Dos meus livros - Cinco Esquinas, de Mario Vargas Llosa
Predomina o sentimento de que estamos a ler as notícias cor-de-rosa da revista Hola, personagens burguesas, frívolas, simplistas, a forçar muito a nota num erotismo de seda, mas Vargas Llosa não sabe escrever mal, Vargas Llosa é absolutamente um dos maiores escritores vivos e oferece-nos um livro que se lê de forma trepidante, envolvendo-nos na negritude da ditadura do ex-Presidente Fujimori (contra quem Vargas Llosa concorreu nas eleições presidenciais de 1990, falecido há poucos dias depois de ter passado alguns anos na prisão), que na crueldade da sua polícia política, a par dos sequestros frequentes nessa época do Sendero Luminoso e outros grupos terroristas, trazia o medo e a miséria aos Peruanos, havendo no entanto sempre alguém que tentava erguer mais alto a sua voz de coragem numa luz de esperança. Tudo isto enquanto os ricos iam a Miami ter as suas aventuras proibidas e esbanjar os seus milhões.
Para mim CINCO ESQUINAS está a anos luz de livros como Travessuras da Menina Má, O Sonho do Celta, O Herói discreto, História de Mayta ou A Tia Julia e o Escrevedor, a profundidade e a sensibilidade que reconheço em Vargas Llosa não parece morar aqui, a densidade parece que deu lugar à futilidade, se esta fosse a minha estreia no autor receio que não mais voltaria a si, mas ainda assim lê-se CINCO ESQUINAS com muito agrado e voltarei sempre e sempre a Vargas Llosa.