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BURRO VELHO

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17
Dez24

Do CCB, de Dalila Rodrigues e dos espetáculos que adoro - Há Qualquer Coisa Prestes a Acontecer, de Victor Hugo Pontes

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Que beleza inaudita. Vou repetir, que beleza inaudita.

O CCB encomendou ao coreógrafo Victor Hugo Pontes uma obra sobre os 50 anos da liberdade conquistada em Abril, neste tempo pleno de ameaças, e Victor Hugo Pontes decidiu enveredar pela liberdade do nosso corpo, pondo em palco 19 bailarinos a explorar a liberdade do que nos é mais inviolável, o nosso corpo, 19 bailarinos sempre despidos numa peça coral em que o coletivo é sempre mais forte, mas sempre com espaço para a nossa singularidade e privacidade, às vezes todos juntos somos fortes e avançamos, às vezes sozinhos somos vulneráveis e delicados.

Ver dança é ver corpos em movimento a transmitirem-nos emoções, encontro o prazer dessas emoções quer no virtuosismo do ballet clássico quer na dança moderna, mas depois da experiência quase traumática de Alice no País das Maravilhas no dia anterior, foi a redenção absoluta ver logo a seguir este Há Qualquer Coisa Prestes a Acontecer, o ultimo espetáculo que vi em 2024 foi provavelmente o melhor, aquele conjunto de 19 bailarinos formidáveis foram emoção a jorro, quer a dançar em silêncio, com uma batida mais eletrónica, a ouvir Bach ou Debussy ou a catarse final com o Freddie Mercury, foi emoção pura na forma da liberdade dos nossos corpos, sozinhos ou em grupo, como deverá ser sempre.

Bravo, bravíssimo. Muito obrigado ao Victor Hugo Pontes e ao CCB, aquele que tem uma visão artística desalinhada com a Senhora Ministra, hélas!

 

08
Mar24

Dos espetáculos de que gosto - Fuck Me, de Marina Otero

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Desperdicei algum tempo no início de FUCK ME, espetáculo de dança autoficcional da coreógrafa argentina Marina Otero, a tentar perceber qual era a fronteira daquela lesão na coluna com a realidade (está mesmo entravada como diz estar?) e a questionar-me se a nudez em palco acrescentava alguma coisa ou se seria apenas gratuita ou para chocar, distraí-me alguns minutos com estes pensamentos e não entrei logo na peça, tão pouco o começo inusitado me prendeu de imediato, mas quando me concentrei no que estava a ver e ouvir em palco deixei-me levar por aquela torrente, um tumulto violento e uma fragilidade imensa.

Como li algures, FUCK ME alterna entre o documentário e a ficção, entre a dança e a performance, entre o acaso e a representação, e conta-nos a história de um corpo que envelheceu, que se destruiu, que secou, que se automutilou a dançar e que agora já não consegue dançar, que já não consegue nada, um corpo que mirrou e que apenas sobrevive, e que num jogo de espelhos se projeta e resolve dançar no corpo de cinco bailarinos, um corpo que se repete e que vive nos corpos desses bailarinos, causando no espetador alguma inquietação na indecisão se foca o seu olhar nos dançarinos em palco ou na dançarina que Marina Otero foi e que os écrans nos mostram por trás.

Se FUCK ME é uma história de destruição, uma história que ao invés da vitimização opta pela vingança, de uma mulher que se vinga dos homens, do avô da ditadura argentina e dos homens que a magoaram mas de quem ela soube aproveitar-se, FUCK ME é também uma história de regeneração, de renascer, mas FUCK ME é sobretudo dança, é vermos corpos fluídos a dançar, a exprimir tudo isto e sobretudo a expressaram sensualidade, corpos prenhes de uma intimidade visceral, de sexualidade, de sexo, e não, a nudez em palco não foi gratuita.

O espetáculo foi televisionado e transmitido pela RTP2 (atenção às boxes ou à RTP Play), estando eu muito curioso para ver se a experiência que sentimos ao ver no palco do CCB todo este tumulto, toda esta forma ousada e destemperada de nos escancararem a intimidade da artista, todas aquelas imagens poderosas que nos ficaram gravadas na pele, resulta igualmente no pequeno écran da televisão, ainda assim parabéns RTP por também programar espetáculos que arriscam e que são arriscados.

 

25
Set23

Dos espetáculos de que gosto - Gust9723

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Para mim a dança é das artes mais livres à tua imaginação e aos teus sentidos, sobretudo num espetáculo de dança contemporânea não tens de entender tudo, se conseguires usufruir de coisas como o movimento, a energia, o som, o espaço, se isso te trouxer prazer sem teres de estar a querer interpretar e descodificar tudo a todo o momento, então está perfeito.

Em Gust9723, do coreógrafo Francisco Camacho, vemos corpos à deriva de rajadas de vento (gust, em inglês), vemos a catástrofe e o caos a ditar o movimento dos sobreviventes, vemos a morte a pairar e a vontade de se lhe escapar, não vemos erotismo, vemos sobrevivência.

Há um outro aspeto muito bonito nesta obra, que foi dançada pela primeira vez em 1997, que é vermos o envelhecer dos nossos corpos e não nos esquecermos que estes vão se adaptando mas não temos de desistir das coisas de que gostamos: no cast de hoje encontramos seis dançarinos que estiveram em palco na peça original (Begoña Méndez, Carlota Lagido, Filipa Francisco, Marta Coutinho, Miguel Pereira e Rolando San Martín), com nove novos e jovens intérpretes, formando um corpo de baile uníssono e muito coeso, não resistindo a destacar uma bailarina de quem não consegui desviar o olhar, Sofia Kafol.

Gostei muito, no CCB.

 

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