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BURRO VELHO

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13
Set24

Da atualidade política - o veto na gaveta da lei da eutanásia

BURRO VELHO

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É legal, mas não é possível.

Após vários vetos políticos de Marcelo, de chumbos do Tribunal Constitucional, depois de uma alargadíssima discussão pública e de um apurado trabalho legislativo, a Assembleia da República aprovou a Lei da Eutanásia em Maio de 2023, com uma redação suficientemente blindada para precaver quaisquer situações de excesso ou de incúria, que é mais ou menos o mesmo que dizer que a maioria do povo português decidiu conceder o direito à morte medicamente assistida àqueles que invocam para si o direito à sua própria vida, e que manifestamente sofrem de uma doença grave e incurável e que se encontram numa situação de grande sofrimento- a lei não mata ninguém nem obrigará ninguém a matar, isso não existe!

Mas apesar de já ser legal, ainda não é possível, é necessário regulamentar a forma como é que todo o processo se irá operacionalizar, e para isso o Governo tem de fazer aquilo para o qual foi mandatado, redigir e aprovar os regulamentos necessários, os quais terão de ser promulgados pelo senhor Presidente da República.

Mas alguns senhores que se julgam iluminados e acima da lei, resolveram empurrar as suas obrigações com a barriga e por omissão recusam-se a fazer o que tem de ser feito, meia dúzia de senhores arroga-se ao direito de pelas suas convicções pessoais quererem impedir que seja cumprida a lei, tudo isto com o beneplácito da magistratura de influência negativa do suposto crente católico Marcelo Presidente, e digo ‘suposto’ porque a posição individual de cada um sobre esta matéria nada ter a ver com a fé católica, certamente que o Jesus Cristo do amor não desejará que os seus crentes sofram inauditamente, quando tudo o que querem é descansar sem fazer mal a ninguém.

Não vou discutir agora a bondade da lei, sim, ponderados todos os riscos sou convictamente favorável à lei e à dignidade humana que a lei concede a todos, mas as nossas posições individuais não relevam para a discussão que se está a ter no momento, acredito que o respeito pelos doentes, que possam estar a aguardar, obriga a que tenhamos de dar voz a este movimento que agora surge e apoiar a carta aberta que muitas personalidades dirigiram ao Governo, a qual afirma que “regulamentar a eutanásia é respeitar a democracia” – Sr. Primeiro Ministro, deixe se ser sonso e xico-esperto, não se esconda com minudências artificiais e cumpra a democracia e o estado de direito que ainda é Portugal.

 

12
Set24

Da atualidade internacional - Trump vs Kamala e Taylor Swift

BURRO VELHO

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Uma sondagem efetuada pela revista NEWSWEEK, no início de 2024, concluiu que 18% dos votantes norte-americanos reconhecem que votariam com mais probabilidade num candidato à corrida presidencial que viesse a ser apoiado por Taylor Swift, 18%! 18%? Muitos de vós pensarão o mesmo que eu, isto só é possível na América, mas ninguém pode duvidar que esse endorsement a um dos candidatos lhes iria trazer mais votantes, sem dúvida alguma.

Diz também a NEWSWEEK, que aproximadamente 3 em cada 10 eleitores com menos de 35 anos votariam com mais probabilidade no candidato Swift, sendo que nestas eleições esperam-se 8 milhões de novos eleitores, significando aproximadamente 41 milhões de potenciais eleitores da Geração Z.

Mal terminou o debate entre Trump e Harris, num comunicado que terá sido estudado ao pormenor, Taylor Swift concedeu o seu firme apoio a Kamala e assinou com uma frase absolutamente assassina para o lado de Trump, ridicularizando e expondo o perigo da frase proferida pelo candidato a vice J.D. Vance, quando este disse que o país não podia ser governando por um bando de mulheres com gatos e sem filhos, pasme-se!

Já escrevi aqui há alguns meses que não compreendo o fenómeno Swift nem tenho especial simpatia pela artista, mas saúdo entusiasticamente este endorsement, tudo o que contribua, nem que seja marginalmente, para a eleição de Kamala Harris é precioso, vai com tudo childless cat lady.

 

11
Set24

Dos filmes que vejo - Ritual, de Ingmar Bergman

BURRO VELHO

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Para quem como eu conhece pouco a obra de Ingmar Bergman – gosto muito de Fanny & Alexandre, Cenas da Vida Conjugal ou Sonata de Outono mas não me recordo de ter visto mais algum dos seus filmes -, a Leopardo Filmes deu-nos agora a possibilidade de vermos grande parte da obra do realizador sueco com um ciclo de cinema que mostra 31 dos seus filmes, alguns inéditos nos cinemas de Portugal, retrospetiva essa disponível em várias salas do país até ao mês de outubro.

Na verdade estou mais uma vez a desperdiçar esta oportunidade, ainda assim consegui ver RITUAL, filme de 1969 com pouco mais de 1 hora de duração e feito para passar na televisão, e se no início se estranha de tão bizarro que é, a história de uma trupe de teatro ambulante que é sequestrada por um juiz por alegadas obscenidades e atentado ao pudor, depois entranha-se... e sendo um objeto de cinema com uma estrutura tão linear, apenas 4 atores confinados a 4 exíguas paredes, não deixou de me impressionar como é que em 1969 a televisão sueca passava telefilmes como este, tão fora da caixa, arrojados e desafiadores da moral e bons costumes, nós em Portugal na altura tão bafientos e estes suecos tão à frente.

 

10
Set24

Das coisas de cinema - Pedro Almodovar e o Leão de Ouro em Veneza

BURRO VELHO

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O festival de cinema de Veneza é muitas vezes diminuído face a outros certames por ser, supostamente, uma montra de filmes norte-americanos e ter-se rendido às Netflix dos dias de hoje, pois bem, a edição de 2024 parece ter sido um luxo tal a qualidade superlativa dos filmes apresentados, quer a concurso quer fora de competição.

Estou em pulgas para ver tantos e tantos filmes que passaram por Veneza, a história do Adrien Brody judeu tão mal tratado na América do pós-guerra em The Brutalist, as consequências da ditadura militar no Brasil de Walter Salles com Fernanda Montenegro e Fernanda Torres, a loucura a dois no Joker musical de Joaquim Phoenix e Lady Gaga, a executiva ninfomaníaca Nicole Kidman em Babygirl, o Queer do 007 Daniel Craig pela mão de Guadagnino, as clivagens entre pai e filho provocadas por ideologias políticas no francês Jouer Avec le Feu, a vida agitada numa aldeia remota na Itália dos anos 40 em Vermiglio, o policial pela mão de Jude Law em The Order, a Maria Callas na pele de Angelina Jolie pela lente de Pablo Larraín, a graça de Clooney e Pitt em Wolfs que ainda deve ser mais divertida do que vê-los aos 2 a desfilar na passadeira vermelha, estou verdadeiramente em pulgas para conseguir ver todas estas pérolas, mas ainda não vos falei é do filme sobre o qual conto mesmo os segundos para me sentar a vê-lo no escuro da sala de cinema, que por acaso, ou talvez não, foi o grande vencedor do Leão de Ouro de 2024.

The Room Next Door é o primeiro filme em língua inglesa realizado por Pedro Almodóvar, a roçar na temática da eutanásia e com Tilda Swinton e Julianne Moore como protagonistas, só o trailer deixa água na boca, isto deve ser tão bom, mas tão bom.

A foto partilhada faz parte da produção que este trio maravilha fez para a Vogue Espanha, absolutamente icónicos!

 

06
Set24

Dos documentários que vejo - Elis & Tom

BURRO VELHO

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Poder ver neste “Elis & Tom, Só Tinha de Ser com Você” todos os meandros e o método da composição criativa do álbum homónimo, do grande mestre Tom Jobim e da transcendental Elis Regina, é um privilégio imenso, este Elis & Tom que é um dos álbuns mais bonitos da música popular brasileira e que inclui uma das canções mais icónicas do século XX, Águas de Março. Que bálsamo tão bom.

 

05
Set24

Dos filmes de que eu gosto - A Terra Queimada, de Thomas Arslan

BURRO VELHO

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Este segundo filme de uma prometida trilogia do alemão Thomas Arslan, Terra Queimada (Verbrannte Erde, no original) é um policial à moda antiga, de poucas palavras e ação qb, parcimonioso, tenso, quase nostálgico, em que acabamos a torcer pelo ladrão profissional que rouba um quadro famoso de um museu de Berlim, Mulher ao Amanhecer, de Caspar David Friedrich, que não tem medo de despachar a sangue-frio um qualquer malfeitor mas que ainda segue uma ética, seja ela qual for. Muito bom.

 

03
Set24

Da desfaçatez dos políticos - a privatização da TAP e Miguel Pinto Luz

BURRO VELHO

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Não basta dizer que não é ilegal, o país já não pode tolerar os chico-espertos que se acham muito inteligentes a contratar as melhoras consultoras e sociedades de advogados para contornar a lei, se esta prática é eticamente inaceitável e deve ser punida pela Sociedade, escrutinando, denunciando, boicotando, causando danos reputacionais a quem prevarica, é ainda mais inadmissível quando em causa está a gestão do bem público.

Dito isto, e apesar da lei não permitir que uma pessoa compre uma empresa com dinheiro emprestado por esta, diz o relatório da auditoria da Inspeção Geral de Finanças (IGF) agora conhecido, que os nossos gestores e governantes arranjaram forma para o sinistro empresário norte-americano, o benfeitor Neeleman, comprar a TAP com o pelo do próprio cão, ou seja, trocando por miúdos e explicando de forma meio atamancada, ao que consta o senhor não tinha um tusto para investir, por isso engendrou-se uma forma de a Airbus lhe emprestar o dinheiro necessário, que ele usou para pagar as ações ao Estado, que por sua vez encomendou uma catrefada de aviões à dita empresa, assegurando-lhe assim o seu lucro, ao mesmo tempo que garantia o empréstimo pessoal que o senhor Neeleman recebeu. Mas ainda há mais, como os novos acionistas tinham de pagar o empréstimo à Airbus, a TAP arranjou uns contratos fictícios com uma empresa dos acionistas (o Senhor Neeleman já deu de frosques, mas a família Barraqueiro ainda por cá anda, creio) para assim lhes transferir as verbas necessárias para saldarem a dívida, sem terem de pagar impostos, claro.

Os nossos governantes arranjaram assim forma de maximizar o bem público, o Estado ficou a arder mas os empresários e a empresa dos aviões ficaram a ganhar, por isso as contas que se fizeram no fim foram positivas, acham eles, mas aqui o cerne não reside apenas no facto do negócio ter sido ruinoso para o Estado, até poderia ter sido financeiramente vantajoso, o que mais me choca é a desfaçatez com que os tais chico-espertos, que se acham mais inteligentes do que nós e que têm dinheiro para contratar quem sabe desenhar estes esquemas, montam esquemas que não violam descaradamente a lei mas que a contornam de forma tão despudorada e eticamente reprovável.

De acordo com a IGF, os responsáveis políticos tiveram conhecimento, e avalizaram, toda esta transação, pelo que, independentemente da responsabilidade criminal dos gestores e políticos envolvidos, que irá ser apurada em sede própria pelo Ministério Público, há que retirar ilações políticas, e esses governantes responsáveis têm nome, nomeadamente o senhor primeiro-ministro de então, Pedro Passos Coelho, a ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, e o Secretário de Estado com a tutela da TAP, Miguel Pinto Luz, o mesmo com a responsabilidade na nova privatização em curso, é giro, não é?

Impõe-se, portanto, a pergunta, Eng. Miguel Pinto Luz, vai sair do Governo pelo seu próprio pé ou vai esperar pelo dia que alguém lhe aponte a direção da rua?

 

03
Set24

Das coisas boas - ouvir Podcasts

BURRO VELHO

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Ao longo dos tempos vamos adquirindo novos hábitos, ganhamos uns, perdemos outros, às vezes para melhor, às vezes para pior, não importa, é a vida a acontecer, e nessa vida que vai acontecendo aderi tardiamente ao fenómeno dos podcasts, mas agora é algo que não dispenso, é todo um tempo que antes podia ser desperdiçado em momentos rotineiros e aborrecidos e agora aproveitamos para ouvir coisas que nos divertem e enriquecem, há pessoas que os ouvem enquanto cozinham ou arrumam a casa, outras enquanto fazem exercício, nas mais diversas circunstâncias, no meu caso as minhas viagens e deslocações para o trabalho deixaram de ser tempo deitado fora.

Ele há podcasts para todos os gostos e feitios, de humor, informação, entretenimento, saúde, literatura, de influencers parvos a falar de coisas inimagináveis, de tudo e mais umas botas, eu cá já vou tendo os meus preferidos, um deles é A Beleza das Pequenas Coisas, do jornalista Bernardo Mendonça, na plataforma do jornal Expresso, destacando aqui uma das conversas de que mais gostei de ouvir nos últimos tempos, aquela com uma das minhas escritoras de eleição, Dulce Maria Cardoso.

A simplicidade com que a escritora se deixa levar na conversa e fala de temas tão profundos e complexos - tecnologia, ética, filosofia, modernidade, velhice, cuidadores, literatura, etc. – é absolutamente desarmante e algo que só as pessoas superiormente inteligentes e sensíveis conseguem fazer, falar de forma que um idoso pouco mais do que analfabeto a consiga entender tão bem quanto um doutor das letras é absolutamente fascinante, além de a poder ler, que prazer tão grande este de poder ouvir Dulce Maria Cardoso.

No fim ainda fiquei com vontade de ir ouvir Elis a cantar Casa no Campo, porque essa é outra grande virtude dos podcasts, podermos conhecer quais as influências das pessoas que mais admiramos, ou respeitamos, e ir à descoberta, no fim ficamos mesmo mais ricos.

Boas audições!

 

02
Set24

Dos meus livros - Uma Brancura Luminosa, de Jon Fosse

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Estreei-me no recém laureado com prémio Nobel, o norueguês Jon Fosse, com o seu último livro UMA BRANCURA LUMINOSA, uma espécie de conto com pouco mais de 50 páginas, com uma escrita estruturada numa fórmula muito sincopada e repetitiva, de frases muito curtas arrumadas num único parágrafo, que convoca o leitor a mergulhar numa história onírica, com laivos de suspense, sobre a solidão de um homem que parte numa breve viagem sem destino conhecido.

Não é definitivamente um romance de grande fôlego, mas de uma penada é uma leitura completamente imersiva e comovente, é um belíssimo conto em forma de poesia, ou poesia na forma de um belíssimo conto.

 

30
Ago24

Dos filmes de que gostamos - A Linha, de Ursula Meier

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Ficamos logo atordoados com o início, não percebemos bem o que estamos a ver com tanta pancadaria encenada de forma tão teatral, começando-se logo a seguir a montar o puzzle, uma família disfuncional onde o ódio e o amor entre uma mãe e filha vacilam e alternam a cada instante, eu odeio-te mas não vivo sem o teu abraço, mas de facto entre pais e filhos não há linhas vermelhas que possam ser ultrapassadas, o amor umbilical permanece sempre lá.

Duas das irmãs são personagens tão complexas quanto estranhas e cativantes, muito convincentes, mas é a alegria desajustada, frágil e disparata da mãe, brilhante Valeria Bruni Tedeschi, que nos prende a cada cena deste insólito filme, A LINHA (La Ligne), da francesa Ursula Meier.

 

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