Dos lugares de que eu gosto - restaurante Fago
Marvão tem mil e um encantos, é terra encantada, e o restaurante Fago é mais um de muitos motivos que nos faz querer sempre voltar, é um restaurante de excelência.
Os outros restaurantes que encontramos dentro das muralhas têm vistas esplêndidas, o Fago tem uma única janela que dá para um muro, quem vai ao Fago vai unicamente pela experiência de saborear a comida e os vinhos que lhe são servidos, com a maior simpatia e atenção.
O menu é simples e o chef Diogo varia-o todos os dias em função dos produtos da época e do que se encontra no mercado, a aposta é em tudo o que é local e evitar o que vem de longe, o azeite, o pão, a manteiga aromatizada com a esteva da serra, a compota de figo, o borrego, a carne de porco preto de Arronches, as ervilhas, os ovos, o queijo, as cerejas de São Julião, o gelado caseiro de abóbora, e a ginjinha do Crato, minha Nossa Senhora, e eu que detestava ginjinha mas esta é de repetir várias vezes, pena ainda não se pescar bacalhau no rio Sever, mas quase só com produtos da Serra de São Mamede e do Alto Alentejo é uma festa estar ali à mesa – a carta de vinhos, também exclusiva dali com vinhos do Reguinga, do Vitor Claro, da Susana Esteban e o Dominó, tão elogiado no filme Viver Mal, é outro festival.
E onde tudo é simples e nada rococó, nada é sem requinte, o copo Costa Nova, o talher pesado e elegante, o guardanapo rosa velho num tecido de qualidade, o artesanato minimalista na parede conjugado com o candeeiro de design, tudo assente num chão artesanal, também do Alto Alentejo, que custou aos proprietários uns valentes pares de dias ali de rabo para o ar para deixar tudo num brilho.
Dizem os donos que não é um espaço a pensar nos turistas, é um espaço a pensar nos amantes da região, a pensar também nos outrora turistas mas que se apaixonaram e quiseram deixar de o ser, como o casal da mesa ao lado, a Karen e o Dick, ela Nova Iorquina, ele de Amsterdão mas há 45 anos nos States, há seis anos e meio quiseram vir para a Europa, Inglaterra não era opção por causa do Brexit, a Holanda também não, escolheram Lisboa, venderam o apartamento de Manhattan (mantêm uma casa a 100 milhas de Nova Iorque) e vieram para o Chiado, passam quatro meses por ano em Portugal, mas descobriram Marvão e apanharam o comboio até ao Entroncamento, depois até Portalegre e vieram, a viagem é linda, dizem, uma introdução de três horas ao que lhes espera, vieram e ficaram, não na quinta que queriam em Galegos, uns franceses ficaram com o negócio, mas descobriram outra ainda melhor em Alegrete, e agora vão de três em três semanas a Lisboa ver arte e conhecer restaurantes, mas o restaurante que mais gostam é o Fago, mas o que mais gostam mesmo é dos portugueses, é sem dúvida o povo mais simpático do mundo, ‘for sure, by far’, difícil é aprender português, a Karen já se desenrasca muito bem para se entender com os pedreiros das obras, para o Dick mais difícil, aprender línguas estrangeiras nos sessentas não é pera doce, a memória já falha, e a Karen até estava a ter uma noite má, na verdade até estava muito irritada, estava a dois dias de vender a empresa dela nos States e os compradores durante o jantar mandaram um email a fazer alguns pedidos adicionais, apetecia-lhe mandar parar tudo, beba mais duas ginjinhas do Crato e amanhã responde, sugerimos nós, that’s ok, disse-lhe o Dick, mas as ginjinhas beberam-se na mesma, really nice to meet you, vemo-nos em Julho, no Festival, já todos temos bilhetes comprados, não seja o Daniel parte da organização.
Como não desejar voltar e voltar?