Dos meus livros - O Perfume das Flores à Noite, de Leïla Slimani
Não partilho da opinião daqueles que consideram ‘O Perfume das Flores à Noite’ o melhor livro da franco-marroquina Leïla Slimani, a densidade e o arrebatamento das suas personagens nos seus três romances anteriores – O Jardim do Ogre; Canção Doce; O País dos Outros – não pode ser igual num livro de ensaio, mas neste exercício introspetivo sobre a solidão exigida para a arte de escrever, Slimani envolve-nos numa teia de memórias e evoca várias preocupações que a assaltam, a infância e adolescência, o pai, sempre o pai, o exílio, a orfandade de quem deixou o seu país de origem e nunca se integrou naquele que a acolheu, o próprio perfume das flores à noite, não se tratando tanto de um ensaio pesado sobre literatura, mas sobretudo um pulsar dos afetos da autora.
Lê-se de uma penada de tão fácil e imersiva que é esta escrita, mesmo que carregada de frases às quais apetece voltar várias vezes para as dissecarmos lentamente, como “a primeira regra quando se quer escrever um romance é dizer não”’ ou “o que não dizemos pertence-nos para sempre”.