Dos filmes de que gostamos, das coisas de cinema e do Dia de Finados – Gente Vulgar, de Robert Redford

A propósito da morte recente de Robert Redford, vi há poucos dias uma reposição no cinema Nimas do primeiro filme realizado por si, Gente Vulgar (Ordinary People), vencedor surpresa do óscar de melhor filme e de melhor realizador em 1981.
Recordo-me de tê-lo visto nos anos 80 e da sensação então de não ter sensibilidade, ou maturidade, ou ambas, para apreciar o filme, mas nestes 30 e tal anos o filme envelheceu muito bem para mim, a subtileza contida como aborda o luto, a culpa, a reconstrução familiar, a repressão emocional, tudo com uma grande elegância e elevação, mas com a angústia à flor da pele, belíssimo filme este que Redford nos deixou.
Num ano com grandes filmes em contenda (estreados em 1980), Touro Enraivecido, O Homem Elefante, Tess, Star Wars, Fame, entre outros, apraz-me saber, passado tantos anos, que um filme discreto como Ordinary People tenha ganho.
Robert Redford nunca ganhou um óscar de interpretação (além de realizador ganhou dois honorários), nunca foi reconhecido pelos seus pares com um grande ator, não obstante ter interpretado filmes memoráveis como Os Homens do Presidente ou África Minha (na minha opinião era um excelente ator), mas Redford ia muito além do grande ecrã, mesmo no cinema, onde por exemplo fundou o festival de cinema de Sundance, atualmente talvez a mais importante montra de cinema independente no mundo, mas também como cidadão, um homem de causas, ambientalista que se refugiou no seu rancho, Redford era um baluarte da América boa, aquela América que nós tanto apreciamos, progressista, educada e respeitadora - que falta nos fazem estas vozes na América de hoje.
A minha geração que adora cinema já começou a assistir à partida dos seus ídolos, já nos despedimos de gente como Diane Keaton, Gene Hackman, Donald Sutherland, Maggie Smith ou Claudia Cardinale, e olhamos com ansiedade para aqueles que ainda estão no ativo mas que nunca sabemos se ainda os voltaremos a ver, Jack Nicholson, Clint Eastwood, Judi Dench, Woody Allen, Vanessa Redgrave, Michael Cane, Shirley Maclaine, Sofia Loren ou Fernanda Montenegro, e por aqui continuava, pelo que neste dia de hoje, que é o Dia de Finados, celebremos também os nossos mortos do mundo do cinema.









