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Bruce Springsteen será a estrela internacional que mais admiro no mundo da música pop-rock, não só pelas suas canções, sobretudo pelas suas canções, mas também pelo exemplo e pelo farol que sempre tem sido, a sua voz contra o que se passa hoje na América faz-se ouvir bem alto e sem medo, disclaimer feito, este texto não tem nada de imparcial.
Esperei ansiosamente pelo dia de ir a uma sala de cinema ver Springsteen – Deliver Me From Nowhere, escolhi uma sala grande, com um bom sistema de som, a sala não estava cheia, estava a 2/3, algumas t-shirts pretas do Boss, do meu lado esquerdo dois americanos com ar de motoqueiros acabados de chegar para uns dias de férias, do meu lado direito um jovem educadíssimo que não resistia a levantar os braços no ar sempre que ouvia os primeiros acordes de uma canção, um avô com o neto de 20 e poucos anos, famílias de várias gerações, espetadores ávidos do que iam ver quase em modo de oração tal o respeito e a admiração que sentem por Springsteen, espetadores logo rendidos assim que ouvem Jeremy Allen White a tocar os primeiros acordes de Born to Run, com uma banda ao vivo numa arena repleta de pessoas a delirarem genuinamente com aquele momento, o mote estava lançado.
A história de Springsteen – Deliver Me From Nowhere começa em 1982 com o final da digressão do primeiro álbum de Springsteen, um álbum de estreia que foi um enorme sucesso e que praticamente o afirmou como uma estrela planetária, com os editores a pressionar um segundo álbum para o consolidarem e rentabilizarem o hype, e se o filme nos mostra o processo criativo daquele que veio a ser o seu segundo álbum, Nebraska, as inspirações que teve para compor, como compunha, a procura da sua confissão mais crua através de um som cru, imperfeito, com eco, um eco misterioso a dar voz a muitos fantasmas que todos temos a habitar em nós, e por isso o filme é também uma viagem à depressão, a esses nossos fantasmas, à sua relação com o pai, sempre presente, à saúde mental do pai que só mais tarde foi diagnosticada, à sua própria saúde mental, à sua depressão que alguém amigo o convenceu a pedir ajuda, depressão essa que é muito mais fácil com ajuda (e até pode ser muito criativa), ajuda essa que Springsteen nunca se envergonhou de dizer que não dispensa até hoje.
Não há como não falar do elenco, além do magistral Jeremy the bear Allen White, o produtor Jeremy Strong, o assistente Paul Walter Hauser, a pretensa namorada Odessa Young, a mãe Gaby Hoffman (o que eu gosto desta atriz, sempre secundária, sempre subtil), e o pai, Stephen Graham, que quando é encontrado perdido pelo filho num bar de LA protagoniza uma das cenas mais poderosas do filme, há olhares redentores que significam uma vida.
Tenho ainda de falar da fotografia do filme e de tantos planos tão bonitos, os contrastes de luz, o claro e o escuro.
Ao contrário do que é habitual, Bruce apoiou o filme, acompanhou as filmagens, procurando dar o mínimo de dicas possível, e gostou do resultado final, sente orgulho deste período que bateu no fundo e do álbum que aí foi gerado, Nebraska.
Adorei este Springsteen – Deliver Me From Nowhere, um filme que não defrauda os fãs, mas que é mais do que sobre cantigas.