Da atualidade - Lucília Gago, a audiência e as mulheres

Sim, a senhora procuradora-geral devia ter falado mais cedo ao país, sim, mais do que toda poderosa e intocável (o que em si mesmo não tem de ser uma coisa má, sinceramente prefiro um procurador-geral que se sinta forte e destemido) a senhora procuradora-geral pensa que não tem de prestar contas a ninguém, parece acreditar que ninguém pode ousar o atrevimento de questionar os métodos e os resultados de algumas primas-donas do Ministério Público, é essa a pele que a senhora procuradora-geral lhes parece querer vestir, sim, a senhora diz estar convencida de que não há fugas do segredo de justiça vindas de dentro do MP, sim, a senhora procuradora-geral tem uma figura muito antipática que em nada a favorece, sim, pessoalmente desejo que o novo ou nova procuradora-geral tenha um perfil muito distinto, sobretudo que saiba comunicar e estabelecer empatia, e sim, tenho muitas saudades do tempo da anterior ex-procuradora-geral, mas caramba, só vi alguns excertos da audiência parlamentar que deu a semana passada na Assembleia da República mas não vi nada de lesa-majestade, não lhe ouvi assim nada que me tivesse perturbado por aí além vindo da boca da PGR, e parece-me tonto quando toda a gente a cruxifica por ter um discurso misógino ao atacar as mulheres na casa dos 30 anos que engravidam muito – permitam-me ir contra a corrente mas muito sinceramente não vejo aqui alguma misoginia ou ataque às mulheres, se houvesse provavelmente a Instituição que lidera não teria aproximadamente 90% de mulheres abaixo dos 30 anos, a senhora procuradora-geral só apresentou um facto real e objetivo para justificar aquilo que lhe foi questionado, é factual que durante o período de gravidez e de aleitamento a jovem mãe não está a produzir e os resultados não podem aparecer como se lá estivesse a 100%, ou pode?
Não encontro ali nenhum juízo de valor ou sequer algum desincentivo, encontro muito mais um não temos meios para termos mais resultados e sermos mais rápidos.
Também me faz sorrir quando as pessoas que ficaram horrorizadas com esta afirmação vêm recordar que hoje em dia a Lei permite igualmente que seja o pai a gozar parte da licença e como tal é uma falácia dizer-se que ter muitas jovens mães no MP não pode justificar o atraso dos processos, a sério? Desconheço dados estatísticos oficiais, mas ou eu vivo num mundo muito à parte ou a afirmar-se que a simples existência da Lei assegura que pai e mãe gozam de forma equitativa esse período das licenças é ser pouco sério.
Quanto à audiência parlamentar, admito que possa ter feito a leitura errada, mas pareceu-me que os senhores deputados estavam muito mais preocupados com os casos mediáticos dos seus pares do que com todo o restante trabalho do MP, que não se deve circunscrever aos casos mediáticos, assim espero.
