Da atualidade - o caso das gémeas brasileiras e a família do Presidente
Não me recordo facilmente de nenhum outro caso de ‘cunhas’ a que a imprensa tenha dado tanta atenção como à situação das gémeas brasileiras, o que poderá ser um sinal que estamos cada vez mais, enquanto sociedade, exigentes e sujeitos ao escrutínio, ainda bem se assim for.
Mas estamos de facto perante um episódio grave e se não fosse uma reportagem da CNN Portugal tinha tudo para passar impunemente pelos corredores da administração pública, mas agora que o caso veio a público, e que o Ministério Público já estará a investigar, é impossível que não haja apuramento de responsáveis e as sansões adequadas, não creio que seja possível que desta vez a culpa volte a morrer solteira.
Os factos serão anteriores à tomada de posse da atual Administração e Direção Clínica do Hospital de Santa Maria, mas quem à data dos factos estava em funções tem nome, e tem de prestar contas pelo que fez ou deixou de fazer, havendo aqui seguramente muitas culpas, e descaradas, no cartório – é tão grave uma direção clínica que autorizou, como uma Administração que instruiu ou, ainda, uma Administração que não implementou processos que permita que casos destes possam acontecer nas suas barbas sem o seu conhecimento, seja qual for o cenário a situação é inaceitável e irregular.
Mas se a atenção tem estado muito centrada no Hospital de Santa Maria, há uma outra vertente que também me causa estupefação e, diria eu, também merece uma investigação adequada, será que não houve mais umas quantas irregularidades quando estas crianças obtiveram cidadania portuguesa em apenas 14 dias? Desconheço a eficiência noutros casos do consulado de São Paulo, mas durante vários anos passei diariamente em frente ao consulado do Brasil em Portugal e bem via as filas gigantes dos cidadãos brasileiros que queriam obter autorização de residência em Portugal - dir-me-ão que são coisas diferentes, mas que me cheira a esturro, lá isso cheira.
Por fim, parece-me altamente discutível a forma como o Presidente Marcelo lava as mãos como Pôncio Pilatos ao dizer que a família do Presidente não foi eleita, é inquestionável a forma intransponível como Marcelo sempre separou a presidência da família, mas afirmar de forma tão categórica a sua inocência não me cai bem, posso ser só eu, admito, mas a mim soou a um sacudir a água de cima do capote de forma demasiado apressada.