos espetáculos que vejo - Os Maias, pela Companhia Nacional de Bailado

BURRO VELHO

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A Companhia Nacional de Bailado levou à cena Os Maias, um bailado em três atos a partir da obra de Eça de Queiroz, uma estreia absoluta com coreografia e dramaturgia de Fernando Duarte.

Não será muito abonatório dizer que as coisas que mais me encheram o olho, ou o ouvido, foram o pianista António Rosado e os solistas da Orquestra de Câmara Portuguesa, o riquíssimo guarda-roupa de José António Tenente ou os cenários e os videogramas com Lisboa em pano de fundo, quanto à dança em si, digamos, teve os seus momentos.

Pessoalmente não gostei nada do primeiro ato. Não percebo absolutamente nada de dança, não tenho quaisquer conhecimentos técnicos, mas enquanto espetador achei mal dançado, os desequilíbrios constantes, as piruetas interrompidas e aos saltinhos, as elevações que mal tiram os pés do chão, um corpo de baile com total falta de sincronismo, quando uns subiam a perna estavam já outros a descer, um Afonso da Maia sofrível, uma trapalhada – aprecio a emoção, o movimento, a fluidez, a técnica não me interessa tanto, mas quando no ballet clássico esta falta sinceramente o resto já não se vê.

Nos últimos dois atos a coisa melhorou, gostei bastante de algumas partes, de outras nem tanto, alguns passos de dança demasiado modernos para meu gosto – adoro dança contemporânea, mas se é um ballet clássico já adiro menos a modernidades -, mas gostei de poder acompanhar uma narrativa que todos conhecemos razoavelmente bem, as aventuras de Carlos da Maia e de Maria Eduarda, a ser dançada em cima de um palco, só essa experiência valeu a pena.

Não tive a sorte de ver a dançar os bailarinos da CNB que mais admiro, e o espetáculo não me encheu verdadeiramente as medidas, mas ainda assim é um enorme prazer ver estes espetáculos que a CNB nos oferece.

Só uma nota, na audiência estavam dezenas de crianças de tenra idade, todas muitíssimo bem-comportadas durante um espetáculo com duas horas de duração, parabéns aos pais.

 

26
Out25

Dos filmes que adoramos - Springsteen - Deliver Me From Nowhere, de Scott Cooper

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Bruce Springsteen será a estrela internacional que mais admiro no mundo da música pop-rock, não só pelas suas canções, sobretudo pelas suas canções, mas também pelo exemplo e pelo farol que sempre tem sido, a sua voz contra o que se passa hoje na América faz-se ouvir bem alto e sem medo, disclaimer feito, este texto não tem nada de imparcial.

Esperei ansiosamente pelo dia de ir a uma sala de cinema ver Springsteen – Deliver Me From Nowhere, escolhi uma sala grande, com um bom sistema de som, a sala não estava cheia, estava a 2/3, algumas t-shirts pretas do Boss, do meu lado esquerdo dois americanos com ar de motoqueiros acabados de chegar para uns dias de férias, do meu lado direito um jovem educadíssimo que não resistia a levantar os braços no ar sempre que ouvia os primeiros acordes de uma canção, um avô com o neto de 20 e poucos anos, famílias de várias gerações, espetadores ávidos do que iam ver quase em modo de oração tal o respeito e a admiração que sentem por Springsteen, espetadores logo rendidos assim que ouvem Jeremy Allen White a tocar os primeiros acordes de Born to Run, com uma banda ao vivo numa arena repleta de pessoas a delirarem genuinamente com aquele momento, o mote estava lançado.

A história de Springsteen – Deliver Me From Nowhere começa em 1982 com o final da digressão do primeiro álbum de Springsteen, um álbum de estreia que foi um enorme sucesso e que praticamente o afirmou como uma estrela planetária, com os editores a pressionar um segundo álbum para o consolidarem e rentabilizarem o hype, e se o filme nos mostra o processo criativo daquele que veio a ser o seu segundo álbum, Nebraska, as inspirações que teve para compor, como compunha, a procura da sua confissão mais crua através de um som cru, imperfeito, com eco, um eco misterioso a dar voz a muitos fantasmas que todos temos a habitar em nós, e por isso o filme é também uma viagem à depressão, a esses nossos fantasmas, à sua relação com o pai, sempre presente, à saúde mental do pai que só mais tarde foi diagnosticada, à sua própria saúde mental, à sua depressão que alguém amigo o convenceu a pedir ajuda, depressão essa que é muito mais fácil com ajuda (e até pode ser muito criativa), ajuda essa que Springsteen nunca se envergonhou de dizer que não dispensa até hoje.

Não há como não falar do elenco, além do magistral Jeremy the bear Allen White, o produtor Jeremy Strong, o assistente Paul Walter Hauser, a pretensa namorada Odessa Young, a mãe Gaby Hoffman (o que eu gosto desta atriz, sempre secundária, sempre subtil), e o pai, Stephen Graham, que quando é encontrado perdido pelo filho num bar de LA protagoniza uma das cenas mais poderosas do filme, há olhares redentores que significam uma vida.

Tenho ainda de falar da fotografia do filme e de tantos planos tão bonitos, os contrastes de luz, o claro e o escuro.

Ao contrário do que é habitual, Bruce apoiou o filme, acompanhou as filmagens, procurando dar o mínimo de dicas possível, e gostou do resultado final, sente orgulho deste período que bateu no fundo e do álbum que aí foi gerado, Nebraska.

Adorei este Springsteen – Deliver Me From Nowhere, um filme que não defrauda os fãs, mas que é mais do que sobre cantigas.

 

24
Out25

Das séries de que gosto - Homicídios ao Domicílio (Only Murders in the Building)

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Já faz algum tempo desde a última vez que fiz uma partilha sobre séries, mas agora, que já só me falta o último episódio da 5ª temporada, já vos posso dizer porquê (como se alguém estivesse minimamente interessado 😊): estive a ver de enfiada todas as temporadas de Homicídios ao Domicílio.

Only Murders in the Building deve ser das séries mais desvalorizadas dos últimos anos, uma eterna perdedora nas suas quase 300 nomeações para prémios (ultimamente sempre derrotada para Hacks e The Bear), sobretudo porque é uma série que não se leva muito a sério, paira sobre si uma aparente leveza e futilidade mas Only Murders in the Building é um primado de humor, crime e mistério, um humor rocambolesco e muitas vezes bem ácido e negro, não soltamos gargalhadas de segurar a barriga mas estamos sempre a rir com as entrelinhas e o caricato das situações.

A tripla de atores, Steve Martin (também autor), Martin Short e Selena Gomez, parece um pouco inusitada no início, mas não demora muito a estarmos totalmente agarrados a este trio formidável, para além de todo um elenco, permanente ou apenas convidado para participações especiais, muitas vezes como cameos, absolutamente genial, senão vejam só alguns desses nomes: Meryl Streep, Da’Vine Joy Randolpf, Jackie Hoffman, Dianne Wiest, Shirley MacLaine, Christopf Waltz, Renée Zellweger, Amy Ryan, Nathan Lane, Tina Fey, Zach Galifianakis, Molly Shannon, Eva Longoria, Eugene Levy, Bobby Cannavale, Cara Delavigne, Mathew Broderick, Griffin Dunne, Sting, Amy Schumer, Mel Brooks, Ron Howard, Martin Scorcese, Melissa McCarthy, e John McEnroe, quase todos a rirem-se consigo mesmo, é uma delícia.

Lá pela 4ª temporada, um presunto vindo de Portugal assume honras de protagonista na história, uma pequena curiosidade com graça.

Não recomendo ver tudo de seguida, mas quem quiser episódios curtos de comédia inteligente, pode ter aqui a sua série, eu tive durante uns meses.

Na Disney+.

 

21
Out25

Dos espetáculos de que gosto – Rita Cabaço em Coelho Branco, Coelho Vermelho, de Nassim Soleimanpour

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Coelho Branco, Coelho Vermelho não tem encenador, nem ensaios, tem um texto fechado num envelope que é entregue a um ator já em cima do palco, que o abre em frente ao espetador e o interpreta consoante a sua sensibilidade, capacidade de improvisação e reação do público sentado na plateia, por isso esta peça, representada tantas e tantas vezes por esse mundo fora, por tantos atores consagrados, é sempre uma experiência única.

Em 2010, Nassim Soleimanpour, com cerca de 30 anos, vivia isolado em Teerão e impedido de sair do Irão, por se ter recusado a cumprir o serviço militar, escreveu esta peça na esperança de assim se conectar com o mundo, na esperança que eventuais espetadores entrassem em contacto consigo, via email, dizendo-lhe um simples olá, talvez assim se sentisse um pouco menos sozinho no seu caminho.

Coelho Branco, Coelho Vermelho não é propriamente um texto político, mas reflete um regime autoritarista e o preço a pagar por quem lhe desobedece, tendo por isso alguns momentos mais densos, mas adquire um tom predominantemente divertido fruto das cenas inusitadas pela interpelação do público, eu dei várias gargalhadas de bom rir.

Pelo Teatro Maria Matos têm passado, e continuarão a passar, excelentes atores, eu escolhi a sessão com a Rita Cabaço, rendido que ando com o seu toque de Midas, tudo em que toca é genial, e não tendo sido uma noite arrebatadora, foi sem dúvida uma noite de excelência.

(A segunda temporada continua em cartaz no Teatro Maria Matos até 17 de dezembro)

 

18
Out25

Dos espetáculos que vejo - Entre outras coisas, a pereira e o real, de Miguel Pereira e Sílvia Real

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Os coreógrafos e bailarinos da nova dança portuguesa dos anos 90, Miguel Pereira e Sílvia Real, juntaram-se para esta performance “Entre Outras Coisas, a pereira e o real”.

O trocadilho do título marca o tom de comédia que atravessa a peça, um denominador em todas as peças de Miguel Pereira (não conheço tão bem a obra de Sílvia Real), neste espetáculo fragmentário que me deixou algo nostálgico, sentir a inquietação daquelas personagens em palco, meios perdidos num mundo que não só os assusta mas onde têm dificuldades em se encaixar, pelo menos foi isso que eu senti.

Depois de ter passado por terras como Torres Novas e Castelo Branco, esteve dois dias no CCB em Lisboa, no dia que eu assisti não seríamos mais de 30 pessoas, difícil a vida para os artistas que não dominam as artes e as redes de fazerem chegar a sua obra a mais público – eu cá conseguir ir e gostei muito.

 

15
Out25

Dos filmes que adoramos - Manas, de Marianna Brennand

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Não fosse uma pessoa que muito prezo ter-me enviado um vídeo com a Julia Roberts e o Sean Penn muito comovidos e entusiasmados a falarem do filme MANAS, e este filme ter-me-ia passado algo indiferente enquanto esteve em exibição nas salas de cinema.

A brasileira Marianna Brennand investigou durante 10 anos estas histórias de gerações de meninas da ilha de Marajó, na região amazónica do Pará, e realizou este filme que promove a transformação social, quebra silêncios, provoca empatia e mobiliza, impossível ser indiferente a este belíssimo filme, diretamente para as listas dos melhores do ano, o cinema brasileiro continua a dar cartas no panorama mundial.

 

12
Out25

Das coisas de cinema e das despedidas - Diane Keaton

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Hollywood adorava-a, mas tive sempre a sensação de que o mundo nunca a celebrou como merecia, talvez por não se levar muito a sério e cultivar o seu lado irreverente, quase sempre de chapéu, calças e gravata, talvez por adorar fazer comédias de baixo orçamento, tinha um tempo de humor absolutamente notável – Alguém Tem que Ceder, ao lado de Jack Nicholson é uma das minhas comédias preferidas de sempre -, talvez por estas gerações nunca terem visto as suas obras-primas dos anos 70 e 80, tantos papeis onde nos entregou uma vulnerabilidade incrível, como não amar a maior das divas de Woody Allen?

O meu total fascínio por Manhattan e Nova Iorque nasceu com ela, morreu uma das minhas atrizes preferidas, Diana Keaton, triste.

 

11
Out25

Dos filmes de que gostamos - Lavagante, de Mário Barroso

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Gostei muito de muitas coisas no Lavagante de Mário Barroso, gostei menos de outras, mas depois já gostei mais das coisas de que tinha gostado menos, e no fim já não sei bem se não gostei de facto de alguma coisa, o que eu sei é que Lavagante é um filme português que merece muito ser visto.

O tom excessivamente melancólico, um pouco lento, de Francisco Froes e de Nuno Lopes foi o que me suscitou mais dúvidas, mas depois até me fez sentido naquelas personagens tão nostálgicas e vulneráveis, num retrato histórico tão bem conseguido dos anos de mordaça, de vigilância, de perseguição e de tortura.

O argumento, de António Pedro Vasconcelos a partir de uma novela de José Cardoso Pires, é muito rico, com camadas muito profundas, onde nem tudo o que parece é, mas ao belíssimo texto – que bonita a metáfora do lavagante e do safio - o realizador junta a sua própria fotografia, esplendorosa, a preto e branco, e a música de Mário Laginha.

Se tudo isto já é francamente bom, falta o melhor, uma atriz de seu nome Júlia Palha, que arraso, qual Sofia Loren ou Claudia Cardinale, uma torrente de sensualidade, subtileza e provocação, uma interpretação memorável.

 

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