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BURRO VELHO

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18
Mar23

Dos escritores de que gosto - Miguel Esteves Cardoso

BURRO VELHO

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‘Tu és o amor, Maria João. Eu sou apenas a sorte de poder amar-te.”

 

‘Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo’.

 

Hoje em dia Miguel Esteves Cardoso gosta de escrever sobre o amor, sobre a sua Maria João e sobre a puta da vida que é linda, gosta de escrever sobre coisas que gosta, gosta de gostar, da tasca onde comeu uns jaquinzinhos fritos ou dos passarinhos que assomaram à janela, mas já há muitos e muitos anos que escreve crónicas sobre o que lhe dá na real gana e lançou muito recentemente mais um livro com crónicas publicadas no semanário Independente – ‘Independente Demente’.

Cresci nos anos 80, com pouco acesso à cultura, a possibilidade de termos um Miguel Esteves Cardoso que nos entrava casa dentro com o seu Caderno 3 do semanário Independente, e durante algum tempo com a mítica revista Kapa (espero ainda ter o primeiro número sagradamente guardado na casa materna), era abrir-nos uma porta ao mundo, era abrir-nos totalmente as portas do nosso pequeno mundo.

Ele falava de bandas inglesas que nunca tínhamos ouvido, parecia que os Joy Division eram uma banda que a malta gostava, ele brincava com as nossas expressões populares e com a toponímia das nossas terreolas com nome esquisito ou brejeiro como Cabrão, Coina ou Bombom do Bogadouro, criticava os maus hábitos portugueses que na altura ainda cuspiam no chão mais do que cospem hoje, ele achincalhava os seus ódios de estimação e fazia-nos rir ao dizer que era um crime o Paco Bandeira ter sido preso por razões não relacionadas com a sua qualidade musical, ele era livre nos disparates que escrevia, era aquilo que só a ele lhe era permitido ser (vá, a ele e aos seus companheiros de jornal), e não lhe era tudo permitido só porque o senhor de lacinho sopinha de massa tinha caído no goto dos portugueses, nada disso, era-lhe tudo permitido porque escrevia muito bem, era culto, acutilante e tudo nele era um desvario.

O primeiro livro que comprei com o meu dinheiro foi ‘Os meus problemas’, e depois ‘A causa das coisas’, leio muitas das suas crónicas e procuro não perder nenhuma das entrevistas, ainda assim não sou seu leitor tão assíduo quanto gostaria, mas tenho cá para mim que se o Bob Dylan ganhou um Nobel com as suas músicas, por mim o MEC também devia ganhar um com as suas crónicas.

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