Ripley pode muito bem vir a ser a melhor série de 2024, que portentosa obra-prima.
A partir do muito aclamado policial de Patricia Highsmith - ‘O talentoso Mr. Ripley’ -, tão bem e tantas vezes já adaptado ao cinema, a última das quais (que eu saiba) em 1999 pelo falecido Anthony Minghella, com Matt Damon, Jude Law, Gwyneth Paltrow, Cate Blanchett e Philip Seymour Hoffman (!!!), nesta série de 8 episódios de Steven Zaillian temos todo o tempo do mundo para testemunharmos as profundezas mais negras do ser humano, a ambiguidade de quem num momento suscita empatia e logo a seguir solta a besta inominável dentro de si, oito episódios em que estamos sempre expectantes no que pode acontecer a seguir, em que um simples ascensor dos anos 60 pode não ser só um simples ascensor, em que um gato majestoso que nos convoca com a força do seu olhar pode não ser simplesmente só um gato, onde tudo pode ser aquilo que aparenta ser ou não, onde o belo coabita sempre com o negro, são oito demorados e depurados episódios em que ansiamos por ver como a maldade displicente vai conseguir disfarçar-se sem mácula, onde nunca nos falta o ar mas estamos sempre em contenção, é a mestria em estado puro.
Não fosse suficiente a densidade com que submergimos neste policial, a qualidade dos seus atores (esta é a hora de Andrew Scott, a nova coqueluche do cinema mundial e o grande esquecido dos Óscares do ano passado), ou as músicas italianas dos anos 50, Ripley já era absolutamente imperdível pela sua esplendorosa fotografia a preto e branco, não há uma única cena que não seja de cortar a respiração, todo o requinte italiano dos anos 60, a atenção máxima em todos os detalhes, o autocarro que serpenteia na costa acidentada de Atrani, os Caravaggios e as lojas velhas de Nápoles, os Fiats nas calçadas empedradas de Roma, os sapatos Ferragamo, os cinzeiros, as villas, tudo e tudo e tudo – se eu pudesse ser turista apenas num único sítio seria certamente nesta Itália de Ripley.
Na Netflix.