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BURRO VELHO

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09
Jul25

Das séries de que gosto - Reservado (Secrets We Keep)

BURRO VELHO

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Está para acontecer a primeira vez em que eu não goste de uma série escandinava, é certo que não vejo assim tantas quanto isso, mas ainda não vi uma de que não tenha gostado.

“Reservado” (Secrets We Keep, título em inglês), é uma minissérie de seis episódios sobre um crime, uma história clássica em que alguém morre e há uma verdade a descobrir, em que progressivamente a tensão e o número de suspeitos vão aumentando, até sermos levados a um ponto de rebuçado em que queremos ver o mais rápido possível e descobrir o culpado (não importa em que ponto é que descobriste, no caso acho que se descobre muito perto do final).

Em cima disto temos personagens bem construídas, casas de sonho, vidas invejáveis e uma Dinamarca sempre atraente, lá onde a ética existe e as instituições funcionam, lá onde sob a capa da solidariedade e do ‘somos bonzinhos’ as famílias recebem au-pairs de países como as Filipinas (o meu conhecimento sobre as au-pairs ficou nas aulas de inglês do 2º ciclo), que mais do que meninas de companhia dos filhos privilegiados são verdadeiras escravas de limpeza.

Muito boa esta minissérie, vê-se numa penada.

Na Netflix.

 

19
Jun25

Das séries de que gosto - The Pitt

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The Pitt é uma série dos diabos, eu que sou sempre muito disciplinado e sou daqueles que vejo um episódio de cada vez, aqui não resisti à necessidade sôfrega de ver mais e mais.

The Pitt é um misto de ER – Serviço de Urgência (com os mesmos produtores e protagonista, Noah Wyle) e 24, cada episódio, de duração aproximada de uma hora, corresponde ao tempo real da narrativa, temos, portanto, 15 episódios que correspondem à duração de um turno de 15 horas do serviço de urgência de um hospital de Pittsburgh.

A fórmula das séries de hospitais é sempre vencedora para quem aprecia o género, The Pitt não segue os cânones, desde logo pela tensão que trespassa para nós, ficamos completamente em suspenso daquelas personagens, tal o grau de verosimilhança dos procedimentos que vamos vendo, bem como o ritmo frenético do desenrolar de situações, tudo isto carburado pelas muitas histórias colaterais que vamos testemunhando, umas com arcos narrativos maiores, outras mais subtis, mas sempre muito credíveis e capazes de prender a nossa atenção.

E é inevitável a homenagem aos médicos e enfermeiros que vivem sob grande pressão num serviço de urgências, muitas vezes claudicando, vulneráveis, outras fortes e frios, mas sempre comprometidos em salvar o doente, mesmo que tal os prejudique forte e feio, uns verdadeiros heróis - por coincidência, esta manhã cruzei-me com a jovem médica que há dez anos atrás me fez sofrer desmesuradamente, com toda a incúria e insensibilidade deste mundo, numa noite de urgência, mas essa será a exceção que confirma a regra (e eu portei-me bem e não me atirei ao seu gasganete, claro).

No meio de tanta adrenalina e de histórias pessoais, The Pitt lança ainda inúmeras pistas de reflexão, que na América atual não é coisa pouca, é coisa muita, a racialização dos cuidados, as restrições ao aborto ilegal, o consumo de drogas, a obesidade, a barreira linguística, as horas de espera, os tiroteios em massa, o fanatismo religioso, e até a questão das vacinas nestes tempos de horror com o tal de Robert Kennedy Jr. aos comandos da saúde daquelas bandas.

Podem dizer que é uma série leve mas do melhor entretenimento que há, como preferirem, que tem algumas incoerências e é muito hiperbolizada, concedo, mas The Pitt é uma série mesmo muito muito boa.

Na Max.

 

05
Jun25

Das séries de que gosto - The Studio

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Não sei se Seth Rogen é um grande ator, parecia vir desbaratando um início promissor de carreira com comédias baratuchas, e continuo sem saber porque a sua personagem em The Studio cai-lhe tão na perfeição, está-lhe tão colada à pele, que nem parece estar a representar, com uma candura e um amor ao cinema verdadeiramente tocantes.

The Studio, produzida também pelo próprio Rogen, é uma paródia sarcástica dos corredores da indústria de Hollywood, uma comédia que desmonta alguns dos mitos que temos sem nunca roubar o brilho e a magia pelo mundo dos filmes, mesmo que a realidade seja bem menos dourada do que as estatuetas dos Globos de Ouro – o oitavo episódio sobre a festa dos Globos é hilariante, diga-se.

Quem não se interessar de todo pelos meandros do cinema não deve achar grande piada, é difícil apanhar todas as piadas e referências cinematográficas, a maioria ter-me-ão passado certamente despercebidas, mas The Studio é uma deliciosa comédia, daquelas que faz efetivamente rir, mesmo que o cinismo daquele mundo que nós amamos seja despencado mesmo à frente do nosso nariz.

O elenco é notável, quer os atores que estão a desempenhar personagens fictícias, como as brilhantes Catherine O’Hara ou Kathryn Hahn, ou os famosos que aparecem a fazer de si próprios como Martin Scorcese ou Zoe Kravitz.

Na Apple TV+.

 

13
Mai25

Das séries que eu vejo - Severance

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Não costumo ser fã de séries, filmes ou livros sobre distopias ou ficção científica mais psicológica, mas decidi-me a ver Severance quando saiu a segunda temporada (três anos depois da primeira) e o coro de críticas foi unânime e super entusiasta, a melhor série dos últimos anos, a mais inteligente, a mais complexa, a mais tudo e tudo, pelo menos até à Netflix ter lançado Adolescense.

 Vi as duas temporadas já existentes de empreitada, não verei a terceira.

Já admiti que o problema sou eu, consigo perceber aqueles que lhe tecem os maiores elogios, é bastante criativa, não me recordo de ver nada parecido, os planos da realização são prodigiosos, toda a estética é muito apelativa, o Adam Scott e companhia são todos ótimos, a temática promete, a manipulação das grandes empresas capitalistas, o fanatismo religioso, o trauma, tudo parece ser muito profundo e dado a grandes reflexões, mas quase nada resulta, para mim foi (quase) tudo um grande aborrecimento (apesar de pérolas deliciosas, como quando vemos o Mr. Milchick numa coreografia dançada absolutamente hilariante) - no total de 20 episódios só não adormeci nos últimos de cada temporada, e eu nunca adormeço a ver séries.

Um dos meus problemas com este tipo de séries, sobre realidades distópicas, é que com a desculpa de o argumento ser super criativo, inovador, complexo, inteligente e profundo, as coisas podem ser só tolas e não ter nexo nenhum, o texto pode estar cheio de incoerências e nada se explicar, porque a nossa inteligência e imaginação tudo explicam, mas comigo esta receita dificilmente funciona.

Não nego que os finais foram em ambas as temporadas entusiasmantes, mas antes tivemos nove episódios para encher tripa, quase sempre num impasse sem saber para onde queriam ir - ah, a isso chama-se mistério, dirão alguns -, se eu quiser ser mais benevolente nove episódios a preparar o final apoteótico, sendo verdade que não consegui desistir na expetativa do que iria acontecer a seguir (o que só por si já tem mérito), mas no final o balanço soube a muito pouco, a pouco mais do que um pastelão pomposo a querer impressionar com tanto virtuosismo.

 

01
Abr25

Das séries que eu adoro - Adolescência

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Se fosse comprar um telemóvel para o meu filho de 13 anos, a primeira coisa que lhe diria é: este telemóvel não é teu”, citação de Álvaro Bilbao, conceituado neuropsicólogo espanhol com várias publicações sobre a temática das famílias e saúde.

Não tenho memória de tanta unanimidade em torno de uma série, ADOLESCÊNCIA, minissérie de apenas quatro episódios, tem vindo a ser considerada por muitos como a melhor série do ano, porque muito provavelmente será mesmo a melhor série de 2025.

Impõe-se falar da qualidade propriamente dita da série, e do seu impacto em quem a vê.

Não sendo propriamente uma originalidade, cada um dos quatro episódios, com duração aproximada de uma hora, foi filmada em plano sequência, ou seja, em contínuo, sem interrupções, um pouco como se estivéssemos a assistir a uma peça de teatro, conseguindo assim que o espetador mergulhe para o meio daquelas personagens, estamos ali no meio deles, somos testemunhas ao vivo do que está a acontecer, um prodígio de realização – reparem, sempre que houve necessidade de filmar de novo alguma cena tiveram de filmar tudo desde o princípio.

E a qualidade dos atores? Apetece dizer, c’os diabos, genial. Todas as interpretações são fulgurantes, mas não há como destacar duas, o eterno secundário Stephen Graham (e também criador da série) que dá corpo ao pai, e o jovem Owen Cooper na pele do adolescente, um jovem que até aqui nunca havia pensado ser ator, simplesmente colossais.

E quanto ao impacto da história em si? Com ou sem adolescentes em casa, é impossível não sentir uma forte comoção, o silêncio é absoluto enquanto vemos cada episódio, não há como nos distrairmos com o drama desta família, que pode tão bem ser o drama de qualquer família.

Com esta história de um rapaz de 13 anos acusado de assassinar uma rapariga (não há aqui spoiler, esse facto é-nos dado a conhecer logo nos primeiros cinco minutos), somos confrontados com a forma como desconhecemos os nossos filhos, como não sabemos o que se passa dentro do quarto e dos seus telemóveis, como as redes sociais e as influências tóxicas e misóginas estão a aumentar, de forma tão preocupante, a violência entre os jovens.

A realidade digital destes jovens é desconhecida para os pais, algo tão simples como a linguagem dos emojis, pais que se empenham em oferecer smartphones topo de gama aos filhos e que depois não têm a noção da personalidade que os filhos estão a desenvolver, os nossos filhos amorosos e exemplares sempre bem comportados na segurança do quarto, a forma inconsciente (e negligente) como os pais transferem a educação das crianças para o perigo dos influencers, tudo isto é muito perturbador, porque pode acontecer connosco, porque uma vida feliz de repente pode ficar virada de pantanas.

Em Adolescência não há juízos de valor, não há condenações sumárias nem certo e errado, há alertas, muitos alertas.

O governo britânico fez muito bem ao decidir que Adolescência deve ter visualização obrigatória nas escolas do Reino Unido, é fundamental que os pais e os filhos conversem sobre isto, que encontrem as suas estratégias, citando alguém no rescaldo da série, precisamos de pais presentes e não de pais perfeitos.

E voltando ao início desta publicação, que os pais de adolescentes reflitam bem quando, e como, hão de entregar um telemóvel às suas crianças.

Brilhante. Obrigatória.

Na Netflix.

 

 

14
Fev25

Das séries de que gosto - Shogun

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Shogun é uma multipremiada série histórica dos tempos feudais do Japão, algures no início do século XVII, numa altura que os portugueses já lá andavam a evangelizar a sua fé e a carregar os seus navios o mais que podiam, sendo fundamental para isso que escondessem os tesouros do Japão do resto da Europa.

Para além do interesse de ver o papel (pouco simpático) dos portugueses e do catolicismo na história nipónica dos séculos XVI e XVII, Shogun centra-se numa guerra pelo poder entre meia dúzia de samurais, e os seus exércitos, até ao herdeiro do líder supremo poder assumir o comando do Japão, numa sociedade comandada pelo homem mas em que a mulher não é secundarizada, exemplo disso o destino da personagem de Mariko Sama no penúltimo episódio.

A realização, os textos, a direção de arte, guarda-roupa, a fotografia, tudo é absolutamente exímio, um esplendor, mas se às vezes se torna cansativo tentar fixar os nomes difíceis de tantas personagens, até mesmo algo maçador com tanto sangue a jorrar e cabeça decapitada, Shogun dá-nos a ver como o código de honra dos nipónicos, que tanto admiramos, já vem de tempos ancestrais, num cenário muito bélico impera o respeito, a ordem, o silêncio, o belo, estes japoneses são mesmo uma inspiração para nós ocidentais.

O tom emocional de Shogun é sempre muito contido, o ambiente de guerra e a cultura nipónica assim o recomenda, nos primeiros oito episódios não há espaço para grandes arrebatamentos nem estados de alma, mas o nono, e penúltimo, episódio entrega-nos toda a intensidade que antes nos poderia ter faltado, para acabarmos no último episódio sem estrondo e com poesia, uma mulher sozinha conseguiu aquilo que um exército inteiro não foi capaz.

Como curiosidade, Shogun, falada em japonês e com as personagens portuguesas a falarem em inglês, conta com a participação de vários atores portugueses.

Na Disney +.

 

22
Jan25

Das séries de que gosto - Fleabag

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Há anos e anos que queria ver esta série, Fleabag, uma comédia estreada em 2016 com poucos episódios que se veem num ápice.

Fleabag é uma série profundamente feminista mas nada feminina, nenhuma das personagens é simpática, todas têm um lado muito negro, mas estamos sempre a torcer pela protagonista, cínica, irónica, quase intragável, viciada em sexo mas frustrada sexualmente, sem horizontes profissionais, mal amada pelo pai, com uma relação conturbada com a irmã e a viver um profundo luto, sem nunca nos rirmos à gargalhada das situações mais incómodas consegue sempre um humor finíssimo.

Se a autora e protagonista Phoebe Waller-Bridge é simplesmente genial, no meio de um elenco muito sólido temos como bónus dois dos atores que mais admiro nos dias de hoje, Olivia Colman e Andrew Scott.

Fleabag é humor requintado, negro e subtil, fantástica. Na Prime Video.

 

10
Jan25

Das séries de que gosto - Families Like Ours

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Estamos habituados a que os refugiados venham de longe, tenham uma cor de pele mais escura e sentimo-nos pouco ligados a eles social ou afetivamente - e se fossem ocidentais como nós, louros, simpáticos, donos de casas fantásticas e de carros de fazer inveja?

E até que ponto, nós, pessoas de bem, aos nossos olhos pessoas de bem, conseguimos ser empáticos, solidários e éticos uns com os outros quando a nossa sobrevivência é ameaçada?

Em Families Like Ours, série realizada pelo consagrado realizador dinamarquês Thomas Vittenberg, o governo dinamarquês ordenou a evacuação do país porque a subida iminente das águas do mar vão deixar a Dinamarca submersa, a partir daí é um salve-se quem puder, acompanhando ao longo de sete episódios a saga de uma família, numa história comovente e perturbante que nos faz pensar, desconfortável por vezes, a angústia de esperar pelo episódio da semana seguinte para perceber como é que aquelas personagens, que podíamos ser nós, se vão safar.

Vittenberg disse que Families Like Ours “é uma espécie de declaração de amor ao que temos, à nossa cultura e à forma, como seres humanos, …, da Europa Ocidental, reagíamos se fossemos nós os refugiados e não eles”, seria muito bom se Families Like Ours contribuísse, nem um bocadinho que fosse, para todos fazermos a nossa parte, pelo menos para aprendermos em comunidade a não ostracizar quem vem, porque um dia podemos ser nós.

Na TV Cine.

 

03
Jan25

Das séries de que gosto - Black Doves

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Thriller de espionagem na alta política de Londres, com cenas de tiros e pancadaria mais divertidas e coreografadas do que verosímeis, e em que durante seis episódios super enxutos, sem qualquer cena a mais ou aborrecida, mais importante do que saber se iam conseguir escapar com vida ou descobrir quem é o vilão era a densidade emocional da dupla de espiões, keira Knightley absolutamente carismática enquanto mulher de ministro há muito infiltrada, e Ben Wishaw, dono do olhar de assassino apaixonado mais meigo e sofrido que há alguma vez me recordo ter visto no écran (e fora dele também, que não costumo ver olhares de assassinos), que maravilha.

Na Netflix.

 

27
Dez24

Das minhas séries preferidas de 2024

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O meu Top 10 de séries de 2024:

1 - Ripley

2 - A Amiga Genial (T3 e T4)

3 - The Bear (T3)

4 - Baby Reindeer

5 - Industry (T3)

6 - Black Doves

7 - Disclaimer

8 - Families Like Ours

9 - Eric

10 - True Detective - Night Country

 

(menções honrosas: The Crown; Becoming Karl Lagerfeld; Hacks; Love & Death; Feud: Capote vs The Swans)

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