Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

BURRO VELHO

BURRO VELHO

06
Dez24

Dos filmes que amamos - O Quarto ao Lado, de Pedro Almodóvar

BURRO VELHO

Screenshot_20241206_113542_Gallery.jpg

 

The Room Next Door era o filme por mim mais ansiado da temporada, sentei-me religiosamente no cinema na sua noite de estreia, sou um profundo admirador de Pedro Almodóvar, uma das minhas referências maiores do cinema, e venero em absoluto Julianne Moore e Tilda Swinton.

Houve uma ou outra coisa que me pareceram menos bem conseguidas, demasia de flashbacks no início muito explicativos, a personagem de John Turturro totalmente dispensável, sendo interessante o paralelismo de um cancro a uma guerra, a ponte entre o indivíduo doente e o mundo em crise, o ativismo pessimista de Turturro pareceu-me algo deslocado, a sua personagem em nada acrescenta, tal como o fanatismo religioso através do polícia foi algo colado a cuspe, mas estes detalhes em nada toldaram o filme, O Quarto ao Lado é um filme perfeito, um milagre doce, um drama delicado, silencioso e com pitadas de humor sobre a morte e a sua aceitação (ou não), é um dos filmes mais bonitos do ano.

Compreendo quem não goste do filme, estou certo que a grande maioria não gostará, mas tenho dificuldade em entender aquele jovem casal que abandonou a sala ao fim de uma hora, certamente terão escolhido o filme ao acaso, porque dificilmente os fãs da sensibilidade de Almodóvar poderão sentir-se defraudados com esta sua estreia na língua inglesa, estamos longe da intensidade, da alta voltagem, de filmes como A Lei do Desejo, Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos ou Tudo Sobre a Minha Mãe, este é um outro Almodóvar, um Almodóvar que envelheceu, que vê a morte a aproximar-se, um Almodóvar sereno, tranquilo, que olha para o passado sem ser nostálgico, que se arrepende e que o celebra ao mesmo tempo, de reconciliação, é um filme como todos os seus filmes, com uma enorme sensibilidade centrada no ser humano, que aborda questões éticas e filosóficas sobre a eutanásia, tema sempre complexo, sobre a dignidade que temos de reivindicar para vivermos a nossa própria morte como melhor entendermos, com o foco sempre subtil e delicado na pessoa humana.

Se esta transição Almodovoriana para a serenidade é inegável, os traços tão distintivos dos filmes de Almodóvar mantem-se, a força das personagens femininas, a música de Alberto Iglésias e sua assinatura visual com os vermelhos e os verdes, os amarelos e azuis, as longue chaises do deck, o guarda-roupa da Tilda, cenas de uma tremenda elegância estética, planos muito bonitos.

Leão de Ouro em Veneza, mesmo que não isento de algumas fragilidades O Quarto ao Lado, que aborda um tema pesado e pesaroso com uma doçura delicada, é um dos meus filmes do ano.

Bravo mestre! Bravo divas!

 

10
Set24

Das coisas de cinema - Pedro Almodovar e o Leão de Ouro em Veneza

BURRO VELHO

Screenshot_20240908_185220_Instagram.jpg

 

O festival de cinema de Veneza é muitas vezes diminuído face a outros certames por ser, supostamente, uma montra de filmes norte-americanos e ter-se rendido às Netflix dos dias de hoje, pois bem, a edição de 2024 parece ter sido um luxo tal a qualidade superlativa dos filmes apresentados, quer a concurso quer fora de competição.

Estou em pulgas para ver tantos e tantos filmes que passaram por Veneza, a história do Adrien Brody judeu tão mal tratado na América do pós-guerra em The Brutalist, as consequências da ditadura militar no Brasil de Walter Salles com Fernanda Montenegro e Fernanda Torres, a loucura a dois no Joker musical de Joaquim Phoenix e Lady Gaga, a executiva ninfomaníaca Nicole Kidman em Babygirl, o Queer do 007 Daniel Craig pela mão de Guadagnino, as clivagens entre pai e filho provocadas por ideologias políticas no francês Jouer Avec le Feu, a vida agitada numa aldeia remota na Itália dos anos 40 em Vermiglio, o policial pela mão de Jude Law em The Order, a Maria Callas na pele de Angelina Jolie pela lente de Pablo Larraín, a graça de Clooney e Pitt em Wolfs que ainda deve ser mais divertida do que vê-los aos 2 a desfilar na passadeira vermelha, estou verdadeiramente em pulgas para conseguir ver todas estas pérolas, mas ainda não vos falei é do filme sobre o qual conto mesmo os segundos para me sentar a vê-lo no escuro da sala de cinema, que por acaso, ou talvez não, foi o grande vencedor do Leão de Ouro de 2024.

The Room Next Door é o primeiro filme em língua inglesa realizado por Pedro Almodóvar, a roçar na temática da eutanásia e com Tilda Swinton e Julianne Moore como protagonistas, só o trailer deixa água na boca, isto deve ser tão bom, mas tão bom.

A foto partilhada faz parte da produção que este trio maravilha fez para a Vogue Espanha, absolutamente icónicos!

 

27
Out23

Dos filmes de que gosto - Estranha Forma de Vida, de Pedro Almodôvar

BURRO VELHO

WhatsApp Image 2023-10-26 at 14.17.29.jpeg

 

O fado de Amália Rodrigues, maravilhosamente cantado por Caetano Veloso, deu o título à nova curta-metragem de Pedro Almodôvar, cujo único defeito que podemos apontar é que quando termina, ao fim de uma rapidíssima meia-hora, queremos continuar a ver mais de tão bom que é.

Este western-queer, como Almodôvar o denomina, está muito longe da explosão dos seus primeiros filmes, aqui tudo é depurado, mas o detalhe, intensidade e sensibilidade são aquelas que Almodôvar sempre nos entregou, aqui o desejo e o erotismo não está na nudez dos corpos, está antes no olhar e nas palavras dos dois cowboys do deserto, cowboys que dão tiros mas que também fazem a cama e dobram impecavelmente a sua roupa interior, Estranha Forma de Vida é sobretudo sobre o amor, queer ou straight, é sobre a resposta à pergunta o que podiam fazer dois homens se decidissem viver juntos num rancho, chegando a resposta, talvez irremediavelmente tarde, mesmo no fim. Estranha forma de vida, aquela que se foge ao amor.

 

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

Em destaque no SAPO Blogs
pub