Dos meus livros - O Quarto do Bebé, de Anabela Mota Ribeiro
Sempre fui algo ambivalente em relação à Anabela Mota Ribeiro, há muitos anos que acompanho o seu trabalho e se globalmente aprecio, logo a seguir embirro com ninharias, às vezes interrogava-me mesmo se era genuíno ou pose, se não havia ali nada de fake.
Há uma clara similitude com a escrita de Annie Ernaux, de quem Anabela é devota e confessadamente admiradora, encontro em ambas a mesma forma de escrita e o mesmo propósito de escrita, o que para mim é um ótimo princípio sendo eu, também, um confesso entusiasta de Ernaux.
Aos meus olhos ‘O Quarto do Bebé’ não é um livro feminista, é sem dúvida um livro de grande sensibilidade feminina e sobre a condição feminina, que dá um chuto na vergonha e na culpa e nos oferece uma autoficção totalmente despudorada da doença, da fragilidade, do corpo, das origens (comoveu-me particularmente sempre que Ester do Rio Arco fala da mãe), do privilégio, com uma linguagem muito simples mas que denota um gosto esmerado por escolher sempre a palavra certa.
E sim, os bons cocós devem ser sempre celebrados.
É um livro imersivo, delicado, cru e, acima de tudo, bonito, muito bonito, e tão bem escrito.