Das séries que eu vejo - Severance
Não costumo ser fã de séries, filmes ou livros sobre distopias ou ficção científica mais psicológica, mas decidi-me a ver Severance quando saiu a segunda temporada (três anos depois da primeira) e o coro de críticas foi unânime e super entusiasta, a melhor série dos últimos anos, a mais inteligente, a mais complexa, a mais tudo e tudo, pelo menos até à Netflix ter lançado Adolescense.
Vi as duas temporadas já existentes de empreitada, não verei a terceira.
Já admiti que o problema sou eu, consigo perceber aqueles que lhe tecem os maiores elogios, é bastante criativa, não me recordo de ver nada parecido, os planos da realização são prodigiosos, toda a estética é muito apelativa, o Adam Scott e companhia são todos ótimos, a temática promete, a manipulação das grandes empresas capitalistas, o fanatismo religioso, o trauma, tudo parece ser muito profundo e dado a grandes reflexões, mas quase nada resulta, para mim foi (quase) tudo um grande aborrecimento (apesar de pérolas deliciosas, como quando vemos o Mr. Milchick numa coreografia dançada absolutamente hilariante) - no total de 20 episódios só não adormeci nos últimos de cada temporada, e eu nunca adormeço a ver séries.
Um dos meus problemas com este tipo de séries, sobre realidades distópicas, é que com a desculpa de o argumento ser super criativo, inovador, complexo, inteligente e profundo, as coisas podem ser só tolas e não ter nexo nenhum, o texto pode estar cheio de incoerências e nada se explicar, porque a nossa inteligência e imaginação tudo explicam, mas comigo esta receita dificilmente funciona.
Não nego que os finais foram em ambas as temporadas entusiasmantes, mas antes tivemos nove episódios para encher tripa, quase sempre num impasse sem saber para onde queriam ir - ah, a isso chama-se mistério, dirão alguns -, se eu quiser ser mais benevolente nove episódios a preparar o final apoteótico, sendo verdade que não consegui desistir na expetativa do que iria acontecer a seguir (o que só por si já tem mérito), mas no final o balanço soube a muito pouco, a pouco mais do que um pastelão pomposo a querer impressionar com tanto virtuosismo.