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BURRO VELHO

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18
Jul25

Dos livros e dos filmes que amamos - Um Quarto Com Vista (sobre a cidade)

BURRO VELHO

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Crescer na província nos anos 80 e gostares de cinema eram coisas (quase) incompatíveis, os filmes chegavam à sala de cinema com anos de atraso, a oferta nos dois canais de televisão era muito pouca, não tinhas acesso a revistas nem nada disso, era um mundo quase inacessível, mas os filmes infantis nas matinés dos domingos às 11 da manhã, esses ninguém nos tirava (será que às 11 da manhã se diz matiné, creio que sim).

Por isso, no meu caso, nem foram tanto os filmes que me despertaram o amor pelo cinema, porque poucos filmes via, foi mais todo um aparato à volta do mundo dos filmes que me seduzia.

As minhas primeiras memórias cinematográficas são um bocado tontas, risíveis até, um cartaz gigante na fachada do velhinho cinema Monumental, em Lisboa, do filme ‘Uma Ilha no Teto do Mundo’, a primeira vez que fui ao cinema numa vinda milagrosa à capital, do filme nada me lembro, mas o cartaz ficou para sempre.

Ou então as filas para ir ver o Africa Minha quando o cinema da terra esgotou durante sessões consecutivas, afinal era o grande vencedor dos óscares, e eu não pude entrar porque era pequeno, tive de aguardar pela reação da mãe que foi com a vizinha.

Ou então a música do Joe Cocker que o meu irmão ouvia a toda a hora na cassete, e que também me deixou à porta do Oficial e Cavalheiro, também não tinha idade para ver aquelas coisas que só os adultos podiam ver, mas que coisas seriam essas?

Ou então ver a Meryl Streep a fugir do Jeremy Irons em A Amante do Tenente Francês, filme que passou na RTP e de que não percebi muito mas cujas imagens da Cornualha me fascinaram para sempre.

Ou então ver os álbuns de fotografias que a madrinha recortava de jornais como o Diário Popular ou Correio da Manhã com imagens da Nathalie Wood ou Farrah Fawcett ou de filmes como Cotton Club ou Taxi Driver.

E algures em 1987 a RTP deu algumas imagens da cerimónia dos óscares, e nesse ano em que o vencedor foi Platoon, Um Quarto Com Vista Sobre a Cidade foi bastante nomeado, e arrecadou mesmo algumas estatuetas, e eu achava uma delícia sempre que diziam o nome da argumentista, um impronunciável Ruth Prawer Jhabvala, filme que terei conseguido ver alguns anos mais tarde, e que me marcou muito, me marcou como um dos primeiros filmes que vim com espanto e daquelas memórias de infância (já adolescência) e que te ficam gravadas para sempre.

Há alguns dias precisei de um livro para ler numa viagem, não sabia o que me apetecia ler, não tinha nenhum na pilha, não tinha tempo para ir a uma livraria, pelo que fui à estante e peguei num clássico que esperou pelo seu dia durante uma eternidade, Um Quarto Com Vista, do britânico Edward Morgan Forster, com vários romances também brilhantemente adaptados ao cinema.

A Room With a View é um romance ligeiro sobre costumes e boas maneiras da aristocracia rural inglesa, onde é inconcebível uma jovem querer viver sozinha em Londres e ter de carregar o fardo de andar com as chaves de casa consigo, uma jovem de boas famílias nunca abre a porta de casa, mas mais do que o humor que perpassa todo o livro, o que mais me impressionou no livro foi a forma como E. M. Forster, em 1908!!!, pode fazer tanto pela causa feminista e com tanta elegância, sem qualquer extremismo Forster escrevia que uma mulher podia ser dona da sua vontade e amar quem quisesse, isto há mais de 100 anos parece-me absolutamente extraordinário.

Li o livro de uma penada, e na mesma tarde em que o acabei fui à procura do filme para o rever, apenas recordava duas ou três cenas.

Creio que nunca antes tinha visto um filme tão pouco tempo depois de ter lido o livro, certamente que não, e ao longo do filme, que respeita em absoluto o texto original, por vezes cortaram alguns diálogos que eu tinha gostado especialmente, oh, não filmaram aquela parte, oh aquela cena faria toda a diferença, inevitável sentir isso em relação a uma experiência de leitura tão fresca, mas O Quarto Com Vista Sobre A Cidade – filme é sem dúvida uma excelente adaptação, do melhor que há, de O Quarto Com vista – livro.

O triunvirato James Ivory realizador, Ismail Merchant produtor e a dita Jhabvala argumentista deixou uma obra maravilhosa, mas deixem-me destacar também o elenco fabuloso de O Quarto Com Vista Sobre A Cidade, as rainhas Maggie Smith e Judi Dench, Helenha Bonham Carter, Julian Sands, e lá no meio de um conjunto de secundários incrível estava um jovem, e muito irritante, Daniel Day-Lewis.

 

06
Jan25

Das coisas de cinema e os Globos também falam português - Fernanda Torres

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O Globo de Ouro para melhor atriz em filme dramático fala português, a maravilhosa Fernanda Torres arrecadou a estatueta com o filme AINDA ESTOU AQUI, 25 anos após a sua mãe, a icónica Fernanda Montenegro, também ter sido nomeada pela sua interpretação em Central do Brasil, ambos filmes realizados por Walter Salles.

AINDA ESTOU AQUI estreia no dia 16 de janeiro e estou absolutamente em pulgas para o poder ver, a história verídica de Eunice Paiva, que não desiste de procurar o seu marido, ex-deputado, desaparecido durante a ditadura militar, contando com a participação também de Fernanda Montenegro, mãe de Fernanda Torres no filme e na vida real, este filme promete tanto, mas tanto.

Já tivemos portugueses nomeados aos principais prémios do cinema, os Óscares, o responsável de fotografia Eduardo Serra e os produtores da curta de animação Ice Merchants, além da própria Montenegro enquanto portadora da nossa língua, mas (se não me engano, creio que não) é a primeira vez que um prémio desta categoria consagra um falante de português.

Com todo o respeito e admiração, apetece dizer, a Nanda também é um bocadinho nossa, bravo!

 

29
Nov24

Dos filmes de que eu gosto - Blitz, de Steve Mcqueen

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Blitzkrieg é uma palavra alemã que significa guerra-relâmpago, origem do nome pelo qual é conhecido o período da história em que as cidades inglesas foram severamente bombardeadas pelas tropas nazis durante a segunda grande guerra, Blitz, que também dá nome ao título do novo filme de Steve Mcqueen.

Por aparecer em muitas listas de favoritos à nomeação de melhor filme para os Óscares, e, sobretudo, pela admiração que tenho pelo realizador (Fome, Vergonha, 12 anos de escravo, entre outros), tinha as expetativas muito em alta, e não posso de todo dizer que Blitz é um mau filme, nada disso, é um filme belíssimo, mas, admito, ficou muito aquém do que prometia, ou de que eu desejava.

No núcleo da história, uma mãe (Saoirse Ronan) tem de se afastar do seu filho de nove anos (Elliot Hefferman) quando as crianças londrinas são evacuadas à força para o campo, filho esse que ao fugir inicia uma aventura para conseguir regressar a casa da mãe e do avô, havendo depois vários temas satélite, a mãe solteira, o papel da mulher na guerra, sobretudo o racismo latente da sociedade londrina, quando estamos mais habituados ao retrato de uma sociedade progressista e multicultural aqui há racismo hostil, porque racismo há sempre, mas com uma riqueza tão grande de temas, no meio de uma reconstituição história admirável ficou tudo um bocadinho pela rama, em vez de levantar fervura ficou sempre em banho-maria.

Os atores são um deleite, mas com exceção da criança as personagens são sempre muito secundárias, o tímido Harris Dickinson (o par de Nicole Kidman no tão aguardado Babygirl) quase que não se vê, o onírico Benjamim Clementine que nos enche a alma mas desaparece logo a seguir, a própria Saoirse Ronan que encanta quando canta e dá mimo ao filho mas de quem ficamos a conhecer tão pouco.

A falta de verosimilhança nalgumas cenas é facilmente perdoada pelo tom quase poético que predomina no filme, mas no fim a profundidade e a energia visceral que Mcqueen nos costuma oferecer aqui dá lugar à ternura, Blitz é um filme muito bonito sobre a ternura, ideal, diria eu, para ver em família durante o Natal.

Na Apple TV+.

 

 

10
Mar23

Dos meus filmes - Ice Merchants

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Breves minutos de animação de traço simples, meio tosco e indefinido, cores saturadas, sonoridade musical muito envolvente, que sem nenhuma elaboração nos leva muito além do simples quotidiano repetitivo de uns bonecos que vendem gelo, leva-nos ao amor filial, ao risco da sobrevivência, à vertigem do abismo e às alterações climáticas, são breves minutos de poesia sem palavras.

Que festa seria se na madrugada de domingo recebesse o Óscar, mas a admiração e o orgulho de nós todos já ganhou.

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