Dos filmes que amamos - Ainda Estou Aqui, de Walter Salles
Numa noite durante a semana, a sala em que vi AINDA ESTOU AQUI estava repleta, um silêncio sepulcral de comoção, mais de 200 pessoas em comunhão com um recordar coletivo dos perigos que todos vivemos num regime totalitário, AINDA ESTOU AQUI é claramente um filme político que se impõe mais do que nunca.
A alegria funcional da família Paiva no início soa a genuína, aquelas personagens parecem de carne e osso, nós aspiramos a ser como aquelas personagens, invejamos aquelas personagens, e num ápice tudo se desmorona, num ápice a vida troca-nos as voltas, mas há quem consiga contrapor à tragédia a nobreza e a coragem.
A memória histórica de um país é fortíssima neste filme de Walter Salles, mas é a intimidade duma família que nos arrasta consigo, no seu jogo de cumplicidades e de demonstrações sucessivas de amor, nas emoções que vivemos quase em família, e esta experiência em cinema é fortíssima, é grande cinema.
Não há como não destacar Fernanda Torres, um prodígio assombroso de representação, poder vê-la mais logo de fora das nomeações aos Óscares em favor de interpretações como as de Demi Moore, Karla Sofía Gascón ou Cynthia Erivo seria um ultraje. Saravá Nanda, saravá!
Que maravilha.