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BURRO VELHO

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24
Fev25

Dos espetáculos de que gosto - Forsythe/McNicol/Balanchine

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O ballet neoclássico afasta-se do ballet clássico porque não pretende contar uma narrativa mas sim focar-se na dança, no movimento, nas linhas, no virtuosismo e expressividade do bailarino, mas assente na técnica clássica, muitas vezes em pontas, e por isso dançado por bailarinos com formação clássica.

A Companhia Nacional de Bailado apresenta-nos agora três peça, estreadas entre 1992 e 2024, dos coreógrafos William Forsythe (Workwithinwork), Andrew McNicol (Upstream, uma encomenda para a CNB) e George Balanchine (Stravinsky Violin Concert), esta última acompanhada pela Orquestra Sinfónica Portuguesa.

Não gostei muito da primeira, adorei a segunda e gostei da terceira, sempre um deleite ver dança.

 

17
Dez24

Do CCB, de Dalila Rodrigues e dos espetáculos que adoro - Há Qualquer Coisa Prestes a Acontecer, de Victor Hugo Pontes

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Que beleza inaudita. Vou repetir, que beleza inaudita.

O CCB encomendou ao coreógrafo Victor Hugo Pontes uma obra sobre os 50 anos da liberdade conquistada em Abril, neste tempo pleno de ameaças, e Victor Hugo Pontes decidiu enveredar pela liberdade do nosso corpo, pondo em palco 19 bailarinos a explorar a liberdade do que nos é mais inviolável, o nosso corpo, 19 bailarinos sempre despidos numa peça coral em que o coletivo é sempre mais forte, mas sempre com espaço para a nossa singularidade e privacidade, às vezes todos juntos somos fortes e avançamos, às vezes sozinhos somos vulneráveis e delicados.

Ver dança é ver corpos em movimento a transmitirem-nos emoções, encontro o prazer dessas emoções quer no virtuosismo do ballet clássico quer na dança moderna, mas depois da experiência quase traumática de Alice no País das Maravilhas no dia anterior, foi a redenção absoluta ver logo a seguir este Há Qualquer Coisa Prestes a Acontecer, o ultimo espetáculo que vi em 2024 foi provavelmente o melhor, aquele conjunto de 19 bailarinos formidáveis foram emoção a jorro, quer a dançar em silêncio, com uma batida mais eletrónica, a ouvir Bach ou Debussy ou a catarse final com o Freddie Mercury, foi emoção pura na forma da liberdade dos nossos corpos, sozinhos ou em grupo, como deverá ser sempre.

Bravo, bravíssimo. Muito obrigado ao Victor Hugo Pontes e ao CCB, aquele que tem uma visão artística desalinhada com a Senhora Ministra, hélas!

 

16
Dez24

Dos espetáculos que vejo - Alice no País das Maravilhas, pela CNB

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Ir ao São Carlos ver o espetáculo de Natal da Companhia Nacional de Bailado é uma tradição caseira absolutamente preciosa, a modos que o espírito natalício se sintoniza mal vemos a Orquestra no fosso a afinar os instrumentos, tendo acontecido este ano na renovada casa da CNB, outro lugar de privilégio, o Teatro Camões em frente ao Tejo. Por aqui estamos felizes.

E se a ideia fosse ir ver um conto infantil para nos imbuirmos na magia natalícia, mais felizes ficaríamos, Alice no País das Maravilhas, encomenda de 2021 da CNB ao coreógrafo cubano Howard Quintero, inspirada no clássico infantil de Lewis Carroll, é um prodígio encantado de fantasia e metáforas, a atmosfera que nos invade é submersiva de tão sublime que é, graças ao trabalho de René Salazar, os figurinos são imaculados e os cenários incrivelmente bonitos e bem conseguidos, o contraste do tamanho de Alice antes e depois de beber a poção mágica é notável.

Mas a ideia era também ir ver dança, e aí, peço desculpa, mas não gostei mesmo nada, a coreografia em si mesma achei apatetada, digna de uma simples apresentação de uma Academia de Dança do primeiro ciclo, digo eu que de dança não percebo nada, a protagonista da sessão que eu vi (Tatiana Grenkova), achei trapalhona e desprovida de qualquer graciosidade, ai as mãos, ai as mãos, o corpo de baile imberbe, aquelas caras sempre em esforço a contar mentalmente o que vão ter de fazer a seguir, sobretudo as bailarinas, achei tudo muito sofrível – bati palmas à rainha Inês Ferrer e ao valete de copas Miguel Ramalho, bailarinos que admiro imenso, de resto, fiquei sentadinho sem aplaudir, não gostei, dos piores espetáculos que já vi pela CNB.

Até 29 de dezembro no Teatro Camões, em Lisboa.

 

28
Out24

Dos espetáculos de que gosto - Supernova / The Look

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Um bailado por dia, não sabe o bem que lhe fazia.

Ok, há um exagero nesta frase só para preservar a rima, mas vermos corpos a dançar, levados pela coreografia, pela música, pelas luzes, não precisarmos sequer de um texto para apreciarmos e sentirmos simplesmente prazer com o movimento, com as linhas, a conjugação de uma expressão visceral ou sensível com uma técnica exímia – sim, não suporto matacões a dançar, num palco, entenda-se -, ver um espetáculo de dança, seja contemporânea, um ballet clássico ou folclore, é das coisas que mais prazer me dá.

A Companhia Nacional de Bailado regressou a sua casa ao fim de largos meses fechada para obras ao abrigo do PRR, o Teatro Camões, na Expo, e estreou duas peças novas no seu repertório, Supernova, da dupla de coreógrafos Iratxe Ansa (espanhola) e Igor Bacovitch (italiano), e The Look, da israelita Sharon Eyal, não sei de qual gostei mais, adorei profundamente ambas as peças, vibrantes, intensas.

E que excelente corpo de baile, a brilhante técnica que está lá mas que não se mostra escancarada na cara do bailarino que a executa, tudo parece fluído e natural, notáveis, tendo de destacar o bailarino Miguel Ramalho, um dos bailarinos principais, e para mim o melhor, da CNB, sempre arrebatador.

Muito feliz este regresso ao Teatro Camões.

 

08
Mar24

Dos espetáculos de que gosto - Fuck Me, de Marina Otero

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Desperdicei algum tempo no início de FUCK ME, espetáculo de dança autoficcional da coreógrafa argentina Marina Otero, a tentar perceber qual era a fronteira daquela lesão na coluna com a realidade (está mesmo entravada como diz estar?) e a questionar-me se a nudez em palco acrescentava alguma coisa ou se seria apenas gratuita ou para chocar, distraí-me alguns minutos com estes pensamentos e não entrei logo na peça, tão pouco o começo inusitado me prendeu de imediato, mas quando me concentrei no que estava a ver e ouvir em palco deixei-me levar por aquela torrente, um tumulto violento e uma fragilidade imensa.

Como li algures, FUCK ME alterna entre o documentário e a ficção, entre a dança e a performance, entre o acaso e a representação, e conta-nos a história de um corpo que envelheceu, que se destruiu, que secou, que se automutilou a dançar e que agora já não consegue dançar, que já não consegue nada, um corpo que mirrou e que apenas sobrevive, e que num jogo de espelhos se projeta e resolve dançar no corpo de cinco bailarinos, um corpo que se repete e que vive nos corpos desses bailarinos, causando no espetador alguma inquietação na indecisão se foca o seu olhar nos dançarinos em palco ou na dançarina que Marina Otero foi e que os écrans nos mostram por trás.

Se FUCK ME é uma história de destruição, uma história que ao invés da vitimização opta pela vingança, de uma mulher que se vinga dos homens, do avô da ditadura argentina e dos homens que a magoaram mas de quem ela soube aproveitar-se, FUCK ME é também uma história de regeneração, de renascer, mas FUCK ME é sobretudo dança, é vermos corpos fluídos a dançar, a exprimir tudo isto e sobretudo a expressaram sensualidade, corpos prenhes de uma intimidade visceral, de sexualidade, de sexo, e não, a nudez em palco não foi gratuita.

O espetáculo foi televisionado e transmitido pela RTP2 (atenção às boxes ou à RTP Play), estando eu muito curioso para ver se a experiência que sentimos ao ver no palco do CCB todo este tumulto, toda esta forma ousada e destemperada de nos escancararem a intimidade da artista, todas aquelas imagens poderosas que nos ficaram gravadas na pele, resulta igualmente no pequeno écran da televisão, ainda assim parabéns RTP por também programar espetáculos que arriscam e que são arriscados.

 

16
Mar23

Dos espetáculos de que gosto - Keersmaeker, Lopez & Ekman

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CNB

 

Dança contemporânea com três coreógrafos diferentes pela CNB e com o quarteto de cordas de Matosinhos em palco: gostei de Grosse Fuge, reposição da belga Anne Teresa Keersmaeker, não gostei nada de Avant qu’il n’y ait le silence do luso Fabian Lopez (gostava de ver dançado por outros bailarinos, achei estes muito sofríveis, os rapazes sem qualquer intensidade nem noção de sincronismo sofriam por antecipação só de pensar que iam ter de elevar as moças de tão tenrinhos que eram ) e adorei Cacti do sueco enfant terrible Alexander Ekman, nunca antes dançado por cá, as palmas que não bati nos primeiros entreguei-as todas no último, bravo!

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