Do CCB, de Dalila Rodrigues e dos espetáculos que adoro - Há Qualquer Coisa Prestes a Acontecer, de Victor Hugo Pontes
Que beleza inaudita. Vou repetir, que beleza inaudita.
O CCB encomendou ao coreógrafo Victor Hugo Pontes uma obra sobre os 50 anos da liberdade conquistada em Abril, neste tempo pleno de ameaças, e Victor Hugo Pontes decidiu enveredar pela liberdade do nosso corpo, pondo em palco 19 bailarinos a explorar a liberdade do que nos é mais inviolável, o nosso corpo, 19 bailarinos sempre despidos numa peça coral em que o coletivo é sempre mais forte, mas sempre com espaço para a nossa singularidade e privacidade, às vezes todos juntos somos fortes e avançamos, às vezes sozinhos somos vulneráveis e delicados.
Ver dança é ver corpos em movimento a transmitirem-nos emoções, encontro o prazer dessas emoções quer no virtuosismo do ballet clássico quer na dança moderna, mas depois da experiência quase traumática de Alice no País das Maravilhas no dia anterior, foi a redenção absoluta ver logo a seguir este Há Qualquer Coisa Prestes a Acontecer, o ultimo espetáculo que vi em 2024 foi provavelmente o melhor, aquele conjunto de 19 bailarinos formidáveis foram emoção a jorro, quer a dançar em silêncio, com uma batida mais eletrónica, a ouvir Bach ou Debussy ou a catarse final com o Freddie Mercury, foi emoção pura na forma da liberdade dos nossos corpos, sozinhos ou em grupo, como deverá ser sempre.
Bravo, bravíssimo. Muito obrigado ao Victor Hugo Pontes e ao CCB, aquele que tem uma visão artística desalinhada com a Senhora Ministra, hélas!