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BURRO VELHO

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28
Jan25

Dos filmes que amamos - O Brutalista, de Brady Corbet

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O Brutalista foi certamente o filme com maior duração que vá vi em cinema, e é numa sala de cinema que deve ser visto, três horas e quarenta minutos, incluindo quinze minutos de intervalo, mas para o espetador que gosta de cinema o tempo não passará a correr, porque o realizador dá-nos tempo para apreciar a evolução da narrativa e a estética do filme, mas não dará certamente pelo tempo a passar.

Brady Corbet filma a história de um jovem arquiteto húngaro que chega a Nova Iorque, nos anos 50, depois de ter sobrevivido ao holocausto, história essa com várias dimensões, a do resgatar dos fantasmas do passado, a do reencontro da família, a do sentimento de rejeição dos americanos a quem chega de fora, a do mecenas que quer fazer bonito à custa da arte, ou a do artista que não sabe bem até que ponto se tem de sujeitar para fazer valer a sua arte, tudo isto com uma estética muito minimalista, da simplicidade dos materiais em bruto, da beleza do cru, do brutalismo, precisamente, do concreto, do aço, do mármore, com cenas de pura exaltação como aquela em que se negoceia mármore em Carrara ou se explica os efeitos da luz solar no altar, é tudo muito depurado.

A força dramática do filme é subliminar, está implícita sem ser preciso explica-la, está lá, sente-se, a cena em que Felicity Jones interrompe o jantar da família Van Buren é prodigiosa, mas se a dor e a tragédia são presentes, há que não deixar parecer que são vitoriosas, sempre a dignidade de quem se reergue, muito própria de uma personagem que escapou aos nazis e agora procura afirmar-se numa comunidade que não o quer, tolera-o apenas, faltando para alguns espetadores, admito, momentos de maior galvanização, que nos agarre pelas emoções, mas O Brutalista é de uma enorme força dramática, o medo, o horror, a impotência, o abuso, o antissemitismo, a determinação, a sobrevivência, a superação, a proteção de quem gostamos, o amor aos nossos, faltará talvez um momento de catarse, mas a emoção está impregnada desde a primeira cena do filme.

Ainda não estou certo que venha a torcer por este filme na noite dos Óscares, provavelmente, O Brutalista é seguramente um dos melhores filmes dos últimos anos, mas por quem irei torcer certamente – e ainda me falta ver o filme sobre o Bob Dylan – é por Adrian Brody, a sua interpretação tem um espetro infinito, ele vagueia perdido na dor, a seguir é um poço de energia a contagiar quem o ouve, ele é um farrapo humano em degradação e a seguir é um sedutor, ele é alguém que apenas sobrevive, aqueles olhos são tudo, absolutamente gigante Adrian Brody.

 

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