Das séries que eu adoro - Adolescência
“Se fosse comprar um telemóvel para o meu filho de 13 anos, a primeira coisa que lhe diria é: este telemóvel não é teu”, citação de Álvaro Bilbao, conceituado neuropsicólogo espanhol com várias publicações sobre a temática das famílias e saúde.
Não tenho memória de tanta unanimidade em torno de uma série, ADOLESCÊNCIA, minissérie de apenas quatro episódios, tem vindo a ser considerada por muitos como a melhor série do ano, porque muito provavelmente será mesmo a melhor série de 2025.
Impõe-se falar da qualidade propriamente dita da série, e do seu impacto em quem a vê.
Não sendo propriamente uma originalidade, cada um dos quatro episódios, com duração aproximada de uma hora, foi filmada em plano sequência, ou seja, em contínuo, sem interrupções, um pouco como se estivéssemos a assistir a uma peça de teatro, conseguindo assim que o espetador mergulhe para o meio daquelas personagens, estamos ali no meio deles, somos testemunhas ao vivo do que está a acontecer, um prodígio de realização – reparem, sempre que houve necessidade de filmar de novo alguma cena tiveram de filmar tudo desde o princípio.
E a qualidade dos atores? Apetece dizer, c’os diabos, genial. Todas as interpretações são fulgurantes, mas não há como destacar duas, o eterno secundário Stephen Graham (e também criador da série) que dá corpo ao pai, e o jovem Owen Cooper na pele do adolescente, um jovem que até aqui nunca havia pensado ser ator, simplesmente colossais.
E quanto ao impacto da história em si? Com ou sem adolescentes em casa, é impossível não sentir uma forte comoção, o silêncio é absoluto enquanto vemos cada episódio, não há como nos distrairmos com o drama desta família, que pode tão bem ser o drama de qualquer família.
Com esta história de um rapaz de 13 anos acusado de assassinar uma rapariga (não há aqui spoiler, esse facto é-nos dado a conhecer logo nos primeiros cinco minutos), somos confrontados com a forma como desconhecemos os nossos filhos, como não sabemos o que se passa dentro do quarto e dos seus telemóveis, como as redes sociais e as influências tóxicas e misóginas estão a aumentar, de forma tão preocupante, a violência entre os jovens.
A realidade digital destes jovens é desconhecida para os pais, algo tão simples como a linguagem dos emojis, pais que se empenham em oferecer smartphones topo de gama aos filhos e que depois não têm a noção da personalidade que os filhos estão a desenvolver, os nossos filhos amorosos e exemplares sempre bem comportados na segurança do quarto, a forma inconsciente (e negligente) como os pais transferem a educação das crianças para o perigo dos influencers, tudo isto é muito perturbador, porque pode acontecer connosco, porque uma vida feliz de repente pode ficar virada de pantanas.
Em Adolescência não há juízos de valor, não há condenações sumárias nem certo e errado, há alertas, muitos alertas.
O governo britânico fez muito bem ao decidir que Adolescência deve ter visualização obrigatória nas escolas do Reino Unido, é fundamental que os pais e os filhos conversem sobre isto, que encontrem as suas estratégias, citando alguém no rescaldo da série, precisamos de pais presentes e não de pais perfeitos.
E voltando ao início desta publicação, que os pais de adolescentes reflitam bem quando, e como, hão de entregar um telemóvel às suas crianças.
Brilhante. Obrigatória.
Na Netflix.