Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

BURRO VELHO

BURRO VELHO

01
Mar25

Da festa dos Óscares - previsões e preferências

BURRO VELHO

Screenshot_20250227_135604_Gallery.jpg

 

Este ano a cerimónia de entrega dos Óscares, na próxima madrugada de domingo para segunda, promete, e seguramente as audiências vão aumentar.

Desde logo porque a colheita é excelente e não há claros favoritos, quase todas as categorias estão em aberto, ao contrário dos últimos anos em que tivemos de levar com os desinteressantes vencedores antecipados, Oppenheimer e Everything Everywhere All at Once, este ano vai ser torcer até à abertura do envelope.

Para aguçar o apetite temos o apresentador, Conan O’Brien, e também, porque não, a expetativa de alguns discursos, vão apenas celebrar os filmes ou vão misturar cinema com política? Creio que este ano será inevitável.

Para melhor filme, darei uns valentes saltos se ganhar o Ainda Estou Aqui, não sendo possível estou muito dividido entre Anora e O Brutalista, mas tendo que escolher, talvez Anora, que também é o meu palpite para quem vai ganhar. Além destes, apenas Conclave tem hipóteses credíveis. Dune e Wicked, a sério?

Se o favorito para realizador começa a ser o Sean Baker, para equilibrar torço então por Brady Corbet, é baralhar e escolher entre O Brutalista ou Anora. Quem faltou na corrida? Ramell Ross.

Os atores este ano são fortíssimos, se Fiennes e Chalamet são fenomenais (entre estes escolhia Fiennes pela subtileza e pela merecida consagração), mas, apesar da polémica com a IA quando fala em húngaro, este ano ninguém o Adrian Brody é insuperável. 

Nas atrizes, se a Demi Moore é a favorita, eu acho que vai haver surpresa e quem vai ganhar é a Mikey Madison, a nossa Nanda está a arrasar por Hollywood e tem algumas hipóteses, mas vai morrer na praia. Quem não quero que ganhe? Nenhuma, a não ser Madison ou Nanda. Quem devia estar nomeado e não está? Nicole Kidman e Angelina Jolie, sem qualquer dúvida, isto de serem mega estrelas não são só vantagens.

Nos atores secundários, só dá Kieran Kulkin, não venham dizer que é uma réplica da personagem de Succession, é só um prodígio, é o prémio mais previsível da noite (tão bom o Yuri Borisov).

Nas secundárias, ganha a Zoe Saldana, que está bem, mas vou torcer até ao fim pelos oito minutos de Isabella Rossellini, ou então por uma supresa chamada Monica Barbaro, Hollywood costuma gostar de surpreender nas atrizes secundárias.

Se no argumento adaptado a coisa é fácil, ganha Conclave, e não ganha mal apesar daquele final estapafúrdio - a torcer por Nickel Boys -, já no argumento original a coisa está renhida, deve ganhar Anora mas comigo muito indeciso entre O Ataque de 5 de Setembro e A Verdadeira Dor.

Por fim, melhor filme internacional? O Figo Sagrado é uma maravilha, mas a noite vai ser brasileira, que festa vai ser.

Perdedores da noite? Emilia Perez, que vai arrecadar 2 estatuetas, e o filme de Dylan que pode muito bem vir de mãos a abanar.

Voilá! É só uma festa, não mais do que isso.

 

27
Fev25

Dos filmes que adoramos - Nickel Boys, de Ramell Ross

BURRO VELHO

Screenshot_20250225_170606_IMDb.jpg

 

Nickel Boys, primeira longa-metragem de Ramell Ross baseada no romance homónimo de Colson Whitehead, vencedor do Pulitzer, é o último dos nomeados a melhor filme a estrear em Portugal (apenas em streaming), bem a tempo da noite da cerimónia.

Na Flórida do início dos anos 60, ver a amizade crescer entre dois adolescentes afro-americanos num reformatório segregacionista, onde o expectável seria ver a raiva e a violência, é comovente, e Ramell Ross vai tecendo aos poucos uma trama em que vamos percebendo a injustiça e os horrores a que estes jovens estavam sujeitos, de mansinho e sem mostrar quase nada vamos desconfiando do mal absoluto que imperava naqueles anos, mas se eram tempos em que se assassinava nas ruas pessoas como Luther King ou Malcolm X, imagine-se as atrocidades escondidas nestes lugares de ninguém.

O rendilhado do argumento e da montagem é um primor, cena a cena vamos descobrindo a história e o filme, sendo o twist final isso mesmo, um final que nos apanha de surpresa, nesse final em que também nos chocamos com imagens reais a preto e branco, num retrato da América cruel e racista que se vangloriava da chegada à lua, uma América não muito distante daquela que hoje tanto nos assusta.

Chegou-se a pensar que Nickel Boys iria estar na linha da frente na temporada dos prémios, foram muitos os editores de publicações como o New York Times ou a New Yorker que o elegeram como o melhor filme do ano, mas Nickel Boys perdeu o momentum e arrecadou apenas duas nomeações, filme e argumento adaptado - não sendo impossível que venha a ganhar nesta última categoria -, mas nomeações para realização, atriz secundária (Aunjanue Ellis-Taylor é cintilante) e montagem também seriam muito bem entregues.

Nickel Boys é amizade, é dor, é poesia, e sim, é mesmo um dos filmes mais bonitos do ano.

Na Prime Video.

 

05
Fev25

Dos filmes que adoramos - A Semente do Figo Sagrado, de Mohammad Rasoulof

BURRO VELHO

Screenshot_20250105_195723_IMDb.jpg

 

A Semente do Figo Sagrado, do iraniano Mohammad Rasoulof, é um dos melhores filmes do ano, ponto, não só pela sua fortíssima dimensão política, que nos confronta e suscita à reflexão, mas também como peça de puro entretenimento.

Numa Teerão em fogo, com as manifestações num tumulto no rescaldo do espancamento da jovem Amini, temos uma família pacata cuja paz nunca antes havia sido contestada, até ao momento em que o regime promove o pai a juiz do tribunal revolucionário e as filhas adolescentes se veem inadvertidamente envolvidas nesse turbilhão, desafiando o pai e pondo, inclusivamente, a tão desejada promoção em perigo.

Todo o filme é um choque de valores, aqueles em que o pai quer acreditar e impor, e que lhes paga as contas, diga-se, e aqueles outros em que as filhas começam a defender, a libertação moral e religiosa, o uso não obrigatório do hijab, a não aceitação de uma sociedade patriarcal e do Estado que maltrata os seus filhos, tudo isto nesta família que se desmorona, subitamente, com sofrimento e incredulidade, e de um trama algo intimista, numa luta entre gerações com apelo à desobediência, evoluímos para um thriller político que nos prende ao écran, suspensos do que vai acontecer a seguir, com um friozinho no estômago com o que vai acontecer a seguir, acabando com laivos de western e de filme de terror, uma tensão sempre constante e muito credível.

Se já estamos perante um filme extraordinário, ainda somos mais tocados pela coragem e resistência de Rasoulof, que chegou a estar detido e escapou a uma condenação de oito anos de prisão numa fuga de 28 dias, tendo atravessado a fronteira a pé, com a cópia do filme a salvar-se com muitas peripécias pelo meio, por pouco não se perdia este filme importantíssimo.

Fica aqui uma curiosidade, A Semente do Figo Sagrado, premiado em Cannes e no Leffest, é um filme iraniano, gravado em Teerão (algumas cenas de exteriores são vídeos reais das manifestações de 2022-2023), com atores iranianos, mas está nomeado ao óscar de melhor filme internacional pela Alemanha, nacionalidade de um dos produtores do filme que serviu de veículo a esta nomeação, obviamente que o filme de Rasoulof nunca seria o candidato oficial do país.

 

04
Fev25

Dos filmes que adoramos - Maria, de Pablo Larraín

BURRO VELHO

Screenshot_20250129_173540_IMDb.jpg

 

Gosto muito do realizador chileno Pablo Larraín e sempre tive uma embirração solene com Angelina Jolie, sempre a vi como uma atriz mediana, para ser simpático e não dizer sofrível.

Nas cenas em que Callas tenta regressar aos palcos é a própria Jolie que canta, teve aulas intensivas de canto durante vários meses, mas naquelas no auge da Diva é Callas quem ouvimos, Jolie faz playback, e estas cenas são confrangedoras, são terríveis, patetas, a vontade que dá é desistir logo ali de ver o filme.

Feito o disclaimer inicial e dito isto, e se conseguirmos sobreviver aos vários playbacks que vão acontecendo, MARIA é uma obra-prima, fiquei totalmente rendido.

Larraín filma a última semana de vida da grande diva da ópera, em que o mundo ainda aguardava para ver se alguma vez iria regressar aos palcos, nesses dias em que Callas já se transcendia ela própria numa outra dimensão, algures entre a tragédia e a religiosidade, quando começas a querer partir mas ainda te vais agarrando ao que podes, entre o delírio e doença, quando ainda carregas o porte altivo mas já és só alguém assustado e cuidador, uma despedida intimista e cheia de humanidade de Callas, a verdadeira diva, outrora e ainda, mau-feitio.

Angelina Jolie, magérrima, noutra personagem e com outro realizador ia parecer igual a ela própria, com cara de quem comeu e não gostou, mas aqui encarna a transcendência de Maria Callas de forma sublime, aquele langor arrastado dá-lhe uma aura mística que paira sobre tudo e todos.

Sem esquecer a amorosa dupla mordomo/governanta, com a minha Alba Rohrwacher, o filme é todo um primor de requinte, a direção de arte é notável, tal como o luxuoso guarda-roupa e a belíssima fotografia, justamente nomeada para o óscar (única nomeação).

 

28
Jan25

Dos filmes que amamos - O Brutalista, de Brady Corbet

BURRO VELHO

Screenshot_20250127_173536_IMDb.jpg

 

O Brutalista foi certamente o filme com maior duração que vá vi em cinema, e é numa sala de cinema que deve ser visto, três horas e quarenta minutos, incluindo quinze minutos de intervalo, mas para o espetador que gosta de cinema o tempo não passará a correr, porque o realizador dá-nos tempo para apreciar a evolução da narrativa e a estética do filme, mas não dará certamente pelo tempo a passar.

Brady Corbet filma a história de um jovem arquiteto húngaro que chega a Nova Iorque, nos anos 50, depois de ter sobrevivido ao holocausto, história essa com várias dimensões, a do resgatar dos fantasmas do passado, a do reencontro da família, a do sentimento de rejeição dos americanos a quem chega de fora, a do mecenas que quer fazer bonito à custa da arte, ou a do artista que não sabe bem até que ponto se tem de sujeitar para fazer valer a sua arte, tudo isto com uma estética muito minimalista, da simplicidade dos materiais em bruto, da beleza do cru, do brutalismo, precisamente, do concreto, do aço, do mármore, com cenas de pura exaltação como aquela em que se negoceia mármore em Carrara ou se explica os efeitos da luz solar no altar, é tudo muito depurado.

A força dramática do filme é subliminar, está implícita sem ser preciso explica-la, está lá, sente-se, a cena em que Felicity Jones interrompe o jantar da família Van Buren é prodigiosa, mas se a dor e a tragédia são presentes, há que não deixar parecer que são vitoriosas, sempre a dignidade de quem se reergue, muito própria de uma personagem que escapou aos nazis e agora procura afirmar-se numa comunidade que não o quer, tolera-o apenas, faltando para alguns espetadores, admito, momentos de maior galvanização, que nos agarre pelas emoções, mas O Brutalista é de uma enorme força dramática, o medo, o horror, a impotência, o abuso, o antissemitismo, a determinação, a sobrevivência, a superação, a proteção de quem gostamos, o amor aos nossos, faltará talvez um momento de catarse, mas a emoção está impregnada desde a primeira cena do filme.

Ainda não estou certo que venha a torcer por este filme na noite dos Óscares, provavelmente, O Brutalista é seguramente um dos melhores filmes dos últimos anos, mas por quem irei torcer certamente – e ainda me falta ver o filme sobre o Bob Dylan – é por Adrian Brody, a sua interpretação tem um espetro infinito, ele vagueia perdido na dor, a seguir é um poço de energia a contagiar quem o ouve, ele é um farrapo humano em degradação e a seguir é um sedutor, ele é alguém que apenas sobrevive, aqueles olhos são tudo, absolutamente gigante Adrian Brody.

 

29
Nov24

Dos filmes de que eu gosto - Blitz, de Steve Mcqueen

BURRO VELHO

Screenshot_20241128_153919_Gallery (1).jpg

Blitzkrieg é uma palavra alemã que significa guerra-relâmpago, origem do nome pelo qual é conhecido o período da história em que as cidades inglesas foram severamente bombardeadas pelas tropas nazis durante a segunda grande guerra, Blitz, que também dá nome ao título do novo filme de Steve Mcqueen.

Por aparecer em muitas listas de favoritos à nomeação de melhor filme para os Óscares, e, sobretudo, pela admiração que tenho pelo realizador (Fome, Vergonha, 12 anos de escravo, entre outros), tinha as expetativas muito em alta, e não posso de todo dizer que Blitz é um mau filme, nada disso, é um filme belíssimo, mas, admito, ficou muito aquém do que prometia, ou de que eu desejava.

No núcleo da história, uma mãe (Saoirse Ronan) tem de se afastar do seu filho de nove anos (Elliot Hefferman) quando as crianças londrinas são evacuadas à força para o campo, filho esse que ao fugir inicia uma aventura para conseguir regressar a casa da mãe e do avô, havendo depois vários temas satélite, a mãe solteira, o papel da mulher na guerra, sobretudo o racismo latente da sociedade londrina, quando estamos mais habituados ao retrato de uma sociedade progressista e multicultural aqui há racismo hostil, porque racismo há sempre, mas com uma riqueza tão grande de temas, no meio de uma reconstituição história admirável ficou tudo um bocadinho pela rama, em vez de levantar fervura ficou sempre em banho-maria.

Os atores são um deleite, mas com exceção da criança as personagens são sempre muito secundárias, o tímido Harris Dickinson (o par de Nicole Kidman no tão aguardado Babygirl) quase que não se vê, o onírico Benjamim Clementine que nos enche a alma mas desaparece logo a seguir, a própria Saoirse Ronan que encanta quando canta e dá mimo ao filho mas de quem ficamos a conhecer tão pouco.

A falta de verosimilhança nalgumas cenas é facilmente perdoada pelo tom quase poético que predomina no filme, mas no fim a profundidade e a energia visceral que Mcqueen nos costuma oferecer aqui dá lugar à ternura, Blitz é um filme muito bonito sobre a ternura, ideal, diria eu, para ver em família durante o Natal.

Na Apple TV+.

 

 

01
Mar24

Dos filmes que vejo - A Sociedade da Neve

BURRO VELHO

Screenshot_20240228_205536_IMDb.jpg

 

Em 1972, um avião que transportava uma equipa de rugby e alguns familiares de Montevideo para Santiago do Chile despenhou-se na gelada cordilheira dos Andes, sendo o filme espanhol “A Sociedade da Neve” precisamente sobre a história dos 29 sobreviventes à queda do avião da Força Aérea do Uruguai, e não sendo, na minha opinião, merecedor da nomeação para o Óscar de melhor filme estrangeiro, ainda assim este sucesso da Netflix é sem dúvida um filme bastante interessante, não tanto por ser uma espécie de documentário muito fiel ao que possa ter acontecido, mas sobretudo por nos confrontar com o dilema que todos nós sentiríamos sobre os limites éticos aceitáveis para lutarmos pela nossa própria sobrevivência, muito interessante a forma como aquele grupo se conseguiu unir de forma tão solidária perante uma situação tão desesperante.

 

02
Mar23

Dos meus filmes - Os espíritos de Inisherin

BURRO VELHO

Inisherin.jpg

À partida não estava apostava muito neste filme, as personagens apatetadas habitualmente não me entusiasmam porque roçam o abonecado, mas este Os Espíritos de Inisherin, sobre a solidão e a inocência, é uma delícia harmoniosa entre a nostalgia e o humor, com muita ternura pelas pessoas e animais, e onde todas as personagens (incluindo os secundários, os donos do bar, o polícia, a vidente, a dona da mercearia, o burro, todos sem excepção) são muito castiças e genuínas, residindo sempre muita sabedoria nos tolos da aldeia, tudo isto numa Irlanda dos nossos sonhos e com uma lindíssima banda sonora de Carter Burwell.

Com ou sem Óscares - vai falhar os principais, o Colin Farrell está bem mas por mim não chega lá, mas ficava contente se um dos supostos secundários vencesse, o Brendan Gleeson e mais ainda o Barry Keoghan ou a Kerry Condon – é um dos filmes mais bonitos e fofos do ano.

 

 

25
Fev23

Dos meus filmes - TAR

BURRO VELHO

TAR.jpg

Não agradará a muitos, mas foram quase três horas que passaram a voar de tão bom que é, que maravilha de filme, com muitas nuances e de elevada sensibilidade e inteligência (sem ser intelectualóide) – e ainda com uns pozinhos sobre a famigerada política de cancelamento dos dias de hoje. Começa num ritmo muito elevado, muito diálogo para assimilar, sobre um mundo que nos é estranho a quase todos, o erudito mundo da música clássica, mas logo entramos de cabeça na ascensão e queda daquela personagem, poderosa, manipuladora e perturbada, mas também sedutora, vulnerável e empática, por quem nunca torcemos mas também de quem nunca chegamos a detestar, apesar de ser muitas vezes uma boa cabra, nunca tomamos partido, olhamos até com compaixão para uma pessoa que faz sofrer mas que também sofre, claramente mais agressora mas também uma vítima – estava convencido que o filme era um biopic sobre uma maestrina verdadeira mas quando no fim fui à procura de saber mais sobre a Lydia Tar descobri que é totalmente ficcional, curioso. Sobre a Cate Blanchett, bastou-me 5 minutos para ter a certeza que este ano tem de ganhar o Óscar, qual Michelle Yeoh qual carapuça, sublime. Ah, e quero um loft igual àquele em Berlim.

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

Em destaque no SAPO Blogs
pub