Dos filmes que amamos - Debaixo das Figueiras
A principal razão de ser do cinema é criar-nos emoções, seja com blockbusters ou filmes menos comerciais, seja em policiais, documentários, comédias ou drama, se nos emociona está bom.
Uma dessas razões é também abrir-nos o mundo, dar-nos a conhecer olhares e tradições que dificilmente conheceríamos se não fosse através do grande écran.
Debaixo das Figueiras é um desses enormes filmes que nos oferece o mundo.
O realizador Erige Sehiri estreia-se com esta história de um grupo de jovens que vai apanhar figos no noroeste da Tunísia, jovens que sonham, namoriscam, se conhecem melhor, que se provocam e observam os mais velhos, jovens a quem a esperança é roubada pelo patrão explorador e pela tradição muçulmana de coartar a liberdade das mulheres, que não sabem o que é casar por amor, e que ao fazê-lo assim coarta também os rapazes.
É um filme tão delicado como o ato de apanhar figos que à menor brusquidão quebra um galho e o sustento, e ao mesmo tempo tão inclemente como o sol impiedoso que provoca desmaios em quem não tem pão ao pequeno-almoço.
Pessoalmente já visitei a Tunísia, a sua capital e as suas praias, mas Debaixo das Figueiras deu-me a conhecer um país ao qual dificilmente conseguirei ir, deu-me a conhecer as suas gentes, os seus hábitos, as suas comidas e os seus chás carregadinhos de açúcar que me arrepiava só de ver, deu-me a conhecer músicas que fiquei a ouvir até muito depois do filme ter acabado, e sobretudo fez-me emocionar lá nas alturas, com o canto sofrido duma mulher madura que não casou com o seu homem mas há de ser enterrada por cima dele, e com a alegria de ver aqueles lábios das jovens pintarem-se e os sorrisos rasgarem-se enquanto cantavam, cantavam, cantavam com a alegria da jornada terminada e a dignidade do trabalho bem feito.
Os atores, amadores, são tão bons que não parecem estar a representar, espantosos.
Vi no âmbito do festival Periferias, em Marvão, mas graças à distribuidora Nitrato Filmes vai estrear no dia 14 de setembro em várias salas do país.
Eu, que adoro figos e as minhas figueiras, adorei este ‘Sous les figues’, que maravilha.