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BURRO VELHO

BURRO VELHO

28
Mar23

Tá tudo doido - o cancelamento de Enid Blyton e outros que tais

BURRO VELHO

enidBlyton

 

Algumas cabeças pensantes e as bibliotecas do município de Denver, no Reino Unido – sim, no baluarte do nosso mundo ocidental -, acreditam que a escritora inglesa de livros infantis Enid Blyton, que todos conhecemos e lemos em ‘Os cinco’ e ‘Noddy’, é uma ameaça para as indefesas crianças que possam requisitar os seus livros, os meninos e meninas correm o perigo de se mutarem em adultos perturbados por lerem tais ignomínias, sim porque Blyton foi a rainha da linguagem abusiva e usou expressões como ‘gay’ e ‘cala a boca’, que insanidade.

Então vai daí e o que acharam que era bem feito? Não retirar definitivamente os livros porque isso podia ser mal interpretado, e trazer-lhes chatices, mas recolher os livros para uma parte pouco acessível da biblioteca, e se ainda assim alguma criança tresmalhada insistir em ler alguma aventura da Zé e dos amigos, então o bibliotecário vem ao seu encalço para lhe explicar o perigo em que incorre, em simultâneo lançaram novas edições em que reescreveram a história com termos mais inofensivos.

Isto é de bradar aos céus.

Não vou tanto pelo lado que é preciso contextualizar o momento histórico em que a escritora viveu e que na altura haviam coisas consideradas aceitáveis que hoje, e bem, já não consideramos, chama-se a isto o avanço civilizacional, não vou tanto pelo lado que todos nós temos centenas de exemplos de crueldades atrozes das histórias e dos desenhos animados da nossa infância, e não foi por isso que nos tornámos más pessoas, não vou tanto pelo lado que para a educação da criança contribuem muitas coisas diferentes e que os pais têm um papel determinante nessa educação, para mim o assunto morre muito antes disso.

A liberdade de discurso e a criatividade artística não devem ser postas em causa, cabe à sociedade fazer os seus próprios juízos e ignorar ou rejeitar aquilo que não lhe interessa, cabe à sociedade achar que os livros da Enid Blyton se calhar envelheceram mal e hoje não têm assim tanto interesse e deixar de os requisitar nas bibliotecas ou os comprar nas livrarias, mas em momento algum o Estado ou alguém se pode arrogar o direito de torpedear uma obra artística e de ser o fiel da balança entre o bem e o mal, do certo e do errado, quem é que decide quais são as palavras aceitáveis nos livros que damos às nossas crianças para lerem?

Esta política do cancelamento dos nossos dias é absolutamente inusitada e assustadora, Agatha Christie, Ian Fleming ou Roald Dahl são outros exemplos, mas infelizmente o cardápio dos cancelamentos vai muito mais além do mundo dos livros - do cinema à música passando pela história e até pelos jardins brasonados -, e citando o poeta alemão Heinrich Heine que nestes dias tem sido muito citado a propósito desta polémica, assumo aqui a falta de originalidade, ONDE DE QUEIMAM LIVROS ACABAM A QUEIMAR-SE PESSOAS.

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