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BURRO VELHO

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08
Mar24

Dos espetáculos de que gosto - Fuck Me, de Marina Otero

BURRO VELHO

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Desperdicei algum tempo no início de FUCK ME, espetáculo de dança autoficcional da coreógrafa argentina Marina Otero, a tentar perceber qual era a fronteira daquela lesão na coluna com a realidade (está mesmo entravada como diz estar?) e a questionar-me se a nudez em palco acrescentava alguma coisa ou se seria apenas gratuita ou para chocar, distraí-me alguns minutos com estes pensamentos e não entrei logo na peça, tão pouco o começo inusitado me prendeu de imediato, mas quando me concentrei no que estava a ver e ouvir em palco deixei-me levar por aquela torrente, um tumulto violento e uma fragilidade imensa.

Como li algures, FUCK ME alterna entre o documentário e a ficção, entre a dança e a performance, entre o acaso e a representação, e conta-nos a história de um corpo que envelheceu, que se destruiu, que secou, que se automutilou a dançar e que agora já não consegue dançar, que já não consegue nada, um corpo que mirrou e que apenas sobrevive, e que num jogo de espelhos se projeta e resolve dançar no corpo de cinco bailarinos, um corpo que se repete e que vive nos corpos desses bailarinos, causando no espetador alguma inquietação na indecisão se foca o seu olhar nos dançarinos em palco ou na dançarina que Marina Otero foi e que os écrans nos mostram por trás.

Se FUCK ME é uma história de destruição, uma história que ao invés da vitimização opta pela vingança, de uma mulher que se vinga dos homens, do avô da ditadura argentina e dos homens que a magoaram mas de quem ela soube aproveitar-se, FUCK ME é também uma história de regeneração, de renascer, mas FUCK ME é sobretudo dança, é vermos corpos fluídos a dançar, a exprimir tudo isto e sobretudo a expressaram sensualidade, corpos prenhes de uma intimidade visceral, de sexualidade, de sexo, e não, a nudez em palco não foi gratuita.

O espetáculo foi televisionado e transmitido pela RTP2 (atenção às boxes ou à RTP Play), estando eu muito curioso para ver se a experiência que sentimos ao ver no palco do CCB todo este tumulto, toda esta forma ousada e destemperada de nos escancararem a intimidade da artista, todas aquelas imagens poderosas que nos ficaram gravadas na pele, resulta igualmente no pequeno écran da televisão, ainda assim parabéns RTP por também programar espetáculos que arriscam e que são arriscados.

 

04
Out23

Da TV de que eu gosto - Portugal de ...

BURRO VELHO

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Tenho uma relação ambígua e paradoxal com o Luís Osório, acho-o conhecedor e inteligente e normalmente gosto de o ler, mas enquanto seu leitor e seguidor tenho dificuldade em levar com o seu enorme ego que não consegue disfarçar, mas nesta série documental ‘Portugal de...’, exibida na RTP2 às quartas-feiras, não é de si que se trata e sabe dar tribuna aos seus convidados, cuja escolha conhecida até agora, Martim Sousa Tavares, Joana Barrios e Tiago Rodrigues, muito revela sobre qual a portugalidade que Osório aprecia e gosta de louvar, que em grande parte é também o Portugal que eu prefiro reconhecer, um Portugal que não é aquele poucochinho de Marcelo do ‘somos fado, somos bacalhau e somos Ronaldo’, não negando que também o somos e se eu adoro fado e bacalhau, antes um Portugal citadino mas que vive melhor no campo, um Portugal culto e progressista mas que respira melhor nas suas origens, na terra, nos sabores simples de antanho, na sabedoria popular das pessoas que dizem coisas tão simples e bonitas como ‘luar de janeiro não tem parceiro, mas lá vem o de agosto que lhe dá no rosto’, de pessoas como Joana Barrios que não se conforma que em Lisboa ninguém saiba o que é a falta de água ou que todos saibamos associar os logotipos às marcas mas não saibamos associar uma folha à sua árvore.

 

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