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BURRO VELHO

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22
Ago24

Dos meus livros - O Quarto de Giovanni, de James Baldwin

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O QUARTO DE GIOVANNI, um clássico de um dos principais escritores e ativistas norte-americano do século XX, James Baldwin, desenrola-se em Paris dos anos 50, com o expatriado David (tal como o próprio Baldwin) a envolver as outras duas personagens de um triângulo amoroso, Giovanni e Hella, na sua luta interna de descoberta e aceitação da sua identidade sexual, procurando não defraudar as expetativas que o seu pai e a sociedade têm sobre si, e não quebrar as suas próprias regras que algures concebeu como fundamentais para ser feliz e digno.

A escrita de Baldwin é melancólica e delicada, fazendo-nos voltar algumas vezes atrás para apreciar uma ou outra frase, mas arrasta-nos consigo para a vulnerabilidade destas personagens que se destroem pela força do amor, recordando-nos o autor que “não há muitas pessoas que tenham morrido de amor. Mas multidões pereceram, e estão a perecer a cada hora - e nos lugares mais estranhos! - por falta dele”.

Sempre o Amor. O nosso pelos outros. O dos outros por nós. E o por nós próprios.

 

25
Jul24

Dos meus livros - O Perfume das Flores à Noite, de Leïla Slimani

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Não partilho da opinião daqueles que consideram ‘O Perfume das Flores à Noite’ o melhor livro da franco-marroquina Leïla Slimani, a densidade e o arrebatamento das suas personagens nos seus três romances anteriores – O Jardim do Ogre; Canção Doce; O País dos Outros – não pode ser igual num livro de ensaio, mas neste exercício introspetivo sobre a solidão exigida para a arte de escrever, Slimani envolve-nos numa teia de memórias e evoca várias preocupações que a assaltam, a infância e adolescência, o pai, sempre o pai, o exílio, a orfandade de quem deixou o seu país de origem e nunca se integrou naquele que a acolheu, o próprio perfume das flores à noite, não se tratando tanto de um ensaio pesado sobre literatura, mas sobretudo um pulsar dos afetos da autora.

Lê-se de uma penada de tão fácil e imersiva que é esta escrita, mesmo que carregada de frases às quais apetece voltar várias vezes para as dissecarmos lentamente, como “a primeira regra quando se quer escrever um romance é dizer não”’ ou “o que não dizemos pertence-nos para sempre”.

 

11
Jul24

Dos meus livros - O chão dos pardais, de Dulce Maria Cardoso

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Dulce Maria Cardoso é uma escritora fenomenal, dona de um estilo muito característico, o de quem escreve com a maior das simplicidades sobre histórias banais de pessoas normais, que sem gorduras e poucas descrições nos oferece uma profunda densidade das suas personagens e nos prende da primeira à última página, e, como tal, Dulce Maria Cardoso só sabe escrever bem ou muitíssimo bem, e não tendo o fôlego de Eliete ou de O Retorno – absolutamente extraordinários -, O Chão dos Pardais, mesmo com um final atamancado e correndo o risco de rapidamente nos esquecermos do mesmo, ainda assim é um livro que nos cativa e que se lê num ápice.

 

 

25
Jun24

Dos meus livros - Baumgartner, de Paul Auster

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Nunca antes tinha lido Paul Auster, uma escolha sempre adiada agora precipitada com a sua morte recente, e de forma algo inusitada, ao invés de começar com os seus clássicos mais antigos e acompanhar a sua evolução, estreei-me com a sua mais recente obra, ‘Baumgartner’, e quase que aposto que este seu último livro pouco terá a ver com o Paul Auster por todos conhecido, o que, hélas, me vai obrigar a voltar a si mais vezes.

Em ‘Baumgartner’ vemos uma escrita pouco arrumada, quase caótica, recordando histórias desconexas entre si e que não pretendem chegar propriamente a lado nenhum, apenas dar voz a uma memória que saltita entre tantas memórias do passado, numa escrita escorreita, que sabe construir no leitor personagens riquíssimas, sem as descrever consegue em meia dúzia de linhas que nos pareçam já familiares, e no meio das maiores banalidades leva-nos de forma descomplicada a questões mais metafísicas ou filosóficas, qual o meu papel no mundo, qual o meu contributo para a sociedade, até quando me é permitido sonhar, tudo isto atravessado pelo envelhecimento e solidão, temas que naturalmente deviam ser muito caros a Auster quando escreveu este livro.

A vida e a escrita têm as suas ironias, o fim de ‘Baumgartner’ deixa-nos em suspenso a sonhar com o que aí virá, provavelmente contado num novo livro, livro esse que nunca foi escrito porque a doença de Auster tramou-o, ou se calhar foi essa mesma doença que deixou o final em aberto, para deixar ST Baumgartner e o próprio Auster voarem para aonde quiserem.

Poderá não ser o melhor Auster e não é um livro que nos desassossega e arrebata, mas é belíssimo livro que sem dúvida me irá fazer regressar muitas vezes a Paul Auster.

 

04
Jun24

Dos meus livros - Olhar para trás, de Juan Gabriel Vásquez

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OLHAR PARA TRÁS é um romance biográfico da família Cabrera, fantástica história sobre as feridas que o fanatismo político exacerbado pode infligir, um retrato profundamente intimista mas que percorre metade do século XX, que nos faz mergulhar na guerra civil espanhola, na revolução cultural de Mao Tsé-Tung e nas guerrilhas colombianas, até damos um salto nos dias de hoje à nossa Lisboa e à pastelaria Califa em Benfica, se isto não é grande literatura então o que será?

Juan Gabriel Vásquez é sem dúvida um dos melhores romancistas da contemporaneidade.

 

03
Jun24

Das idas à Feira do Livro

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Ir à Feira do Livro é quase uma obrigação social, penso até que quem ousa não ir receia dizê-lo em voz alta com medo de ser proscrito, seja à de Lisboa ou a qualquer uma das que se vão repetindo país fora, ahhh, mas é um logro ir à Feira do Livro, encontramos melhores promoções nas livrarias, ah acabamos sempre por gastar muito dinheiro, ah são sempre multidões à pinha, ah nas tardes de Sol é um calor que não se aguenta, ah mas são favas, tudo isso é verdade mas continua a ser muito bom ir à Feira do Livro, pelo menos à de Lisboa que é aquela que eu conheço, não só porque de facto encontramos algumas pechinchas, mesmo quem como eu não tem arte nem paciência para as procurar há sempre os livros do dia, mas porque a Feira é sempre uma festa, com escritores consagrados a autografar livros, com pessoas conhecidas que se atiram para cima de nós, com a religiosa barraquinha das farturas à nossa espera para levarmos meia-dúzia carregadinhas de açucar e canela para casa, viva a Feira do Livro.

Este ano até fui comedido, mas estou muito satisfeito com as minhas escolhas, três regressos e duas novidades.

Ah, e na quarta-feira lá voltarei para caçar o autógrafo da Leila Slimani, ora pois então.

 

08
Fev24

Dos meus livros - Estilhaços, de Bret Easton Ellis

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Um livro sobre adolescentes milionários em Los Angeles tinha tudo para correr mal, uma espécie de Beverly Hills, 90210 dos livros, mas ESTILHAÇOS, uma ficção pseudo-autobiográfica de Bret Easton Ellis, autor mais ou menos consagrado de Hollywood, é uma belíssima surpresa, se por um lado é jovem, fresco e sofisticado, por outro é cru, sombrio, tóxico e paranoico, lendo-se as 600 e tal páginas de forma desarvorada e no fim continuamos zonzos por mais algum tempo.

 

03
Jan24

Dos meus livros - A Breve Vida das Flores, de Valérie Perrin

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Sou muito fiel aos meus escritores e escritoras de eleição mas de vez em quando gosto de pôr o pé em ramo verde e arriscar no desconhecido, e Valerie Perrin era-me uma perfeita desconhecida até ter ouvido falar do seu nome num podcast sobre política, porque não experimentar? Em boa hora o fiz e descobri este romance luminoso que li vorazmente da primeira à última página, que prazer tão grande que foi este ‘A Breve Vida das Flores’, passado algures num cemitério duma pequena aldeia da Borgonha.

 

23
Nov23

Dos meus livros - Memória de Rapariga, de Annie Ernaux

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Annie Ernaux escreve histórias assumidamente sobre si própria e foi adiando o regresso à jovem e inocente rapariga que no verão de 1958 quis viver os seus sonhos de forma desfrenada e às cicatrizes que lhe deixou marcas nos dois anos seguintes, que terá deixado toda uma vida, e só agora (em 2014), ao fim de 56 anos, teve capacidade para recordar e conseguir superar o que havia dentro de si para superar.

Ultimamente tenho regressado livro sim livro não a Ernaux, quase que tenho feito um pingue pongue entre Ernaux e Barnes e sinto agora necessidade de lhes fazer uma pausa e ler outras coisas, mas Memória de Rapariga é Ernaux como só assim Ernaux saber ser, corajosa, empoderada e torrencial na forma despudorada como alterna a sensibilidade com a aspereza duma faca afiada.

 

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