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The Room Next Door era o filme por mim mais ansiado da temporada, sentei-me religiosamente no cinema na sua noite de estreia, sou um profundo admirador de Pedro Almodóvar, uma das minhas referências maiores do cinema, e venero em absoluto Julianne Moore e Tilda Swinton.
Houve uma ou outra coisa que me pareceram menos bem conseguidas, demasia de flashbacks no início muito explicativos, a personagem de John Turturro totalmente dispensável, sendo interessante o paralelismo de um cancro a uma guerra, a ponte entre o indivíduo doente e o mundo em crise, o ativismo pessimista de Turturro pareceu-me algo deslocado, a sua personagem em nada acrescenta, tal como o fanatismo religioso através do polícia foi algo colado a cuspe, mas estes detalhes em nada toldaram o filme, O Quarto ao Lado é um filme perfeito, um milagre doce, um drama delicado, silencioso e com pitadas de humor sobre a morte e a sua aceitação (ou não), é um dos filmes mais bonitos do ano.
Compreendo quem não goste do filme, estou certo que a grande maioria não gostará, mas tenho dificuldade em entender aquele jovem casal que abandonou a sala ao fim de uma hora, certamente terão escolhido o filme ao acaso, porque dificilmente os fãs da sensibilidade de Almodóvar poderão sentir-se defraudados com esta sua estreia na língua inglesa, estamos longe da intensidade, da alta voltagem, de filmes como A Lei do Desejo, Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos ou Tudo Sobre a Minha Mãe, este é um outro Almodóvar, um Almodóvar que envelheceu, que vê a morte a aproximar-se, um Almodóvar sereno, tranquilo, que olha para o passado sem ser nostálgico, que se arrepende e que o celebra ao mesmo tempo, de reconciliação, é um filme como todos os seus filmes, com uma enorme sensibilidade centrada no ser humano, que aborda questões éticas e filosóficas sobre a eutanásia, tema sempre complexo, sobre a dignidade que temos de reivindicar para vivermos a nossa própria morte como melhor entendermos, com o foco sempre subtil e delicado na pessoa humana.
Se esta transição Almodovoriana para a serenidade é inegável, os traços tão distintivos dos filmes de Almodóvar mantem-se, a força das personagens femininas, a música de Alberto Iglésias e sua assinatura visual com os vermelhos e os verdes, os amarelos e azuis, as longue chaises do deck, o guarda-roupa da Tilda, cenas de uma tremenda elegância estética, planos muito bonitos.
Leão de Ouro em Veneza, mesmo que não isento de algumas fragilidades O Quarto ao Lado, que aborda um tema pesado e pesaroso com uma doçura delicada, é um dos meus filmes do ano.
Bravo mestre! Bravo divas!