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Em O Rapto, do italiano Marco Bellocchio, vemos uma igreja católica no século XIX obscura, fanática, grotesca, que impunha aos crentes as suas verdades dogmáticas (espetacular a cena em que o menino Edgardo explica a Pio IX o que é uma dogma, uma verdade da fé em que se acredita sem se fazer perguntas, sem se discutir, porque vem diretamente de Deus) como forma para estes aceitarem as maiores atrocidades dos eclesiásticos, mesmo quando sob as suas vestes de cordeiro cortavam cerce nos laços familiares de uma criança com a sua família, nomeadamente neste célebre caso em que um bebé judeu foi batizado à revelia de seus pais e como tal foi-lhes raptado para ser educado à luz da fé católica, educado para ser obediente e subserviente, educado para servir a Igreja de forma acéfala e deixar morrer o homem que há dentro de cada um de nós.
O filme é de um classicismo puro, austero, imponente, por alturas de 1850 vemos uma Bolonha, e uma Santa Sé, opulenta, rica, próspera, virtuosa nos seus rituais judeus e católicos, aonde as pessoas e as casas sujas e pobres não têm lugar, onde o poder do Vaticano seca qualquer réstia de humanidade, talvez por isso me tenha faltado uma nesga para aos meus olhos O Rapto ser um filme extraordinário, daqueles que nos tiram o fôlego, talvez tenha faltado isso mesmo, sangue na guelra, ou humanidade se preferirem.