Dos filmes de que eu gosto - Lee Miller: Na Linha da Frente, de Ellen Kuras
LEE MILLER: Na Linha da Frente (porque é que o título em português não é somente Lee, como no original?) é um filme biográfico sobre a famosa repórter fotográfica dos tempos da segunda guerra mundial, a mesma que se deixou fotografar na banheira de Hitler no próprio dia da morte deste, que deu a conhecer ao mundo os horrores dos campos de concentração e que antes havia sido uma modelo famosa, capa de revista da Vogue e amiga flamboyant de gente como Picasso, Man Ray ou Paul Elouard, uma personagem carismática com uma vida transbordante.
A meu ver, o filme peca por querer colar a cuspo algumas mensagens feministas, perfeitamente desnecessárias porque foram encaixadas a martelo na história, vieram a despropósito, e por a personalidade de Lee por si só já ser um manifesto feminista, emancipada, investida, menosprezando a moral, regras e bons costumes que eram impostas às mulheres, sem nunca renegar a sua vulnerabilidade e feminilidade, características que às vezes parecem ser disparatadamente antagonistas, não era preciso forjar cenas para defender jovens indefesas de ataques de imberbes marialvas, mas, com exceção deste reparo, gostei do filme, primeiro somos atraídos pelas personagens, depois estas trazem-nos respeito e admiração, até mesmo alguma comoção, sem nunca querer ser piegas.
A direção artística e o guarda-roupa são exímios, as cenas interiores do bombardeamento a Saint-Malo são de uma imensa beleza estética, as cores, os tecidos, as paredes, todo um salão outrora faustoso e agora estropiado pelas bombas, tal como a banda sonora de Alexandre Desplat, linda.
É verdade que falta algum fôlego ao filme, mas em cima de tudo isto ainda temos os atores, que elenco formidável, Josh O’Connor, Marion Cotillard, Andrea Riseborough, Andy Samberg, Alexander Skarsgard, Noemie Merlant, e, sobretudo, Kate Winslet, às vezes até me esqueço quão maravilhosa é esta atriz.