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BURRO VELHO

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31
Out23

Da vida das cidades - Monumental, em Lisboa

BURRO VELHO

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O cinema Monumental tem um papel histórico na cidade de Lisboa absolutamente inolvidável, não sendo eu sequer um alfacinha – cresci a algumas centenas de quilómetros da capital -, foi ao Monumental que fui pela primeira vez ao cinema, ‘Uma Ilha no Teto do Mundo’, cuja única memória que guardo é precisamente a experiência de ir ao cinema e do grande cartaz com um dirigível muito colorido.

O município e as autoridades que tutelam a cidade não podem gerir uma cidade apagando o seu património e a sua memória coletiva, devem respeitar as suas vivências e tradições (bem sei que Moedas e os seus antecessores têm estado perfeitamente a borrifar-se para isso, tudo o que não sejam hoteis é mato), mas quando agora, a propósito da reconstrução do espaço por um promotor privado, se discute se as antigas salas de cinema devem voltar a abrir enquanto tal, ou dar lugar a uma escola inclusiva e gratuita para adolescentes no domínio das tecnologias (projeto altamente interessante), não estamos só a falar da memória e da história, nem apenas de cinema versus escola, estamos a falar também de urbanismo e  de uma visão para a cidade que se quer ter – ao trazerem para a praça do Saldanha apenas serviços ‘diurnos’ e não ancorar algo que faça mover as pessoas a qualquer hora do dia e da noite, estamos a potenciar uma cidade vazia, triste e perigosa e a empurrar as pessoas para o interior dos centros comerciais.

Daquilo que li o município de Lisboa terá dado (ou inclina-se a dar) parecer favorável à escola, mas a decisão estará na dependência do senhor Ministro da cultura, ao que não lhe será certamente indiferente o facto de Lisboa ser das piores capitais para se ver cinema em espaços ‘de rua’ (observe-se a pujança da Invicta e a tendência que se vai confirmando pela Europa fora), por isso, senhor Ministro, contamos consigo para que tome a decisão acertada.

 

30
Ago23

Da atualidade internacional - A proibição do uso da Abaya nas escolas francesas

BURRO VELHO

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O ministério da educação francês acabou de anunciar a proibição nas escolas públicas do uso da Abaya e dos qamis, vestes muçulmanas utilizadas pelas raparigas e rapazes magrebinos, respetivamente.

É um tema difícil e muito sensível que exige muita ponderação, mas tendo a concordar com a decisão tomada pelo jovem ministro francês Gabriel Attal, o qual demonstra coragem política que é algo que muito aprecio e costuma escassear, a coragem política.

Nós, estrangeiros, não saberemos avaliar algumas nuances desta discussão pois os franceses há muito têm uma cultura de laicidade muito enraizada, e, por outro lado, têm sido vítimas de radicalismos religiosos muito agressivos, mas há aspetos de discussão universal.

Está ou não o governo francês a limitar a liberdade de expressão individual? Está ou não o governo francês a limitar a liberdade religiosa? Pode ou não um país soberano preservar a sua cultura e os seus valores à custa de quem vem de fora?

Sim, não e sim, as minhas respostas às questões acima.

Está inegavelmente a restringir as liberdades individuais dos alunos, mas a liberdade de expressão nunca foi, nem pode ser, um valor absoluto, há que equilibrar vários direitos, é mais ou menos consensual que os alunos não podem ir despidos para a escola, e isso também é uma restrição à liberdade individual.

Desde 2004 que em França é proibido o uso ostensivo de símbolos e vestes que manifestem a pertença a uma religião, só que as abayas e os qamis têm sobrevivido em terra de ninguém, até porque o Conselho Francês para o Culto Muçulmano entende que não se tratam de símbolos religiosos muçulmanos, cabendo até aqui às direções escolares o critério de autorização.

Os ataques à laicidade estarão a aumentar exponencialmente nos últimos meses e há uma perceção que estas comunidades estrangeiras, algumas já de segunda e terceira geração, se recusam a integrar na cultura francesa e teimam em impor a sua própria cultura, e aqui já entramos em terreno mais escorregadio, pode um país impor a sua cultura àqueles que acolhe? Eu diria que sim, tão pouco me choca medidas mais extremas como aquelas que na Alemanha e Dinamarca condicionam o acesso ao mercado de trabalho ao domínio da língua.

São os países soberanos ou não para defender os costumes e valores da sua cultura? Não se põe em causa uma política de acolhimento e integração a quem vai de fora, todos ganhamos com isso, mas quem não se revê nos nossos princípios basilares então que se abstenha de vir.

A liberdade religiosa não está em causa, as pessoas são livres de professarem o seu culto, mas esta é claramente uma discussão religiosa, e nisso estou ao lado do ministro, a escola deve ser um santuário secular, ou seja, o professor não deve poder olhar para o aluno e conseguir identificar desde logo qual a sua confissão religiosa, a escola tem de ser um espaço livre de preconceitos para os estudantes, a religião professada em casa tem de ser deixada de fora.

 

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