Da atualidade - o jornalismo e o submersível que afundou
Nos últimos dias foi amoral vermos as honras de primeiras páginas dos jornais e das aberturas dos telejornais, que foi dada ao submersível que desapareceu numa viagem ao fundo do mar, em detrimento e por comparação com outro barco que também afundou ao largo da costa grega, este com aproximadamente 700 pessoas, das quais umas centenas terão morrido.
O jornalismo tem um papel fundamental em qualquer sociedade e um jornalismo sério e credível não deve confundir o essencial, a notícia é seguramente a história daqueles imigrantes, que se viram obrigados a fugir dos seus países de origem, arriscar as suas vidas, e agora serem de novo deportados para trás, a notícia não devia ser a história de cinco pessoas milionárias, que por sua conta e risco, e muita vaidade, resolveram meter-se numa caranguejola pelo atlântico adentro, há aqui uma clara inversão da importância e da função da notícia que é triste e preocupante.
Mas numa altura em que ninguém compra jornais, em que ninguém dá valor ao preço da notícia, e quando todos nós preferimos ouvir falar sobre as manobras e hipóteses teóricas de salvamento dos multimilionários - estarão vivos ou mortos? Quem são eles? Quanto pagaram por cada bilhete? -, é mesmo razoável esperar que os jornais e televisões, com os cofres vazios e sob a ditadura do lucro do acionista, privilegiem a ética e o rigor e desperdicem audiências e leitores garantidos?